Ação e reação

Bali acerta as contas

Mikala Jones, Secret, Bali, Indonésia

Havaiano Mikala Jones se posiciona para percorrer mais um canudo balinês. Foto: Yasminka / DreamDeliver.com.

Imaginem centenas de surfistas ansiosos, quase desesperados, esperando o tal swell prometido e previsto. Depois de 15 dias de espera, o que nos restava era acreditar na lua cheia que entraria na segunda-feira. Dito e feito. Noite linda com a lua iluminada, perfeito para descansar e se preparar para o outro dia.

 

Clique aqui para ver as fotos

 

Pela manhã, altas ondas quebravam por toda costa balinesa. Resolvemos checar um secret ao lado Leste da ilha. Não sabíamos o que encontraríamos, afinal tinha um tamanho e nunca havíamos surfado neste pico com esta condição.

 

Chegando lá, vimos umas poucas cabeças na água e os surfistas estavam posicionados em um lugar perto demais da bancada para ter altas ondas. Olhamos mais à frente, logo vimos uma onda rápida e tubular sendo surfada por um cara muito habilidoso.

 

Era a certeza rolando na nossa frente. O secret aguentava um swell grande. Nos trocamos na mesma velocidade daquelas ondas. Quase chegando no pico vimos aquele cara de novo dropando e botando
pra dentro em um tubo quadrado.
 
Quando ninguém tinha mais esperanças de vê-lo sair, um spray fortíssimo o ejetou da onda com força total.

Nem mais um segundo se passou para remarmos em direção a aquela onda. Um quebra coco sinistro nos aguardava antes de chegarmos ao pico e nos darmos conta de que aquele cara habilidoso, nada mais era do que o havaiano Mikala Jones.

 

Mal tive tempo de sentar na prancha e respirar, quando aquele havaiano mau-encarado virou e me falou: “Lá no meio está bem melhor pra bodyboard, vai pra lá, está bem melhor”. Por um instante meu sangue ferveu, mas a vontade de permanecer ali e tentar a sorte em uma daquelas ondas falou mais alto.

 

Fiquei calma, mas bem pertinho dele. A série apontou no horizonte e já estava claro, eu teria que remar de
igual pra igual se quisesse pegar uma. Ela veio, dropei e percebi que não teria chance de cavar, era colocar
pra dentro e ver no que daria.

 

Já tive a sorte de pegar a onda, sair já eram outros quinhentos. Pude notar o peso daquelas ondas e o quanto estava seco. Voltei para o pico com aquele mix de adrenalina e tensão, por causa daquele havaiano
de poucos amigos.

 

Tentava me focar no surf, até que vejo ele vindo em uma onda muito boa, mas um lip cavernoso atingiu sua cabeça em cheio, não dando chance alguma a ele. Vaca!

 

Ri por dentro e pensei, será que voce não sabe que aqui é a terra do Karma? Karma é aquela lei que ajusta, sabia e inteligetemente, o efeito a sua causa. Karma significa ação e tanto na religião, quanto na física expressa a mesma coisa, toda ação tem uma reação.

 

Pensei que jé estavamos quites, ele havia me mandado longe (ação) e a onda já havia o acertado (reação), mas eu estava errada. Surfei mais algumas ondas e continuava tentando afastar aquele sentimento de vingança. Não conseguia! Veio uma linha perfeita, daquelas que tem toda pinta que vai abrir inteirinha.
 
Dropei. Ela secou de um jeito surreal. Tubo e mais a frente uma saída estreita. Optei por sair por dentro da onda, o que não foi a melhor escolha. Aquela massa d’água me pegou, me arremessou de costas direto pro
coral.
 
Fui arrastada por alguns instantes até carimbar novos arranhões no meu corpo. Mesmo sem eu querer o mar me expulsou. Chegando na praia, logo em minha frente estava o tal cara habilidoso. Sem pensar fui ao seu encontro, pedi licença e comecei a falar.

 

Deixei aquele discurso ir em frente sem pausas, falei até esvaziar minha alma. No final arrematei falando que ele era o cara, o cara que saiu do tubo mais deep que eu já havia visto, o cara que colocou um sorriso de lado a lado na minha boca quando saiu daquele canudo impossível.

 

Ele sorriu e apertou minha mão, só então eu me lembrei da dor que estava sentindo por causa da pancada na bancada (reação).

 

Paguei meu Karma e por alguns dias sentirei na pele a lei que impera não só aqui, mas em todo mundo.

 

Faça o bem para colher o bem!

 

Exit mobile version