Uma prova onde a superação é primordial para todos os participantes, algumas histórias vividas durante a disputa evidenciaram ainda mais essa condição no 13º Desafio Onbongo Volta à Ilha de Santo Amaro de Canoas Havaianas. A mais longa prova de canoagem do Mundo foi disputada neste sábado (12), na Baixada Santista, e o que já seria difícil normalmente ganhou maior proporção devido às situações e cenários enfrentados.
Personagens e histórias de superação marcaram a competição. No final, os resultados ficaram como “segundo plano”, diante da festa feita por todos que completavam a disputa, com 75 km de percurso, com remadas no mar, com ondas, e no rio, com correnteza contra, tornando o que já era duro, ainda mais complicado.
Já no início um grande momento de emoção, na famosa e tradicional “roda de energia”, reunindo todos os remadores antes da largada para o famoso grito de incentivo. O organizador Fábio Paiva, dessa vez, pediu licença para homenagear o ciclista de ultradistância Claudio Clarindo, que morreu tragicamente atropelado na estrada, e que também era praticante e admirador das canoas. “Foi emocionante. Senti que naquele momento ele estava nos acompanhando, torcendo por todos”, disse Fábio.
Entre os destaques, menção para o jovem Guilherme Cunha, da equipe ATR Loucaos Junior, que aos 13 anos se tornou o mais jovem atleta a completar o evento. Judoca, super campeão de stand up paddle, inclusive no exterior e em nível mundial, o até tímido competidor enfrentou mais um desafio na vida. A própria equipe recebeu um troféu da organização, por ser composta por atletas dos 13 aos 18 anos e ainda garantir o importante décimo lugar geral.
(Chegada da equipe Haleakala, primeira colocda no feminino – imagens Julia Alonso):
Vindo de uma história de superação na família, Gui tem o incentivo incondicional do pai, Rogério Cunha, e fez bonito na equipe comandada pelo também atleta de Sup, Marinho Cavaco. “Foi uma experiência inesquecível. Minha primeira vez em um esporte coletivo. Sem meus companheiros seria impossível concluir. Deu vontade de chorar terminar os 75 km, porque tinham pessoas que não acreditavam que éramos capazes e iríamos quebrar no meio da prova, mas acho que provamos que somos o futuro do esporte”, disse Gui.
Mas sem dúvida o grande momento do evento foi a força da equipe master Smiles Mauna Loa, de Niterói. Os campeões da edição de 2014 (tanto na open quanto na master) fizeram valer o espírito de grupo, de superação, a sinergia na canoa, sempre evidenciados na modalidade. O time remou sem o barco de apoio por mais de sete horas, sem fazer revezamento, com a vontade de completar o desafio.
Com menos de 40 minutos de prova, o barco de apoio, que levava água, mantimentos e os três atletas que revezariam durante todo o percurso, quebrou e ficou à deriva, sendo resgatado pelos bombeiros. Os seis integrantes na canoa não souberam do ocorrido e continuaram em busca de uma nova vitória. Mas a falta do apoio foi sentida mais à frente e o desgaste foi aumentando.
“Uns 20 minutos depois da troca, começamos a sentir a falta do barco de apoio. Uma equipe feminina que acabou nos passando, percebeu e, gentilmente, nos cedeu água. Um tempo depois outra embarcação fez o mesmo. Continuamos no mar com a esperança que o nosso barco pudesse retornar à prova e finalmente pudéssemos descansar”, contou o capitão da equipe, Mario Figueiredo.
Junto a isso, somou-se uma estratégia de prova que acabou não dando certo. A amarração do ama (suporte lateral que dá estabilidade à canoa) tornou a embarcação instável, causando cinco viradas, mais um fator que gera desgaste físico e até emocional. “Erramos na montagem e deixamos o ama muito agressivo”, comentou.
A “saga” continuou até o segundo trecho da prova no Canal de Bertioga. “Muito cansados, conseguimos um pouco de comida, algumas barrinhas e bananas, também água e Coca-Cola. Paramos uns cinco minutos e voltamos a remar, com a esperança de encontrar nosso barco. Começamos a remar mais forte e sem a preocupação de proteger o ama (para a canoa não virar novamente)”, contou.
Algum tempo depois, receberam a informação de que estariam sozinhos até o final, sem apoio, mas que poderiam continuar caso aguentassem. “Também soubemos que estávamos em terceiro na nossa categoria e nessa hora começamos a remar mais forte. Porque começamos a ter ideia da dimensão do que estávamos realizando. Superamos nossas dores e continuamos. Quando avistamos a praia, foi uma sensação boa de dever cumprido. Desistir jamais. Valeu muito a pena”, vibrou Mario.
Junto com Mario, remaram praticamente toda a prova, Dornelas, Marcio, Edson, Waltinho e Glick e completaram o time Manel, Fabinho e Bruno (impossibilitados de fazer o revezamento). “Essa prova por si só já é a mais emocionante do Brasil. Completar dessa forma é indescritível. Foi melhor do que ganhar em 2014”, completou Mario.
