Análise

Brasileiro de SUP Race pós Ubatuba

A etapa de Ubatuba acirrou ainda mais as disputas pelo título de 2016. Nunca houve tanta competitividade na história do circuito brasileiro de SUP race.

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A etapa de Ubatuba acirrou ainda mais as disputas pelo título de 2016. Nunca houve tanta competitividade na história do circuito brasileiro de SUP race. Foto: Fabio Mota.

 

E chegamos ao fim da “primeira temporada” do circuito brasileiro de SUP race com a conclusão do “Super SUP Brasil 2016 – Ubatuba Grand Prix”, terceira etapa realizada no último final de semana (11 e 12) na Praia do Sapê, em Ubatuba.

Respeitando o cronograma de provas internacionais de SUP race, o circuito brasileiro dá uma pausa e retorna possivelmente em setembro, com a etapa de Foz do Iguaçu ou, mais tardar em novembro, com o Pantanal Extremo.

A etapa de Ubatuba consolidou a aposta da CBSUP em investir em um formato de provas semelhante ao das competições internacionais mesclando disputas técnicas com longa distância, mantendo, assim, os competidores brasileiros atualizados e, principalmente, nivelados com o que está acontecendo mundialmente no SUP race.

As provas técnicas também imprimiram novo fôlego às transmissões da internet, pois além de dinâmicas, provas como a de Ubatuba, que apresentou ondas desafiadoras, são emocionantes de serem assistidas. O programa de domingo de muitos amigos foi deixar o computador ligado na transmissão para acompanhar os atletas botando pra baixo, de race, nas ondas do Sapê.

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As duas primeiras etapas do Brasileiro, em Floripa (SC) e Camaçari (BA), que despertaram, inclusive, a atenção da mídia especializada estrangeira, foram, curiosamente, “esquecidas” na equivocada análise de pretensos “bem intencionados” críticos de internet. Foto: Naideron

 

SOBRE AS BOBAGENS DA INTERNET – Falando sobre a internet, me causou espanto (mas não surpresa) a quantidade de besteira que algumas pessoas foram capazes de dizer sobre a prova de Ubatuba. É certo que qualquer um tem voz na internet, mas, quem se propõe a criticar algo deve, no mínimo, procurar estudar o assunto antes.

Não sei se por ignorância, ma fé, ou talvez ambos, mentiras e informações incorretas sobre a 3ª etapa foram lançadas na rede. A repercussão, bem se diga, foi mínima, mas, é importante

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O diretor técnico da CBSUP, Magno Matozo, já trabalha em provas de SUP e Canoa Havaina enquanto muitos sequer sabiam o que é um remo e merece respeito. Foto: arquivo.

esclarecer alguns pontos para que se entenda o que está em jogo e, principalmente, não deixar que dúvidas e equívocos fiquem à deriva nesse oceano de informações que é a internet e, assim, contribuir verdadeiramente para a evolução do circuito nacional, sem demagogia. Até porque, como dizia minha avó: “De bem intencionado, o inferno está cheio”.

Vamos por partes. Primeiramente, como alguém pode supor que o diretor técnico da CBSUP, Magno Matozo, não estaria monitorando o swell que se encaminhava para Ubatuba? Chega a ser rizível.

Acompanho o trabalho do Magno há anos, desde os tempos em que atuava na canoa havaiana e o SUP no Brasil nem existia. Não existe hoje aqui um diretor de provas de SUP Race mais preparado do que ele. E não falo só da experiência do cara, mas da edução, paciência e tato com os atletas.

Sendo assim, era óbvio que ele estava ciente sobre a probabilidade de mudança de trajeto da prova e tinha não só um, mas vários “planos B”. Essa informação foi, inclusive, noticiada aqui no SupClub no início da semana que antecedeu a prova (clique AQUI ).

