Depois de passar duas temporadas seguidas na elite do surf profissional, a paranaense Bruna Schmitz treina forte para recuperar uma vaga no World Tour em 2012.
Atualmente na 37ª posição no ranking da divisão de acesso, ela luta por uma das cobiçadas vagas entre as seis atletas que garantem o passaporte para o mundial do ano que vem.
Aos 21 anos, Bruninha se diz cada vez mais preparada e motivada para voltar a competir em alto nível contra as melhores surfistas do mundo.
Entre os dias 1 e 5 de junho, ela encara a primeira das quatro etapas decisivas que podem recolocá-la de volta à elite em um de seus lugares preferidos, a região de Hossegor, França.
Mas enquanto a hora de competir não chega, a brasileira divide o seu tempo entre os intensos treinamentos em Matinhos (PR) e os compromissos profissionais, como a repentina carreira de modelo.
Destaque recente em um ensaio fotográfico da renomada revista norte-americana Sports Illustrated, Bruninha conseguiu uma brecha na agenda para participar do programa Altas Horas, que vai ao ar neste sábado, a partir das 1:30 horas na Rede Globo de Televisão.
De passagem pela capital paulista, a atleta falou com exclusividade à reportagem do Waves sobre a preparação para as próximas etapas do circuito mundial, o que espera da nova geração feminina, além de comentar sobre diversos assuntos.
Como foi o início de temporada no WQS?
Meu desempenho nas duas primeiras etapas na Austrália não foi bem como eu esperava. Em Newcastle, o mar estava bem pequeno. Era aquele mar de sorte, quem pegasse a onda certa passava. Já Margaret River é uma onda bem complicada, bem difícil.
Teve problemas com o equipamento?
Não, o equipamento estava bom. Nos anos anteriores é que tive problemas. Ou a prancha estava muito grande ou muito pequena. Mas neste ano o mar estava muito difícil e não consegui achar as ondas para fazer bons resultados.
Como está a preparação para as próximas etapas (França e Portugal)?
Como passei um tempinho em casa, estou conseguindo malhar bastante. Corro e faço bicicleta para fortalecer as pernas. Essas etapas são importantes, então vou dar o máximo para sair da Europa com bons resultados.
Você se sente mais preparada para voltar ao Tour?
Acho que sim. Não vai ser mais nenhuma surpresa. Quando eu entrei, me sentia muito nova. Estes dois anos funcionaram mais como uma experiência mesmo, para aprender e se acostumar, já que o Tour é uma coisa totalmente diferente. Também já sei mais ou menos como são as ondas, então vai ser melhor.
Sally Fitzgibbons, Carissa Moore, Tyler Wright e Coco Ho, atletas da nova geração, lideram o World Tour deste ano. Você acha que essas surfistas estão prontas para impedir o penta de Stephanie Gilmore?
Estão prontas. O nível está muito alto. Nos anos anteriores, a Stephanie era imbatível e estava muito à frente das outras meninas. Para ganhar dela tinha que surfar pelo menos três vezes melhor. Este ano está diferente e ela deve estar sentindo isso porque as meninas já chegaram arrebentando.
O que você acha do formato do World Tour? Acha que são poucas surfistas?
Seria muito bom se tivessem mais vagas para o WT e mais meninas no Tour. Mas o dinheiro é curto, então eles têm que continuar com esse número de meninas mesmo.
Mas seria legal. Por exemplo, são só seis vagas para subir e ainda tem as meninas do WT que, se estão mal no ranking, podem se classificar pelo WQS. Mas é assim. A gente acaba ficando apenas na torcida para que não demorem muito para aumentar o World Tour Feminino.
Jacqueline Silva sofreu um acidente de trânsito na última etapa do WT em Bells Beach, Austrália. Como recebeu a notícia?
Estava falando com a Coco Ho no telefone enquanto ela esperava a chamada para o evento feminino na praia. “Nossa, estão falando aqui que a Jacque sofreu um acidente”, ela contou. Eu não acreditei, e a Coco continuou: “A Jacque sofreu um acidente de carro e estão levando ela para a emergência”.
Eu fiquei muito assustada, torcendo para que não fosse nada grave. Depois que o dia passou e as notícias foram chegando graças a Deus soube que não era nada grave.
Chegou a falar com ela depois?
Sim, ela me mandou uma mensagem no Facebook e disse que vai operar o joelho, ficar fora por algum tempo. É triste, mas eu espero muito que ela se recupere rápido, joelho não é brincadeira. Mas ela vai conseguir porque é guerreira. Espero que se recupere logo.
Você disse antes que agora está com mais tempo para treinar. Como é a rotina fora do World Tour?
O número de viagens diminuiu bastante, está bem mais tranquilo e dá para passar mais tempo nos lugares que eu gosto, como a França, por exemplo. Vou conhecer lugares novos e pegar ondas boas. Quero ir para o México e Mentawai neste ano.
Também dá para ficar mais em Matinhos, ver a família. É lógico que não estou feliz em sair do Tour, mas este ano está sendo bem gostoso também.
E a participação no programa Altas Horas e na revista Sports Illustrated? Como é conciliar a carreira de surfista com a de modelo?
Eu não sou modelo (risos). Não faço muitos trabalhos deste tipo, é uma coisinha ou outra. Faço os catálogos da Roxy, mas fora isso é uma coisinha ou outra que surge. Então é super tranquilo.
No Altas Horas não fizeram muitas perguntas, era mais para participar do programa mesmo. Eu não falei muito sobre o esporte, sobre a carreira, era só algumas perguntas que o público e o Serginho (Groisman). Mas eu morri de vergonha, estava muito nervosa. Sorte que no final deu tudo certo, não gaguejei nem caí (risos).
Já o ensaio para a Sports Illustrated foi bem legal. Não sabia que a revista era tão grande e no início estava com medo, porque iria sozinha para o Canadá. Não sabia como seria, mas foi todo mundo super profissional.
O que você acha da nova geração de atletas do surf brasileiro?
Várias meninas estão surgindo, mas o que falta no Brasil é patrocínio e investimento para que elas tenham oportunidade de sair do país. Acho que é o sonho de toda menina competir o WQS e entrar no mundial. É isso o que está faltando, oportunidade, porque talento é o que não falta.
Qual a importância dos estudos na carreira de uma atleta? Qual recado você dá para a nova geração?
É muito importante. Tem que pelo menos terminar o segundo grau, porque depois que você começa a viajar não sobra tempo para mais nada. Querendo ou não, o surf é uma carreira curta e vai chegar uma hora que você não vai mais competir.
Por isso é bom pelo menos ter o segundo grau completo para depois poder prestar um vestibular, fazer uma parada que você goste e ter uma nova carreira. O surf a gente não larga nunca, vai surfar para o resto da vida. Mas vai chegar uma hora que você não vai mais poder competir no mesmo nível.
É muito importante pelo menos terminar o segundo grau. Eu ralei, foi difícil, achei que não ia conseguir, mas agradeço à minha mãe por não ter me deixado desistir. Hoje olho para trás e penso que estaria perdida senão completasse os estudos.