Tow-in Classic

Bastidores de Oregon

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Eraldo Gueiros desce a ladeira em Oregon (EUA). Foto: Divulgação MidiaBacana.

No último dia 11 de janeiro, teve início no Oregon, costa oeste dos EUA (entre os estados da Califórnia e Washington), o Nelscott Reef Tow-in Classic, única competição de tow-in de todo o continente americano na temporada de ondas grandes no Hemisfério Norte.

 

Entre as duplas convidadas para a edição 2008 da competição no Oregon estavam Carlos Burle / Eraldo Gueiros e Rodrigo Resende / Danilo Couto.

 

Antes do início do evento, Danilo optou por competir no Mavericks Surf Contest, competição de surf na remada que acontece no pico de Mavericks, costa da cidade americana de São Francisco, e que acabou sendo realizada no mesmo período do Nelscott Reef Tow-in Classic.

 

Danilo acabou substituído pelo também brasileiro radicado em Maui, Yuri Soledade. Na segunda semana de 2008, mais precisamente no dia 10 de janeiro, a previsão de um grande swell para a costa dos EUA fez com que os organizadores do evento no Oregon fizessem a chamada para o evento, sinalizando a todos os competidores por e-mail e pedindo para que as duplas confirmassem presença no Nelscott Reef Tow-in Classic.

 

Burle, que havia ido do North Shore de Oahu para a ilha de Maui com sua namorada Ligis, encontrar seu parceiro Eraldo para descansar, curtir as belezas do local e possivelmente surfar um bom swell que estava se aproximando da ilha, recebeu a notícia em primeira mão, sinalizando de imediato a seu parceiro pelo rádio, já que precisavam confirmar presença no evento em Nelscott Reef naquele momento.

 

Sendo assim, Burle e Eraldo optaram de imediato por competir nas geladas águas do Oregon. ?Viajamos na correria para o Oregon (6 horas de viagem), dormimos em Portland e, ao acordarmos, seguimos para a cidadezinha costeira de Lincoln City, onde existe a bancada de Nelscott Reef. Durante a viagem presenciamos um clima extremamente gelado e nada propício ao surfe. Chegamos e fomos direto ao meeting do campeonato para checar se estava tudo ok, seguindo direto para a cama na seqüência, a fim de descansar um pouco?, relata Eraldo.

 

Na manhã do dia 11 de janeiro, as condições do tempo no Oregon haviam melhorado bastante, porém a condição do mar ainda não era a ideal para a realização do campeonato, que acabou sendo adiado até o meio-dia (12h), quando uma reavaliação das condições seria realizada.

 

Às 12 horas, com uma sensível melhora nas condições do mar, os organizadores do evento decidiram por fazer a chamada para o início das baterias e, às 14h, com Burle e Eraldo escalados para a primeira bateria do dia, na qual Gueiros surfava primeiro, com Burle pilotando o jet com a missão de rebocar seu parceiro e colocá-lo nas melhores ondas, teve início a competição no Oregon.

 

?Chegando lá fora, no outside, vi que as ondas estavam iradas, com 40 pés de face, e tínhamos apenas 10 minutos pra chegar até o pico. Deu pra pegar uma onda e ver que a prancha estava boa. Sem conseguir avistar a bandeira dos juizes e muito menos escutar a corneta, todos os atletas que estavam na água decidiram começar a surfar, acreditando que já estava valendo”.

 

?Peguei boas ondas mesmo estando um pouco perdido no pico. O mar estava incrível e vi que todos estavam pegando altas ondas, mas foi no final da bateria que peguei a melhor onda, uma “caroça” de 40 pés que me permitiu ir bem no crítico e rasgar embaixo do lip. Saímos do mar bem confiantes com o nosso desempenho!?, continua Eraldo. Ao término da primeira bateria em Nelscott Reef, a dupla brazuca ficou com a segunda colocação.

 

Um dos problemas citados pelos atletas brasileiros foi a grande distância que os juízes estavam do pico, algo em torno de dois quilômetros, o que sem sombra de dúvidas impossibilitaria um julgamento mais apurado das performances nas ondas em função da pouca visibilidade.

 

O primeiro round terminou com a dupla brazuca Yuri Soledade / Rodrigo Resende em primeiro lugar, com destaque para a atuação de Yuri, encarregado de surfar em primeiro plano, que optou por ondas mais longas. Os locais Adam Repogle / Alistair Craft começaram na segunda colocação e Carlos Burle / Eraldo Gueiros em terceiro.

 

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Everaldo Pato Teixeira, Shaw Alladio e Eraldo Gueiros no Nelscott Reef Tow-in Classic. Foto: Divulgação MidiaBacana.

A competição previa dois rounds de 45 minutos cada, com o máximo de 10 ondas surfadas em cada round, com as três melhores sendo computadas.

 

Cada surfista da dupla seria encarregado de surfar em um dos rounds, e as cinco primeiras melhores pontuações iriam para a grande final no Oregon, que teria a duração de uma hora no total, com cada integrante da dupla surfando por 30 minutos, somando as três melhores ondas de cada um.

 

Burle, que era um doa alternates no Mavericks Surf Contest, recebeu uma ligação de Katerin Clark, esposa de Jeff Clark, organizador do evento, mencionando que ele, como era o terceito atleta da lista de substitutos, tinha chance de entrar no evento em Mavs, mas Burle decidiu não arriscar e continuar competindo no Oregon.

