O guarujaense Jessé Mendes tem feito uma campanha invejável na temporada 2017. Atual líder da divisão de acesso do Circuito Mundial (com 10.980 pontos), o brasileiro foi vice-campeão em Newcastle e campeão do QS 6.000 de Sydney, derrotando o casca-grossa Julian Wilson em uma das baterias mais emocionantes da perna australiana da World Surf League.
Aos 24 anos, 20 somente de surfe, Jessé Mendes dos Santos foi incentivado no surfe pelos primos, quando ainda era criança, e é fruto de uma das melhores gerações de surfistas que o Brasil já promoveu juntamente com os brasileiros campeões mundiais, Gabriel Medina e Adriano de Souza, amigos de Jessé e também seus rivais desde as competições das categorias de base.
Agora, os holofotes estão direcionados para o Brasil, onde mais uma vez o paulista foi convidado para figurar entre os melhores surfistas do mundo, desta vez no Oi Rio Pro, que acontece em Saquarema, na região do Lagos do Rio de Janeiro, com janela até o dia 20 maio.
No início deste mês, Charles Roberto bateu um papo com Jessé Mendes durante sua participação no lançamento da coleção de Inverno 2017 da marca Quiksilver – sua patrocinadora – e pôde conhecer melhor o atleta que não esconde suas metas de chegar à elite do surfe mundial e, é claro, conquistar importantes títulos em sua carreira.
Até que ponto fazer parte da geração de Gabriel Medina, Caio Ibelli e ter competido também contra Filipe Toledo e Adriano de Souza (lá na sua infância e adolescência) o ajudou em sua carreira? Isso te estimula a chegar à elite?
Com certeza eles fizeram parte da minha carreira amadora e do meu desenvolvimento no surfe. É uma geração muito forte. São atletas que evoluíram juntos, em competições sadias. Todos são amigos, porém, levando a sério o que fazem. Começamos todos juntos em campeonatos regionais.
Seus resultados no início do ano e a liderança no QS garantem sua presença entre os Tops em 2018? O que ainda falta ser feito e qual será sua estratégia para o resto da temporada?
Não garante minha presença em 2018 – ainda não. É algo que eu venho lutando para conquistar. É a melhor campanha de início de ano que eu já tive e, se eu não me engano, é o melhor início de ano que alguém já teve na perna australiana. Eu fiz um primeiro e um segundo lugar. O segredo é foco e treinar forte.
Qual a experiência de ter competido em uma etapa do Mundial na Austrália e o que ficou de aprendizado?
Você sempre espera esse momento e não sabe se vai rolar – comigo aconteceu. Quando eu recebi o e-mail com o convite para participar do campeonato na Austrália, ainda mais sendo brasileiro, fiquei muito feliz. Foi ótimo surfar no lado Oeste da Austrália, local que fazia uns quatro anos que eu não ia e é o que eu mais gosto de surfar. Poder competir em Rock Point nas condições que estavam, foi emocionante.
Além de competir na Austrália e vencer o campeonato, você derrotou Julian Wilson na final. Fale um pouco deste momento.
Foi uma bateria muito apertada. Uma das melhores deste ano. Vieram poucas ondas durante a bateria, o mar estava muito pequeno e a praia estava cheia. Cada onda que a gente pegava a galera ia ao delírio. Ainda aconteceu de eu liberar uma onda para ele e, no final da bateria, ele tirar uma nota 9. Eu vi a onda por trás e naquele momento eu soube que precisava de uma nota alta. Aí ela veio (a onda) em seguida para mim e eu consegui virar e vencer.
Este é seu sexto ano na luta por uma vaga na elite do surfe mundial e nos últimos dois anos você ficou bem perto de chegar lá. O que faltou para garantir a vaga?
É difícil falar. Não tem uma receita exata para entrar no CT. Tem que acontecer uma série de fatores. Muitas dão certo, outras dão errado. No ano passado cheguei muito perto – por uma bateria. Na temporada passada, em Sunset, no Havaí, havia muitos competidores nas mesmas condições e os que conseguiram passar as primeiras baterias me ultrapassaram no ranking, mas é assim mesmo. Este ano eu estou mais confiante.
Te frustrou ter vencido o QS 6.000 de Portugal em 2016 e ter chegado no Havaí com reais chances de garantir uma vaga entre os Tops e, no final, não ter conseguido?
É normal ficar cabisbaixo com a perda. Mas frustrado não. Temos que transformar isso em estímulo. Você aprende a lidar com a derrota. Eu fiz o meu melhor e o que dava. Outras oportunidades surgirão.
Jogo rápido com Jessé Mendes:
Competições ou freesurf?
Competições.
Principais incentivadores?
Minha família e meu técnico.
Guarujá nesta história?
É a base de tudo.
O que planeja e espera de sua carreira?
Viver dela o máximo que eu puder. Amo fazer isso.
Título mundial é um objetivo?
O objetivo é me classificar, o título mundial é o outro passo.
Como analisa seu surfe?
Prefiro que os outros analisem. Eu gosto mesmo é de surfar. (risos)
Tipo de onda você mais gosta e se dá bem?
Se eu pudesse escolher as ondas do World Tour, todas as etapas seriam em Fiji. (risos)