Surf seco

Brasilianismo

Entocado no Backdoor, Hawaii

Os pedicabs fazem a alegria dos turistas no Hawaii. Foto: Divulgação.
Ter orgulho de ser brasileiro às vezes nos faz refletir e pensar duas vezes. Em um sistema democrático injusto, somos descaradamente roubados por nossos governantes.

 

As histórias de ?mensalão?, dólar na cueca e máfia dos sanguessugas são um desaforo para quem quer viver honestamente.

 

Somos roubados no dinheiro dos impostos que pagamos, por não termos educação, saúde e segurança. É só pensar um pouco e associar essa roubalheira com a falta que esse dinheiro faz pra saúde, ensino, para o país no geral.

 

Taiu capta a energia da natureza em mais um salão azul no Backdoor, Hawaii. Foto: Arquivo pessoal Taiu.
Difícil fazer os políticos serem honestos… Parece impossível, como se roubar dinheiro público, ou apenas o ato de roubar faça parte da cultura do nosso país.

 

Pior ainda é a falta de perspectiva de uma vida do bem, o que acaba atraindo várias crianças para o crime. Culpa desses vermes que agora nos pedem o voto. E o que isso tem a ver com o surf? Graças a Deus, nada. Mas é fato que atrasa o fortalecimento ainda maior do Brasil em todos os sentidos.

 

Quando criei a sigla brasileira SMF (Surfers Moving Forward) eu era bem mais ingênuo quanto a essa podridão administrativa, porém o feeling da irmandade do povo brasileiro, principalmente dos que são mais felizes por pegarem ondas, isso é que está vale. O maior tesouro do Brasil é o povo, que no geral é amigo e gente boa.

 

A vibe da irmandade do nosso povo somente é percebida plenamente quando encontramos algum brasileiro em outro país. Mas é claro que existem exceções. Eu me deparei com uma destas exceções quando tinha 20 anos e passava o ano de 1983 trabalhando e sobrevivendo no Hawaii.

 

O trabalho rolava de noite, com os ?pedcabs? no verão de Waikiki. Pedcabs são aquelas bicicletas de três rodas com um banquinho atrás que puxam até dois passageiros e fazem um pequeno tour na cidade.

 

Foi quando peguei dois passageiros com vibrações negativas que infelizmente eram brasileiros. Era um casal de paulistanos, talvez nos seus cinqüenta e poucos anos. Aquela experiência de estar num desafio longe do Brasil trouxe muita evolução e com certeza foi um dos melhores anos da minha vida.

 

Era ?ralação? física pesada à noite, todos os dias puxando os turistas. Dava para tirar um dinheiro legal, algumas noites de US$ 50 a US$ 100, e fazia isso depois de pegar umas ondas durante o dia.

 

Voltando ao episódio, numa esquina fui abordado por este casal, que me perguntou o preço da volta turística com inglês carregado de sotaque brasileiro. Cobrei a tarifa normal, que era de US$ 10 por pessoa, mas eles acharam caro. Fui logo me apresentando em português e acabei fazendo pela metade do preço.


Depois de alguma hesitação eles resolveram ir comigo. Durante o passeio as perguntas que fizeram foram as piores, sempre negativas. Perguntaram se meus pais não ficavam preocupados, se aquilo não era perigoso, se a imigração não poderia me pegar ou reclamavam de alguma outra coisa.

 

Claro que havia riscos, mas não era nada tão absurdo. Na hora de acertar a corrida, eles quiseram me dar apenas US$ 5, alegando ser um absurdo de caro. Aceitei e mandei um ?see you later?. Saí pedalando e pensando, ?puxa vida, como podem existir pessoas tão infelizes e recalcadas…?.

 

A contradição veio logo na outra esquina, quando dois americanos da Califórnia me pararam e resolveram dar uma volta. Foi só energia positiva, eram pessoas de bem com a vida, que você percebe na hora. Eles disseram que meu trabalho era fantástico, deram a maior força apenas com palavras.

 

Disseram que eu devia curtir muito essa época, que a vida era isso mesmo e, pra finalizar, quando cobrei os US$ 10 por pessoa eles me deram o dobro, ou seja, US$ 40 no total. Parecia até piada essa seqüência de eventos e a lição que o destino me reservou.

 

Mas a verdade do brasileiro é ser ?positive vibrations?, talvez muito mais quando surfam e estão num lugar como o Hawaii, que é a Meca. Quando você encontra alguns malucos brasileiros vivendo em outros países, acabam virando grandes amigos. Tem um detalhe importante, o brasilero gente boa é aquele bem-educado, que já conhece o sistema.

 

No entanto, entre os mal-educados podem estar alguns surfistas. São boa gente, mas queimam o filme. Falam alto, infringem as leis, acham que podem roubar coisas nas lojas, que os gringos são trouxas. Fora os que rabeiam na cara dura, esses dão até vergonha.

 

Enfim, o mundo fora do surf é um lugar bem esquisito. Têm sorte as pessoas que conseguem ser felizes e curtir essa vida passageira. Os mais sortudos algum dia descobrem o surf, podem pegar umas ondas e financeiramente podem explorar as melhores ondas e os picos exóticos e remotos do nosso planeta.

 

Além de alimentar a alma, o surf nos faz absorver os sais minerais da água do mar na pele. O sol aquece e colore a nossa vida e nos dá prazer.

 

A liberdade do terral soprando na cara, a alegria de sentir o cheiro dos corais, sentir o sentido da vida, a força da natureza, a paz de Deus quando absorvamos a energia máxima que é gerada lá dentro dos salões.

 

Aloha!

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