Torcedor Fanático

Bobby não bobeia

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Bobby Martinez corre por fora e pode surpreender no World Tour 2009. Foto: Aleko Stergiou.

O circuito mundial este ano começou com muita emoção. Algumas surpresas, algumas zebras, mas com o sentimento de que muita coisa ainda pode rolar.

 

Apesar de que, na ponta do ranking, a única surpresa mesmo é a ausência de Slater. Muitos devem se perguntar o que está acontecendo com o campeão dos campeões e a única resposta que me vem à cabeça é ?falta da magia?.

 

O que consagrou Slater por tanto tempo não foi somente seu nível de surf fora do comum. Mas também uma magia e sorte fora do comum. Viradas espetaculares, coelhos retirados da cartola, condições de mar favoráveis somados a todos os outros fatores ?humanos? que a maioria dos top 10 hoje têm de sobra.

 

Nos últimos anos, Slater encerrou a carreira de muitos atletas que estavam em plena forma. Muitos perderam a fome de competições e declararam explicitamente que ?perdeu a graça ver Slater ganhar sempre?. Até mesmo Mick Fanning, uma máquina de preparo e competição, declarou que sentiu-se desmotivado perante tantos canecos levantados pelo rei careca.

 

Para quem assistiu ao sensacional filme One Track Mind, em que figuras como Andy Irons, Kelly Slater, Mick Fanning, Rob Machado, Parko, Rabbit, Dane Reynolds, Curren, Sunny, Occy, Jordy Smith, entre outros, relatam detalhes de passagens sensacionais de suas carreiras, falam um dos outros, descrevem equipamentos e rivalidades, fica claro perceber a admiração e, ao mesmo tempo, a frustração de alguns por sempre perderem para Slater.

 

E olha que ironia do destino: nenhum deles ganhou de Slater nesse início de ano. Somente a molecada ou a zebra foi capaz disso até agora. Ou seja, ninguém está nem perto de sentir-se ?vingado? ainda no World Tour 2009.

 

Ainda falando de One Track Mind, quem mais chama a atenção na hora de descrever a frustração contra Slater é justamente o líder atual do circuito: Parko. Ozzy já protagonizou alguns episódios conhecidos da mídia brasileira onde não é muito admirado por aqui pelas suas atitudes fora d?água.

 

Parko está longe de ser um ídolo daqueles que a massa admira. Seu pouco carisma e ar antipático fazem com que muita gente torça contra sua deslanchada no ranking. Mas não podemos descartar que ele possui uma linha de surf das mais estilosas e modernas da atualidade, fora que é um exímio competidor e surfa muito bem em todas as condições.

 

O campeonato no Tahiti teve bons momentos, mas em geral foi abaixo das expectativas. Principalmente por causa das ondas. Tubos apertados, ondas curtas e carência de high scores deixaram o espectador (e os atletas) na torcida para que entrasse algum swell-surpresa, e ele não entrou. Somente quando o funil apertou mesmo os embates ficaram mais emocionantes.

 

Bruno Santos e Jihad Khodr tiveram vida curtíssima no evento.

 

Bruninho perdeu para Kai Otton numa bateria até que bem disputada, porém, o carioca não encontrou os grandes canudos que costuma pegar.

 

Jihad, bom, só para não dizerem que pego no pé do herói paranaense, especialista em WQS, basta olhar seus scores na bateria contra Andy Irons. Andy marcou 14.50 enquanto Jihad 4.77. Sua posição no ranking ainda é confortável (20º), mas ainda falta muito, muito mesmo, para que qualquer um possa sentir-se confortável no Tour.

 

Heitor Alves me pareceu melhor, talvez com uma prancha mais funcional, pois voltou a competir com equipamento de seu amigo-técnico-shaper, Marcelo Simon.

 

Heitor surfa muito e tem potencial para, cada vez mais, enquadrar-se às ondas do circuito da primeira divisão. Ainda falta um resultado bem expressivo mesmo, daqueles de sacudir a praia, para dar-lhe mais confiança e brigar de vez no topo da tabela. Vai rolar, não tenho dúvida!

 

A coisa mais interessante que Adriano de Souza fez nessa etapa foi a vitória contra Jordy Smith. Não só pela luta direta no ranking, onde o brasileiro é o quinto e o sul-africano o sexto, mas também pelo fato moral da rivalidade que existe entre os dois desde os tempos de juniores.

 

Para quem não se lembra, Jordy tirou de Mineiro o caneco do mundial pro Junior de 2006/2007 numa final disputadíssima e, a partir daí, surgiram algumas declarações pouco simpáticas do sul-africano para com os atletas brasileiros.

 

Muito jovem e um excelente free surfer, Jordy ainda precisa aprimorar táticas de competição e medir um pouco mais as palavras.

 

Se assim o fizer, vai ratificar o que profetiza grande parte da mídia, de que Jordy Smith, Dane Reynolds, Julian Wilson, Owen Wright, Adriano de Souza e alguns outros nomes (já podemos colocar Jadson André?), serão amanhã o que hoje vemos entre Mick, Parko, Taj, Slater, Hobgood e o pseudo-aposentado, Andy Irons, ou seja: os Tops!

 

Hoje, Adriano de Souza apresenta-se como um atleta dos mais maduros e conscientes de seu potencial. Humilde e sedento na dose certa. Preparação e talento em ascensão. A estrada é longa, mas está bem aberta para o brasileiro.

 

Bobby Martinez é um cara muito perigoso. Sempre com aquele ar de quem não quer nada querendo tudo. Compete sem pressão e está sem patrocínio (não por vontade própria). Pouca gente fala nele até que o evento se afunile e seu nome comece a se destacar na grade de baterias. Aí, meu amigo, quando alguém dá mole, lá está ele fazendo a mala e roubando a cena.

 

Seus grandes triunfos são justamente esquerdas tubulares, onde surfa de frontside e, por isso, não se pode vacilar contra o ?bigodinho maroto? de Mr. Martinez. Deu mole ?compadre?, é tchau tchau!