Apesar dos problemas, ainda é possível encontrar ondas perfeitas e vazias em Bali. Foto arquivo: Guto Amorim / Superbank Images. |
Depois do atentado terrorista de 2002, quando morreram mais de 300 pessoas na boate Sari Club, Bali não é mais a mesma.
O turismo, maior fonte de renda da ilha, sofreu uma queda brusca e conseqüentemente, aumentaram a corrupção, roubos e prostituição.
No ano passado, o atentado ocorrido na Baía de Jimbaram foi o golpe final. De acordo com Alex Cohen, assíduo freqüentador de Bali há mais de 15 anos, a ilha perdeu o glamour.
Visual de Bingin, um dos tradicionais picos da ilha. Foto: Sebastian Imizcoz. |
As lojas de cangas e artesanatos estão perdendo a disputa. Legian, principal avenida da cidade, permaneceu vazia durante toda a temporada e os balineses têm sua renda tomada por indonésios de outras ilhas.O crowd então, nem se fala, aumentou assustadoramente.
?O surfista não liga para bombas e eu também não ligo para o crowd porque sei me portar. O crowd é um fato mundial?, diz Cohen.
Para explicar melhor, os javaneses são muçulmanos, enquanto os balineses são hindus e isso altera costumes da ilha, criando atritos e tensão.
Os surfistas têm se instalado aos arredores de Uluwatu, Padang e Bingin, o famoso Bukit. Hotéis, restaurantes e arredores de Kuta são evitados pelo medo de atentados ? ainda maior desde o alerta de bomba depois do assassinato de um dos mandantes do ataque em Jimbaram.
Quando pensei nesta pauta havia ondas com cerca de 1 metro no inside corner de Uluwatu, nada clássico ? e mais de 50 cabeças na água. No único Padang clássico do ano no fim de julho, o crowd era caótico. Segundo Fabio Feijão, paulista radicado em Bali há cerca de 14 anos, vários surfistas desciam juntos em algumas ondas.
?Era impressionante. Enquanto esperava pela série, não havia espaço para virar o bico para remar nas ondas?, conta Feijão.
Desert Point também não tem mais nada de deserto. João Mauricio Jabour contou que o pico estava abarrotado nas melhores sessões do ano. Outra surpresa pouco agradável é a construção de um resort em frente ao magnífico pico de Super Sucks. Deve estar pronto no ano que vem com acomodação para cerca de 50 pessoas.
As ilhas Mentawaii também são alvo do crowd insuportável. Macaronis, Lances e outras ondas de primeira qualidade geralmente têm cerca de cinco barcos estacionados nos canais em dias de ondas boas, cerca de 10 pessoas por barco.
Ondas pesadas, como a nova pedida ?Green Bush?, são uma atração à parte, como explica o bodyboarder porto-riquenho Hector Diaz. ?Presenciei cerca de cinco barcos no canal de Green Bush, mas somente dois surfistas se arriscaram a surfar aquela onda, não é para qualquer um?, explica.
Em Grajagan, os três campings somaram pelo menos cerca de 120 cabeças durante toda a temporada, de acordo com Cohen. Ultimamente, o número baixou para cerca de 50.
Os surfistas sabem que um tubo no inside corner, Padang, Grajagan ou Mentawai vale todo o esforço e paciência. O Hawaii já é um crowd desse calibre há mais tempo, mas na Indonésia é novidade.
A superpopulação cresce rapidamente. Policiais nos últimos três anos são acusados de extorsões. O trabalho contra o tráfico de drogas está em alta e muitos traficantes foram presos. Outros foram soltos depois de pagar propina.
Isso sem falar nos tsunamis. Bali, segundo os pesquisadores, corre o risco de receber um e a ilha está em alerta desde maio.
Se você planeja uma viagem para Indonésia, fique de olhos abertos e tenha muita paciência. Afinal, as ondas continuam ótimas. A ?única? diferença é que você vai pegar menos ondas.
Mas, quantidade não é qualidade. Temos que saber conviver com nossa realidade, a superpopulação mundial.
Aloha