Ainda, quem acompanha o circuito brasileiro sabe que quando ocorre uma mudança de traçado de prova, devido a questões que envolvem segurança, os atletas são consultados e opinam. Normal. Isso não tem nada a ver com “largar a decisão nas mãos dos atletas”. Uma conclusão dessas chega a ser triste de tão equivocada.

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Os organizadores são os responsáveis pelo bom andamento de um evento. Cabe às federações e confederações o papel de fiscalizar e punir, se for o caso, eventuais falhas cometidas. Foto: Luciano Meneghello.

 

Outro ponto que confunde os menos informados é a distinção entre ORGANIZADOR e CBSUP. A Confederção Brasileira não organiza eventos, ela chancela eventos.

Quem é responsável pela correta entrega de itens como kit dos atletas, mesa de frutas, qualidade dos troféus, entre outros quesitos referentes à organização do evento é o organizador. A CBSUP, por sua vez, irá fiscalizar se o que foi entregue aos atletas atendeu minimamente ao critério estabelecido para a obtenção da chancela e tomará as medidas cabíveis de punição – se for o caso – que podem variar de uma advertência, multa ou até a invalidação da etapa.

Isso esclarecido, é preciso dizer que, ao contrário das duas primeiras etapas, em Floripa (SC), que atraiu a atenção da mída especializada estrangeira, e Camaçari (BA), que transcorreram sem problemas organizacionais, com grande sucesso e, curiosamente, sob o silêncio por parte dos mesmos pretensos “bem intencionados” críticos, a prova de Ubatuba teve, sim, falhas na sua organização. Nada que comprometesse o resultado final ou envolvesse questões críticas, como a segurança dos atletas, mas levantou pontos que precisam ser muito bem avaliados pela CBSUP se houver por parte desse organizador interesse em realizar a etapa em 2017.

Pra encerrar o assunto, quem quiser saber mais sobre as regras e como funciona uma etapa do Brasileiro é só visitar o site da entidade, onde tudo é exposto de forma bem objetiva (clique AQUI).

Agora vamos falar sobre os “donos da festa” e como fica a corrida pelo título de 2016 após a 3ª etapa:

MOLEQUE TRAVESSO

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Guilherme dos Reis. Foto: Luciano Meneghello.

Guilherme dos Reis colocou para escanteio qualquer dúvida sobre sua capacidade de conquistar o título brasileiro de 2016. Força física, preparo mental e, por último, competir sem estar ao lado do pai, Paulo dos Reis. Tudo isso foi por àgua abaixo em Ubatuba.

Competindo com um SUP com 21 polegas de largura, Gilherme mostrou uma técnica extraordinária tanto na prova longa, quanto na técnica, vencendo ambas.

Senhoras e senhores, o “moleque” está pronto. Se ele leva o título esse ano? Acho que ele é forte candidato, mas o ano ainda não acabou e seus adversários estão na cola.

KELLY SLATER

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Luiz Guida “Animal”. Foto: Bruno Lemos.

O Luiz Carlos Guida “Animal”, pra mim, é o “Kelly Slater” do circuto brasileiro de race por conta sua veia de competidor. Além dos 4 títulos nacionais, o cara raramente falha. Repare. Se há uma disputa remo a remo, normalmente é ele quem chega à frente.  Ficar colado com ele não é um bom negócio. Seja numa disputa ou no ranking. Pode perfeitamemte assumir a liderança e a prova do Pantanal provavelmente será sua cartada final.

SÓ NO SAPATINHO

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Mario Cavaco. Foto: Luciano Meneghello.

Em minha última análise, escrevi que o Mario Cavaco estava fazendo um belo início de temporada.  Reafirmo isso aqui. Marinho está mais maduro e em grande fase. Larga muito bem, puxa o pelotão de Elite, e, assim, vai comendo pelas beiradas. Está apresentando boa regularidade. Falta ainda um resultado mais expressivo pra ficar com o título (ele tem dois 4ºs e um 5º), mas o ano ainda não acabou e muita coisa pode acontecer.

O “GRINGO”

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Vinnicius Martins Foto: Reprodução.

