#O big rider Eraldo Gueiros pode dizer que vive o auge de sua carreira como surfista profissional. Considerado atualmente um dos melhores big riders do país, ele é um cara reservado fora da água e parece até que não gosta de tanto barulho a sua volta, mas lá dentro mostra que não está para brincadeira quando o assunto é onda grande.
Formando dupla com o parceiro Carlos Burle, os dois têm arrepiado nos maiores swells do planeta e mostrado que, apesar de virem de um local sem tradição nas morras, o Estado de Pernambuco, no Nordeste do Brasil, possuem um talento natural para domar ondas grandes.
Eraldo vive atualmente no Rio de Janeiro e costuma treinar nas praias da região. Nos últimos anos, ele tem figurado sempre no topo de listas das maiores ondas surfadas quando o mar sobe, principalmente no Hemisfério Norte. No ano passado, chegou-se a comentar que a maior onda da história de Maverick’s, em 21 de novembro, teria sido surfada por ele.
Gueiros já foi eleito pela revista Fluir como um dos melhores tube riders do Brasil e já esteve na lista dos Top 16 do Circuito Brasileiro. Nessa entrevista exclusiva ao site Waves, Eraldo fala sobre o medo da morte nas ondas grandes e da infância ao lado do parceiro Burle, em Recife, em quem costumava dar uns “cascudos”, segundo ele.
Não deixe de partipar do chat com o atleta, nesta quinta-feira (11/04), às 18:30 horas, no Portal Terra.
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Quando e como você começou a surfar?
Comecei a pegar onda em Recife, há 25 anos, em frente a minha casa na praia de Boa Viagem. Infelizmente, agora está cheio de tubarões por lá.
E como começou sua carreira de surfista profissional?
Em 83 fui morar em San Diego, na Califórnia (EUA), para fazer uma faculdade, mas acabei me envolvendo cada vez mais com o surf. Viajei pela primeira vez para o Hawaii e me apaixonei pelo lugar, participei de campeonatos regionais e acabei correndo o Mundial Amador, em 84, terminando na vigésima primeira colocação. Depois disso, encontrei com o Roberto Valério, falecido proprietário da marca Cyclone, e ele afirmou que se eu voltasse para o Brasil me daria um patrocínio. Foi aí que decidi voltar e tentar a vida como surfista profissional.
E sua relação com as ondas grandes, como foi?
Todos os anos eu viajava para o Hawaii para correr os campeonatos e sempre me destacava nas ondas grandes. Na época, o que contava eram os campeonatos de ondas pequenas. Porém, sempre gostava quando o mar subia, porque nessas condições conseguia surfar melhor. Acho que isso vem da minha infância em Recife (PE), onde existia uma pressão muito grande por parte dos amigos para não amarelar no surf.
#Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou no início da carreira?
Com certeza foi o preconceito por causa da imagem do surfista relacionada ao uso de drogas. Lembro-me até hoje de um tio que sempre dizia enquanto bebia seu uísque: “Todo surfista é maconheiro, mas nem todo maconheiro é surfista”. Achava isso muito chato, pois eu amava o que fazia e não gostava quando as pessoas não respeitavam meu esporte. O surf sofreu muito por conta disso, pois passa uma imagem de liberdade. Não vejo o surf só como um esporte, mas também como um estilo de vida. E que vida maravilhosa!
Como você avalia o destaque que os big riders estão tendo na mídia nos últimos anos?
Acho que finalmente as pessos estão reconhecendo a radicalidade do esporte em ondas grandes. Nada mais justo! Espero que as premiações aumentem ainda mais. Vejo os atletas de outras modalidades ganhando fortunas sem correrem tantos riscos como nós, que arriscamos nossas vidas o tempo todo. Mesmo assim o futuro, em termos financeiros, ainda deixa a desejar.
O jornalista Adrian Kojin, editor chefe da revista Fluir, comentou no editorial da edição de fevereiro deste ano que uma das ondas surfada por você em Maverick’s, no dia 21 de novembro, poderia ser maior que a do Carlos Burle, considerada por alguns veículos de comunicação como a maior da história. O que você tem a dizer sobre o fato?
Acho esse negócio de medir as ondas ainda muito subjetivo, depende da foto e do ângulo. Tanto a onda do Burle quanto a minha são enormes, mas acho a minha é mais buraco, está mais na bancada.
#Qual a sua expectativa para o resultado do prêmio Nissan Xterra, oferecido pelo site Surfline que premia a maior onda da temporada com US$ 50 mil?
Ainda é cedo para falar alguma coisa. Sei que minha onda está entre as cinco maiores do tow-in e também tenho uma na remada, que está entre as três de remada. Só vou saber com certeza na festa do evento, no dia 18 de abril, em Los Angeles (EUA).
Como você lida com o medo da morte nessas situações de alto risco?
É claro que tenho medo. Gosto de ondas grandes, mas não sou louco. Tenho medo de morrer. Todos os seres humanos têm medo do desconhecido, da morte. Mas, recentemente descobri que para surfar ondas grandes você tem que querer viver e não morrer. Você tem que amar a vida e não querer morrer de jeito nenhum.
Como é feita sua preparação para encarar as morras?
Surfo há 25 anos, essa foi a minha preparação. Fora isso me mantenho saudável, sempre em contato com o mar, com as montanhas, praticando atividades como caminhadas, caça-submarina, surf, Tow-in, jiu jitsu, kite surf e natação. Faço muitas coisas, nada programado, procurando sempre me divertir.
#Atualmente, seu parceiro no Tow-in, o Carlos Burle, é um dos big riders mais respeitados no Brasil e até no mundo. Isso ajudou na evolução do seu surf em ondas grandes?
Claro que sim. O Burle é o maior ?psico?, está sempre puxando o limite. Eu e ele estamos nessa batida de surf desde pequenos, pois crescemos juntos em Pernambuco. Já dei muito cascudo nele, pois sou mais velho. Mas, o mais importante é nós nos respeitarmos, isso é fundamental em uma parceria.
Qual é a sua idade?
Trinta e poucos anos.
Você não gosta de comentar a idade?
Tenho um amigo, um pouco mais velho, que quando era questionado sobre a idade não falava quantos anos tinha. Cheguei até a tirar um sarro dele, mas hoje eu vejo que o que importa é a atitude.