Formiga encara a massa d’água na Joaquina. Foto: Flávio Vidigal. |
Essas variações radicais de pressão atmosféricas que assustam as populações praianas e principalmente os pescadores e navegadores provocam ondulações gigantes também no oceano Atlântico.
Quando esse confronto entre uma zona de alta e uma de baixa pressão ocorre no meio do Atlântico Sul, ocorre a melhor condição para formação de ondas grandes, as tempestades
Paulo Chicano coloca pra dentro da Joaca sem medo da casa cair… na sua cabeça. Foto: X-Treme TV. |
Um ponto interessante é que quanto mais longe e forte for esse fenômeno meteorológico, melhor serão as ondas, pois dá tempo de a ondulação percorrer um longo caminho e ir se ajeitando, o swell chega mais limpo, mais acertado e com menos chances de ocorrer uma ressaca storm com muito vento, chuva e ondas tortas.
Dia 12 de novembro. Parecia que tudo estava evoluindo bem para nós, que estamos há dois anos correndo atrás de ondas fora da costa, em lages e ilhas.
Mais uma vez cancelamos viagens e abrimos mão do conforto e tranqüilidade de um feriadão com os amigos para alterar o destino. Agora é hora de acionar as equipes de tow-in e coordenar o envio de equipamentos como jet-ski e pranchas para o nosso próximo alvo: as ondas fora da costa no Sul do Brasil.
O clima começa ficar mais tenso, a preocupação em não ir para uma barca furada e, é claro, pegar ondas bem grandes, botar para dentro de tubos que podem desmontar nossos ossos e ser feliz nesse surf bem mais perigoso, já começa a dar uma excitada nos sentidos.
Outras coisas importantes da vida passam para um segundo plano, agora é hora de se concentrar e aquecer o corpo, a mente e o fôlego.
Depois de pegar avião, dormir uma hora e meia, arrumar tudo, a correria começa às 4 horas da manhã em Florianópolis. Parecia que a lage do Jaguá iria estar perfeita. Sob uma tremenda chuva, já no carro trocamos telefonemas com o top 45 do WCT Paulo Moura, que estava com o Dê da Barra como dupla mais na frente e nas primeiras horas de luz de dia.
Moura nos avisou que o vento nordeste tinha entrado sem condições para o surf fora da costa, então nosso destino mudou mais uma vez, agora para a praia do Cardoso, no Farol de Santa Marta.
As previsões estavam certas, o pico do swell seria às 3 horas da madrugada e chegaria a 22 pés na bóia, mais de 7 metros. Quando chegamos às 7:30 horas o mar estava espetacular, as ondas explodiam na pedra do canto direito da praia e Paulo Moura coloca o Dê da Barra em uma morra que ninguém acreditou.
Confira galeria de fotos da barca.
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Dê da Barra despenca em uma das maiores ondas já registradas no Brasil, na praia do Cardoso, Farol de Santa Marta. Foto: Marco Dias. |
Depois de fazer o drop veio a queda na base da onda, pois a prancha merrequeira emprestada não resistiu e quebrou no meio, mas o drop mais vertical, possivelmente da maior onda registrada no Brasil, tenha sido completado.
Ficamos imaginando qual deve ter sido a maior onda durante a madrugada, quando o pico do swell atingiu o ponto máximo? O mar ficou bom o dia inteiro e Zeca Scheffer, Fabiano Tissot e
Além de top surfer do WCT, Paulo Moura mostra que também gosta de adrenalina na veia quando o mar sobe pra valer. Foto: Flávio Vidigal. |
Flavio Vidigal e Jacques do corpo de bombeiros da praia Mole desafiaram as ondas de jet boat para um bom registro de imagens e o tow-in ganha um novo e excelente piloto, Paulo Chicano, que além de organizador de baladas e comediante mostrou muita habilidade e responsabilidade impressionando até pilotos experientes como João Capilé, que não elogiam ninguém de graça.
Chicano e eu pegamos ondas o dia inteiro e sem dúvida estávamos muito bem equipados com minha prancha Brewer / Macnamara, que rendia mantendo a alta velocidade em toda a extensão da onda, que chegava a mais de 50 segundos de rasgadas, aceleradas e vários cutbacks.
No saldo final todos que se esforçaram para estar lá foram agraciados com as mais longas pistas de surf, se assim podemos chamar essas longas paredes comparadas em qualidade com as ondas grandes e geladas do Pacífico no Chile e Peru. Segundo dia de ondulação.
A previsão do tempo era certa, vento nordeste forte para o dia 15, feriado de Nossa Senhora, e parte das equipes desanimaram de tentar o milagre do vento abaixar e rolar onda boa na lage do Jaguá. Como pedida optamos pela Joaquina, pois lá o nordeste é terral e o pico é protegido.
Logo na primeira hora da manhã, Chicano e eu fomos os primeiros a entrar, estava muito forte, a tendência era o mar expulsar tudo que chegasse perto da água, a cada tentativa de passar a onda com o jet era um tranco violento, piloto contra jet ou surfista agarrado no sled, depois do dia anterior o corpo ainda febril de tanto ser requisitado sofria mais ainda, mesmo de jet, e a cada chegada no fundo era uma sensação de renovação, mais uma onda bombástica iria ser surfada.
Nas primeiras horas da manhã vários cutbacks, aceleradas e mais rasgadas. No meio do caminho uma sessão de tubos secos ou insanas fechadeiras, era muito power e muito prazer para estar apenas a alguns minutos de minha casa.
Não demorou muito e Capilé, desta vez com Dê da Barra, Ricardo Azevedo com Adriano Matias, entre outros, ousaram de jet e equipamentos. Paulo Moura e Dê da Barra pegaram as melhores, maiores e os mais secos tubos. Realmente esse swell sorriu para o Dê.
Apesar de lisa, a parede da onda corria sobre muita corrente e força d’água, alguns bumps aumentavam a dificuldade para bottom turns mais radicais, porém elevavam o nível em manobras criativas nessas imperfeições. Como de costume The big Capila e seus 115 quilos destrossava qualquer massa d’água em seu caminho.
A pedra do canto da Joaca virou arquibancada. O mais forte swell do ano proporcionou mais duas sessões de surf para a historia, Cardoso e Joaquina em inesquecíveis 15 pés plus. Que venham os ciclones, mas que venham em forma de ondas.
Confira galeria de fotos da barca.