Brasileiro é a lei no Hawaii

Carlos Costa no Eddie Aikau, Waimea Bay, North Shore, Hawaii

Carlos Costa em ação nas ruas do North Shore de Oahu, Hawaii. Foto: Claudiaferrari.com.
Ozzy, como é conhecido Carlos Costa, um paulista radicado no Hawaii, realizou o sonho da vida.

 

Ele é o único policial brasileiro no Hawaii e, nas horas vagas, mantém a adrenalina em suas ondas preferidas ? Sunset e Waimea.

 

Casado com Claudia Ferrari, campeã mundial de bodyboard em 1995, e pai de dois filhos, Kiron e Maille, Ozzy é um dos raros brasileiros que não se incomodam com a pressão do localismo no Hawaii.

 

?Quem tem que se preocupar são os locais. Eu sou a lei?, diz Ozzy.

 

Ozzy durante o Eddie Aikau em Waimea Bay. Foto: Claudiaferrari.com.
Nesta entrevista exclusiva, Ozzy fala da vida de policial e surfista no Hawaii.

 

E também comenta a recente onda de violência contra a polícia em São Paulo: “Fico preocupado com a vida dos meus colegas policiais no Brasil e com a família deles. É muito triste ver o que rolava no Rio de Janeiro agora em São Paulo”, diz.

 

 

Sei que você sempre teve o sonho de ser policial. Como você se tornou o único policial brasileiro no Hawaii?


Cresci surfando no Guarujá e muitos dos meus amigos viajavam para o Hawaii durante a temporada de ondas grandes. Em minha primeira viagem para cá, nos anos 80, eu amei o local. Na volta ao Brasil eu tinha que tomar uma decisão básica que todo homem toma, escolher a profissão. Naquele ano, meu amigo Fabio Bopp havia entrado para a polícia civil em São Paulo. E eu também fiquei instigado, mas o final do ano foi chegando e as ondas no Hawaii bombando. Acabei vendendo o carro dado pelo meu pai e vim morar na América. Gostei muito e tentei entrar na polícia diversas vezes, mas é muito difícil. Acabei me casando, tendo dois filhos e trabalhando como segurança no Hilton, no Kuilima, hotel mais famoso do North Shore, onde conheci muitos policiais que me incentivaram a continuar tentando. Depois de quase uma década de esforços, passei nos testes e hoje vivo meu sonho.

 

Como é o seu dia-a-dia?


Trabalho na base de Honolulu, na cidade. Eu fico em ronda com o carro da polícia pela cidade. E eu também sou muito usado no trabalho ?disfarçado?. Meu carro ronda por toda a ilha e, pelo fato de eu ser brasileiro, consigo me infiltrar sem ser notado como policial em alguns casos.

 

Alguma vez tentaram te subornar por ser brasileiro, ou algo do tipo?


Não, mas uma vez um brasileiro havia cometido uma infração contra a lei e quando viu que eu era policial e brasileiro, se cresceu. Ficou feliz achando que eu não iria prendê-lo. Ele se enganou. Eu até tentaria aliviar um pouco se não fosse um brasileiro. Mas a empolgação dele foi muito forte e eu o coloquei atrás das grades. Infelizmente nossa população acha que é mais esperta do que os outros. Não venham para o Hawaii achando que passarão em branco. Respeitem e serão respeitados. Se não cumprem a lei, vão para cadeia.

 

E o surf?


Poxa é muito bacana. Tenho a vida que pedi a Deus. Posso surfar nas ondas dos meus sonhos nas horas vagas. As ondas que mais amo são Sunset e Waimea. Minha esposa Claudia Ferrari sempre me acompanha, então temos uma família muito surf. Meus filhos Kiron e Maille também estão começando é muito bacana. Então você gosta mesmo das ”guns” (armas) no puro sentido da palavra… Verdade (risos). Como policial, eu as uso na cintura, com uma de reserva na perna. No surf, uso na água em Sunset e Waimea, feitas pelo Owl Chapmam. Acabei de pegar uma novinha.