Na Bahia ele foi impecável. Em Ubatuba perdeu a prova técnica para Gui dos Reis por menos de uma prancha de diferença. Vinnicius Martins aprendeu muita coisa competindo contra os melhores do mundo em provas internacionais. É dono da melhor largada do circuito e rema em meio às ondas como se estivesse em “flatwater”. É candidato fortíssimo ao título, mas, talvez, pague o preço por não ter competido em Florianópolis (prova que era a sua cara), pois, mesmo levando em conta o sistema de descartes, terá pela frente dois modelos de provas (Foz e Pantanal) que não são consideradas seu forte (até agora!).

CORINGA

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Arthur Santacreu. Foto: Fabio Mota.

Já está se tornando repetitivo, mas eu não canso de dizer, o Athur Santacreu tem capacidade de chegar à frente de qualquer um do circuito, mas, isso não está acontecendo. No entanto, depois de ficar em 8º lugar na Bahia, “sacudiu a poeira” e terminou em quarto lugar em Ubatuba. Pra mim ele poderia ter ido muito melhor se não tivesse largado tão mal na longa, o que o obrigou a gastar muita energia pra chegar ao pelotão de Elite. Poderia ter levado a prova. Um ponto positivo foi o fato que ele melhorou sua performance nas provas técnicas, o que mostra que está em volução.

PRA FICAR DE OLHO

Lucas Do Carmo Belchior é pra mim, até o momento, a maior revelação do circuito. Em Ubatuba foi pra cima e deu muito trabalho pros medalhões. Melhora a cada prova. Tai um cara pra ficar de olho.

Kainoa Teixeira é um dos melhores SUP surfistas do Brasil e, ao que parece, está tomando gosto pelas provas de race. Foi muito bem em Ubatuba. O garoto é novo e tem muito potencial, mas tem que ter vontade. Se é isso que ele quer, pode ir longe.

Antonio Gonzaga, Márcio Adriani e Eri Tenónio são três caras que tem mais a oferecer. Tem potencial para subir muito mais degraus no ranking. Não digo que vão brigar pelo título em 2016, mas com certeza podem causar um belo “estrago”.

GIRL POWER

Ao contrário dos anos anteriores, 2016 já pode ser considerado o ano mais empolgante da história do SUP race feminino.

SANGUE NOS OLHOS

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Lena Guimarães Ribeiro. Foto: Luciano Meneghello.

No melhor estivo “médico e mostro”, Lena Guimarães é uma pessoa extremamente doce, simpática e bem humorada, mas, quando entra na seara da competição, é melhor você sair da frente, ou poderá ser atropelado!

Indiscutivelmente na melhor fase de sua carreira, Lena fez uma prova de longa impecável em Ubatuba – assim como havia feito em Floripa e em Camaçari. Precisa de ajustes finos na race técnica, mas é minha favorita ao título em 2016. Acredito que seu esforço por tantos anos de dedicação aos treinos e competições esta prestes a ser recompensado.

A DESAFIANTE

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Aline Adisaka. Foto: Fabio Mota.

Tem atleta que tem estrela. É incrível, mas, normalmente as coisas acabam convergindo a seu favor. Assim é a Aline Adisaka. Claro que nada cai do ceu e ela é muito dedicada. Treinar ao lado de Paulo e Guilherme dos Reis também ajuda, mas Aline tem brilho próprio e veia de competidor. Pode, inclusive, levar o título esse ano. Quem a viu competindo em Ubatuba sabe que ela luta até o último segundo pela vitória.

REVELAÇÃO

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Aline Abad Mota. Foto: Fabio Mota.

Campeã brasileira de race amador em 2015, Aline Abad Mota está fazendo uma bela transição para a carreira profissional. Chegou junto nas três primeiras etapas e vem mostrando que pode chegar além. Com o apoio da família e do maridão, Fabio Mota, fotógrafo oficial da CBSUP, acredito que ela vai longe.

