Banquete à base de Peru

Felipe rasga com força em Mâncora

Visual de La Isla, em Punta Hermosa. Foto: Aleko.
A apenas 4 horas de avião partindo de São Paulo está a cidade de Lima, capital do Peru, destino de muitos brasileiros e ponto de partida para uma surf-trip no país, que possui um litoral repleto de ondas para todos os gostos.

 

Com o paladar apurado, os surfistas Felipe Martins e Adilton Mariano, do Ceará, Denis Tihara e Felipe Freitas, da Bahia e Michel Gratz, do Espírito Santo, integrantes das equipes Reef e Rusty, se juntaram para uma barca que prometia saciar a fome de ondas provocada pelo escasso verão brasileiro.

 

Todos tinham como único objetivo pegar altas ondas e eu, lógico, registrar tudo de dentro da água. Nosso ponto de partida foi a cidade de Punta Hermosa, 50 km ao sul de Lima, um dos lugares com a maior concentração de surfistas do país – boa parte formada por brasileiros.
 
Punta Hermosa é a região mais constante do Peru e possui diversos picos ao redor, como Kontiki, Punta Rocas, uma das mais famosas e constantes ondas peruanas, as esquerdas de La Islã e a mítica onda de Pico Alto, a maior do Peru, que recebe swells de até 5 metros, preferencialmente de sul, além de picos como Playa Norte, Señoritas (esquerdas) e Cabaleros (direita).

 

O capixaba Michel Gratz rabisca a parede de Mâncora, pico ao norte do país. Foto: Aleko.
O Peru é um ótimo lugar para uma barca de surf. Tem ondas de qualidade praticamente todos os dias, tanto para surfistas com pouca experiência quanto para os profissionais que vão treinar nas águas geladas do Pacífico Sul.

 

Durante a trip, Felipe, Denis, Michel e Adilton pegaram altas ondas em praias como Guaico, em San Bartolo, Arica, Caballeros, Punta Rocas e La Isla. E Kontiki, depois de uma bela remada. Depois de cinco dias, já tínhamos feito boas imagens.

 

Mas queríamos encontrar um pico com boa luz e pouco crowd, sonho de qualquer surfista e fotógrafo. Em Punta Hermosa, o clima é totalmente diferente do que estamos acostumados. O lugar é muito seco, quase sem vegetação.

 

Na verdade, parece mais um cenário pós-guerra, nublado quase todo o tempo e com muita neblina. Após checar na Internet que não entraria nenhum swell nos próximos dias, resolvemos então procurar ondas em outro lugar. Rumamos para o norte, até quase a divisa com o Equador. Depois de quase 20 horas de ônibus, enfim, chegamos em Mâncora.

 

Galera descontrai durante a viagem rumo ao norte. Foto: Aleko.
O norte é totalmente diferente de Lima. Água verde, sol, calor e ondas bem mais cavadas, que quebram bem perto da areia. Show. Logo que chegamos, os moleques foram direto para a água conhecer a onda.

 

Não demos a sorte de pegar um swell épico, mas todos os dias rolavam ondas de meio a um metro, dependendo da maré. Onda pra frente e forte. Os garotos mandaram várias manobras bem na minha cara. Show de surf repleto de rasgadas, aéreos, cutbacks e batidas, com direito a arquibancada na areia e tudo.

 

O norte é uma ótima opção para conhecer o melhor do Peru. Rolam altas ondas, tubos, paredões sem junção graças a perfeita e rasa bancada de pedra, que recebe tanto o swell de norte quanto de sul. Os de norte são mais freqüentes de dezembro a abril, melhor época para surfar Cabo Blanco, considerada a Pipeline peruana por alguns locais. É a melhor onda do Peru.

 

Mas com swell de sul também rolam altas ondas em praias como Talara e Lobitos, uma hora ao sul de Mâncora. Lá, surfamos várias ondas totalmente sem crowd. Nesse dia, os surfistas esculacharam as ondas.

 

Veja a galeria de fotos completa da expedição ao Peru.