 

Logo em seguida, os atletas que estavam no Oregon souberam através de contatos direto do Hawaii, que em função de uma grande ondulação que se aproximava do North Shore da ilha de Oahu, o Eddie Aikau, uma das mais tradicionais competições de ondas grandes na remada do cenário mundial, poderia acontecer no dia seguinte, domingo 13 de janeiro.

 

De imediato, Carlos Burle telefonou para o Hawaii a fim de falar com seu amigo Clyde Aikau, irmão do lendário Eddie Aikau. “Falei com o Clyde Aikau por telefone e ele me disse que se estivesse no meu lugar não pensaria duas vezes e voltaria o mais breve possível para o North Shore. As condições do swell estão parecendo estar perfeitas para Waimea, e o Eddie Aikau tem grandes possibilidades de ser realizado nos próximos dias”, relatou Burle na ocasião.

 

Carlos Burle, com todo o apoio de seu parceiro Eraldo, partiu do Oregon para o Hawaii e foi substituído pelo big tow rider brazuca Everaldo Pato, que fez o caminho inverso de Burle, voando do North Shore de Oahu direto para o Oregon. A mudança repentina nos planos da dulpa Burle / Eraldo não foi bem aceita pelos organizadores do Nelscott Reef Tow-in Classic.

 

?Enquanto o Burle voava para o Hawaii, e o Pato para o Oregon, os organizadores diziam que o Burle tinha abandonado a competição e que eu não poderia competir com o Pato. Até 9 horas da noite, quando o Pato chegou ao Oregon, ainda não tínhamos a certeza se poderíamos competir no dia seguinte e, após uma reunião de última hora entre alguns competidores, foi votado que seria aberta uma exceção e poderíamos competir sem problemas?, mencionou Eraldo.

 

O que Gueiros não contava era que teria uma noite muito mal dormida, na qual não conseguiu relaxar e ficou rolando na cama e passeando pelo apartamento em que estava hospedado pensando na competição que seria finalizada no dia seguinte.

 

?Nunca, em toda minha vida, tive uma insônia como aquela. Passei a noite inteira rolando na cama, pensando nas ondas, meditando e bem invocado, pois a pior coisa é saber que você vai ter que representar bem na manhã seguinte e não conseguiu descansar… foi horrível, eu andava no apartamento, checava o mar que estava enorme e, junto com uma maré de lua, jogava pedaços de troncos gigantes trazidos dos rios na beira da praia. Foi uma noite daquelas… quando eram 6 da manhã comecei a me arrumar, chamei o Pato às 7:15 e partimos para a praia, já que as baterias começariam por volta das 8 horas da manhã?, desabafa Eraldo.

 

O dia amanheceu com ondas perfeitas na bancada de Nelscott Reef, com todos os competidores na água para a segunda fase do evento. Com Pato, que substituíra Burle, atacando as morras com muita fluidez em Nelscott Reef, enquanto Eraldo o rebocava com toda sua experiência e técnica apurada, e a outra dupla brazuca – na qual Resende surfava e Yuri o rebocava – também apresentando uma ótima performance, chegou ao fim o segundo round.

 

As duplas brasileiras se classificaram para a grande final no Oregon, com Yuri / Rodrigo em primeiro, Eraldo / Pato em segundo, os locais Adam Repogle / Alistair Craft na terceira colocação e as duplas Osh Barlett / Tyler Fox e Homer Henard / Matt Rockhold completando a grande final.As condições estavam perfeitas para a grande finalíssima, com o frio um pouco mais ameno e altas ondas no Oregon, e a bateria final teve início com as duplas brasileiras atacando as ondas de Nelscott Reef com muito foco e determinação.

 

Eraldo pegou as maiores das séries, rasgando no crítico das morras; Pato e Yuri também fizeram uma ótima escolha de ondas, surfando muito bem, mas foi Resende quem surpreendeu a todos ao surfar um tubo sensacional e quase foi esmagado pelo lip, já que em Nelscoot Reef as ondas são bem mais volumosas e quase sempre não existe a possíbilidade de se entubar. Ao final da bateria, a impressão era de que Yuri e Rodrigo ficariam com a primeira colocação, e Eraldo e Pato na segunda posição, o que não se concretizou quando os resultados foram divulgados.

 

?O Adam falou que estava contente de ter ido para a final e parecia conformado com um terceiro lugar. Fomos ao hotel e parecia que seria Rodrigo e Yuri em primeiro, eu e Pato em segundo, mas ainda tínhamos uma pequena chance de ganhar na soma dos pontos. Enfim, fomos para entrega de prêmios e, para nossa surpresa, em primeiro ficaram o Adam Repogle e o Alistair Craft, do norte da Califórnia, em segundo Rodrigo e Yuri, e em terceiro eu e o Pato?, finalizou Eraldo.

 

O Nelscott Reef Tow-in Classic 2008 foi um sucesso, principalmente pelas ondas sensacionais que quebraram durante a competição, tendo como fator negativo o julgamento, principalmente da bateria final, quando as duplas brasileiras fizeram apresentações sensacionais, bem mais radicais e escolhendo melhor as ondas em Nelscott Reef do que os locais americanos que acabaram ficando com a primeira colocação no evento.

 

Fonte Carlosburle