PRA FICAR DE OLHO

Depois de uma derrapada em Camaçari, Marly Pires fez seu melhor resultado em Ubatuba: 3º na geral. A remadora de Tocantins tem muito vigor físico e melhorou nas provas técnicas. Se a etapa de Foz se confirmar, terá uma grande chance de encostar nas primeiras colocadas.

Jessika Moah, Marivane Figueredo, Isttefany Moraes e Marilene Koepsel são as apostas para tumultuar a corrida pelo título. Das quatro, Moah é quem tem apresentando mais “punch” nas competições. Ela não competiu em Camaçari, mas pode surpreender se consguir apoio para competir em Foz e no Pantanal.

Não é que Ariani Theophilo esteja indo mal em 2016. Mas ela tem potencial pra ir mais longe. A fluminense parece ainda estar se adptando ao formato de provas da CBSUP, mas, o termpo está correndo e as etapas estão passando. Mas acho que ela vai surpreender. Veremos o que vem a seguir!

ONDE ESTÁ A RAINHA?

Muita gente se perguntou por que Babi Brazil não competiu em Ubatuba. Eu entrei em contato com a pentacampeã brasileira para saber o motivo.

Babi acaba de concluir um doutorado em educação musical pela Universidade Federal da Bahia e mergulhou de cabeça nos estudos. Ficou inviável treinar para o Brasileiro e terminar sua tese, de forma que ela optou por não competir.

Se Babi volta ao circuito esse ano? Nem ela sabe. Sua tese, que mescla fundamentos da educação musical aos da educação esportiva, foi muito bem recebida pelo centro acadêmico, e a baiana nesse exato momento avalia novas propostas e pensa quais rumos irá seguir daqui pra frente.

A BATALHA DOS JUNIORES

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Guilherme Thawire versus Guilherme Cunha. Estamos presenciando aquela que será a maior rivalidade competitiva da história do SUP brasileiro? Foto: Fabio Mota.

 

Desde que iniciei a fazer essas análises do circuito brasileiro, sou cobrado por alguns atletas a comentar também sobre as outras categorias. Com certeza esses atletas merecem a mesma atenção que dedico aos profissionais, mas, informo que não consigo dedicar mais tempo do que dedico a estudar as provas do Brasileiro e seus competidores.

Seria leviano de minha parte comentar sobre uma categoria que não acompanho a fundo, como faço com a profissional Open, por entender que esta é a mais importante de todas.

No entanto, mesmo não acompanhando a fundo, mercem destaque nomes como André Paiva e Mauricio Thompson, por suas performances na master, Luiz Claudio Graglia “Huka” e Ivan Mundim na Super Master, Itamar do Carmo, Bruno Torquato e Duda Carrard na 14 pés, Israel Schuster, Danielle Gregory e Paty Mesquita na Fun Race.

Agora, em minha opinião, o grande duelo entre os amadores se dá na “Batalha dos Guilhermes”: Guilherme Cunha versus Guilherme Thawire, na Junior.

Guilherme Cunha lidera a Junior por uma pequena vantagem sobre Thawire que, por sua vez, tem dois primeiros lugares contra um de Cunha.

Guilherme Cunha também está competindo na Race Amador, onde ocupa a terceira colocação no ranking, e eu me pergunto se essa é uma estratégia boa?

Na idade dele, em minha opinião, o título da Junior é mais importante nesse momento. Fico pensando se Cunha, competindo em duas categorias no mesmo dia, não está gastando mais energia do que deveria e, ainda, não dando a devida atenção àquele que é (e possívelmente será por muitos anos) seu grande adversário nas competições. 

A batalha dos Guilhermes pode ser a grande batalha dos próximos anos no Circuito e o esporte competitivo cresce muito com essas rivalidades. Mas tudo vai depender dos passos que forem dados agora.

 

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Luciano Meneghello é jornalista, fundador e editor chefe do site SupClub e da revista Standup. Foto: Reprodução.

 

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