 

##

O baiano Denis Tihara explora o oco de El Hueco. Foto: Aleko.
Em certo momento, Denis ficou de olho em uma bancada de pedra que formava uma esquerda tubular conhecida como El Hueco. O moleque foi lá e pegou altas sozinho, quer dizer, até o Michel chegar e crowdear na série. Mas tudo bem, uma onda perfeita para cada um do jeito que eles gostam, de frontside.

 

O baiano Denis Tihara comenta o episódio marcante: “Duas paradas ficaram na minha memória nesta barca… Uma foi quando a gente pegou Punta Rocas com altas ondas quando de repente apareceu um monte de golfinhos. Começamos a gritar para avisar o Aleko, mas bem na hora entrou uma série animal! Ele ficou tão adrenalizado com os golfinhos que perdeu várias fotos naquela hora!”.

 

“A outra foi já no norte, em Lobitos. Tinha altas ondas e eu já tinha dado umas duas caídas. Só que a gente olhava direto uma esquerda quebrando perto de umas pedras, então resolvi conferir de perto! Para entrar no pico tinha que dar um pulo sinistro das pedras. Na hora de remar, tinha que ser colado na pedra e não podia dropar reto, pois tinham pedras brotando bem na frente. Foi uma das baterias mais iradas, a onda tinha uma sessão de tubo e mais duas para manobras!”, lembra empolgado o baiano.

 

Enquanto a garotada pega onda, Aleko registra tudo in loco, na Playa Grande. Foto: Denis Tihara.
Após sete dias, já estávamos locais do pico e fizemos muitas amizades. Para finalizar com chave-de-ouro, fomos conhecer um pico chamado Peña Redonda, um beach-break a 40 km ao norte de Mâncora. As ondas tinham cerca de um metrinho, suficiente para mais aéreos, batidas e rasgadas. Realmente no Peru tem surfe todo dia.

 

Felipe Freitas também deixa suas impressões: “O que me marcou logo na chegada foi o fato de ser um país sem muitos recursos, com muita pobreza e condições de vida aparentemente piores que as do Brasil. Algumas coisas dão logo um susto nos visitantes: a comida precária e a água salgada, tanto no mar quanto na pia e no chuveiro. Mas quando começa o surfe, a gente nem se lembra das outras coisas, só de se divertir e surfar com os amigos.”
 
“O Peru tem ondas de todos os tipos. Desde as massas d’água de Kontik, as intermináveis paredes de Puntas Rocas e La isla, as sessions de alta performance em Señoritas e Caballeros, além dos tantos outros picos, como Arica, Guaico e Serro Azul, sem falar do norte, que além da água mais quente tem ondas mais tubulares, que fazem a cabeça até dos mais fominhas de qualquer barca. A nossa foi uma das mais divertidas em que já estive. O alto astral do Adilton, as brincadeiras do Felipe Martins e do chato do Dennis, Michelzinho, Aleko, enfim, a trip com a galera foi alucinante, um dos melhores reveillons da minha vida, num dos melhores lugares de surf do nosso continente”, revela. 

 

Despedida de Punta Hermosa. Foto: Aleko.
Hora de começar a programar a volta. Retornamos para Punta Hermosa e ficamos sabendo que enquanto estávamos no norte, em Lima o mar ficou totalmente flat. Sorte. Acho que nos demos bem. Encontrei com o Leandro Bastos, do Rio de Janeiro, que deveria estar conosco, mas infelizmente teve problemas com a greve da Polícia Federal do Rio de Janeiro.

 

Ele acabou chegando alguns dias depois, mas mesmo assim fizemos umas fotos em Playa Norte. No fim, todos refletiam sobre a volta. Vai começar tudo de novo, inúmeros campeonatos e todos os compromissos que envolvem o surfe profissional… Mas, tudo bem, 2004 já começou com muito surfe.

 

Veja a galeria de fotos completa da expedição ao Peru.
 


Agradecimentos


Vikingos, em Punta Hermosa –  Geocities.com/vikingospuntahermosaperu .
Pousada Sausalito, em Mâncora – jcvigoe@terra.com.pe
 

Exit mobile version