 

Claudia, você têm medo da profissão dele?


Sim, eu tenho. Mas, se compararmos com os policiais do Brasil, é menos perigoso. E eu também não dou trégua para ele, estou sempre ligando e perguntando se está tudo bem.

 

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Claudia Ferrari e Carlos com os filhos Male e Kiron. Foto: Claudiaferrari.com.
Você já foi campeã mundial e hoje mora com o Ozzy e toda família no Hawaii. Não sentem saudades de casa? Como é a vida da família?

 

Foi como você disse. Para uma ex-campeã mundial que ainda participa dos eventos aqui em Pipeline, nada melhor que ficar perto das ondas favoritas. Eu amo o Hawaii e sou muito grata, mas é lógico que tenho muita saudade dos amigos e da família. No verão, quando não rola muita onda, eu vou com Kiron e Aille surfar com um longboard. E no inverno surfo muito Pipeline. Aproveito até a oportunidade para informar as empresas no Brasil que estou sem patrocínio (risos).

 

Cláudia Ferrari no Backdoor, Hawaii. Foto: Claudiaferrari.com.
Ozzy, como é o relacionamento com seus colegas de trabalho?


Muito bom. Respeitam muito o meu trabalho. Os policiais brasileiros são muito respeitados aqui. Nós somos muito bem aparelhados e bem remunerados, ao contrário dos policiais brasileiros. Mas o talento e a experiência do brasileiro falam mais alto. Meu amigo Fabio Bopp, quando vem ao Hawaii para surfar, visita nossas centrais e até já venceu um torneio de tiro aqui. Todos ficaram impressionados.

 

Então a criminalidade é baixa aqui no Hawaii?


Em comparação com o Brasil, com certeza. Mas, o bicho aqui também pega. Uma nova droga chamada ”ice”, que significa gelo, tem desgovernado muitos nas ilhas havaianas. Ela é muito forte e extremamente viciante. Outro dia mesmo fui a um chamado onde o dito cujo tinha esfaqueado e matado a namorada. Cheguei ao local e me informaram que ele tinha acabado de correr. Fui atrás e ele veio com a faca para cima. Quando saquei a arma para atirar, ele jogou a faca no chão. Outro dia houve um “bom” tiroteio também, mas aqui é bem mais calmo que no Brasil.

 

E o jiu jitsu? Os policiais treinam?


Muitos. Eu também treino. O mestre Hélio Gracie desenvolveu essa arte que é muito respeitada no mundo inteiro e todos policiais deveriam praticar.

 

E o localismo? O Hawaii é um dos lugares mais temidos do mundo.Como você lida com esse problema?


Hoje quem tem que se preocupar são os locais. Eu sou a lei. Hoje eles me respeitam e muito dentro d?água. O Kala Alexander sempre entra em contato comigo e deixo bem claro para ele que qualquer ato fora da lei é passivo de problemas com a policia. Mas temos, digamos assim, um bom relacionamento.

 

Então, digamos que eles  até liberam umas ondas.


Os mais locais são espertos e não querem problemas, digamos que sobram algumas mesmo (risos).

 

Você me dizia que é com certeza o único policial brasileiro no Hawaii e talvez em toda a América?


É verdade. Aqui é certeza, na América não posso afirmar. Mas já ouvi rumores de que teve um policial brasileiro em Miami, mas foi afastado. Assim, hoje eu seria o único.


O que você diz a respeito dos atentados sofridos em São Paulo?


Fico preocupado com a vida dos meus colegas policiais no Brasil e com a família deles. É muito triste ver o que rolava no Rio de Janeiro agora em São Paulo.

 

As notícias chegaram à mídia na América?


Com certeza. Foram várias as reportagens. Muitos policiais e bandidos mortos. Deprimente.

 

Em quem recai a culpa nas reportagens?


Nos políticos. A corrupção no governo é muito criticada por todos aqui.

 

Você acha que vale a pena ser policial no Brasil?


Se formos relevar o lado financeiro, com certeza não, mas temos muitos policiais que amam a profissão e isso é o que faz a diferença.

 

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