Além deles, destaques, também, para as equipes exclusivamente femininas, a Haleakala, vencedora e 15ª no geral, e a ATR Ohana Divas, vice e 17ª entre todas. Completando a lista, a equipe Ava Canoeiros do Paranoá, de Brasília. Como se já não bastasse treinar só em lago e tendo de enfrentar grandes ondulações, tiveram o “ama” rachada e foram obrigados a desistir da disputa ainda na primeira metade do percurso.
“Faz parte. Estava entrando muita água na canoa e com as tentativas de desvirar o ‘ama’ acabou rachando. Mas bola para a frente e ano que vem voltamos para completar essa grande prova”, comentou o capitão da equipe Kenny Souza.
No individual, nomes como Alemão de Maresias, conhecido waterman, que competiu e vibrou muito com seu desempenho na equipe mista Ohana Paddle Club Ilhabela, formada por Marcelo Dias, responsável por um trabalho muito bom no litoral norte paulista; também Luiz Guida, o Animal, sem dúvida, um dos maiores remadores de stand up do Mundo, Carmen Lucia Sanches, nome famoso nas corridas de aventura; Sérgio Prieto e Everdan Riesco, presentes na prova desde a edição inicial.
CARLA GRECO – Longe das remadas (mas já foi competiu nas canoas havaianas muito bem) esteve Carla Greco, incansável na organização, preocupada com cada detalhe, sobretudo a segurança dos atletas. “Ela foi fundamental para que tudo desse certo, que o evento seja elogiado por todos e que continue crescendo. Esse ano, aumentamos de 14 para 21 canoas, um grande desafio e ela sempre à frente de tudo. É a alma do evento”, disse o organizador e marido, Fábio Paiva, também agradecendo o fundamental trabalho dos staffs, posicionados em cada embarcação. “Pessoas que batalharam muito, se doaram, se preocuparam, para mais esse sucesso”, completou.
O evento, além de difundir a modalidade e criar novos adeptos e fãs, teve um papel social. Em todas as edições, há o projeto solidário, com as equipes colaborando para alguma entidade. Esse ano, a beneficiada foi a Abraccii – Associação Brasileira de Apoio e Combate ao Câncer Infanto-Juvenil e foram arrecadas 240 latas de Sustagem Kids. A “campeã” do Projeto Solidário foi a SPVa’a, equipe master da capital.
Em funcionamento desde 2 de junho de 2014, a Abraccii é uma instituição sem fins lucrativos, que apoia crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de idade portadoras de câncer e presta assistência por meio de doações de cestas básicas e suplementos; ajudando na garantia de tratamento de crianças e jovens da Baixada Santista. Atualmente, a entidade trabalha com o foco na fundação da primeira Casa de Apoio e Hospedagem da Baixada Santista, onde pacientes e mães terão um lugar confortável e com atividades, proporcionando um atendimento humanitário e, sobretudo, suficiente para ajudar na melhora no tratamento contra a doença.
O 13º Desafio Onbongo Volta à Ilha de Santo Amaro de Canoas Havaianas teve os patrocínios de Caiaques Opium Hightec, Onbongo, Embraport e Farma Conde. Apoio: Semes (Promifae), Prefeitura Municipal de Santos, FMA Notícias, 98 FM, Vit Shop, Panificadora Rainha da Barra, Thiago Árias Personal Studio & Pilates, IDK – Instituto DAKPA, Capitania dos Portos, Praticagem e Corpo de Bombeiros. Organização da Canoa Brasil, com supervisão da Abracha – Associação Brasileira de Canoa Havaiana.
RESULTADOS DE 2016
1. Poseidon – 6h16min16s
2. YCP Koa Va’a – 6h21min57s
3. Matero (mista 1ª) – 6h37min29s
4. Floripa Va’a – 6h41min05s
5. ATR Hoe Mana – 6h44min25s
6. Brucutus – 6h46min41s
7. Bahia Va’a Salvador – 6h48mn48s
8. Tios Floripa Va’a (master 1º) -6h53min42s
9. Ohana Paddle Club Ilhabela (mista 2ª) 6h54min02s
10. ATR Loucaos Va’a Júnior – 7h04min04s
11. Kimi (mista 3ª) – 7h06min12s
12. Hoa Aloha – 7n08min21s
13. Wa’a Lost Canoa Brasil – 7h17min27s
14. SP Va’a (master 2º) 7h18min59s
15. Haleakala (feminina 1ª) – 7h30min52s
16. ATR Hoe Mana (mista 4ª) – 7h31min10s
17. ATR Ohana Divas (feminina 2ª) – 8h06min07s
18. Smile Mauna Loa Niterói (master 3º) – 8h11min32s
Não completaram:
· Smile Mauna Loa Niterói (mista)
· Raglan Vit Shop (master)
· Ava Canoeiros do Paranoá Brasilia (open)