Palanque Móvel

Busca interminável

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Ondas perfeitas, como Pipeline, sempre despertaram a imaginação dos surfistas. Foto: Bruno Lemos / Liquid Eye 

Desde quando os polinésios descobriram que era possível deslizar com uma tábua sobre as ondas do oceano, nasceu um sentimento de busca e desbravamento que perdura até hoje. Uma vontade, herdada dos navegadores, de se descobrir uma onda diferente, ainda mais longa, mais rápida, e, acima de tudo, uma onda nova.

Com o decorrer dos anos, a partir das décadas de 50 e 60, por conta de uma facilidade um pouco maior de se cruzar continentes, os verdadeiros pioneiros das hoje chamadas “surf trips”, deram início a uma jornada de globalização do surf que continua a todo vapor.

O surfista percebeu que valia a pena deixar para trás a sua rotina e seu habitat, ainda que somente por algum tempo, em busca de novas praias, outras culturas, e, é claro, ondas perfeitas.

A partir de meados dos anos setenta, as surf trips tornaram-se uma febre entre os surfistas. A cada ano, a cada revista publicada, uma nova onda clássica era anunciada, e o mundo foi ficando cada vez menor diante da vontade de desbravar novos horizontes.

Por conta disso, a busca ficou um pouco mais direcionada. Picos como Pipeline, Uluwatu e J-Bay tornaram-se objetos de desejo de milhares de jovens mundo afora. Ao invés de querer surfar uma onda virgem pela primeira, a maioria da galera já saía de casa com destino certo. E muitos para o mesmo destino, formando o que veio a ser chamado de crowd! Aliás, algo absolutamente compreensível, depois de se ver e sonhar, por tantas vezes, com aquela foto dupla de uma esquerda perfeita na revista.

Conforme a quantidade de picos nunca antes surfados foi diminuindo, a surf trip foi tomando um caráter de desbravamento pessoal para cada surfista. Mesmo sabendo que o local não é inexplorado, o surfista viajante sabe que, lá, conhecerá outra cultura, vivenciará novas experiências, e, principalmente, surfará ondas perfeitas o dia inteiro. 

Esse é um dos pontos mais importantes de uma surf trip, na minha opinião. Muitos surfistas, mesmo os que já moram em cidades com ondas muito boas, não têm tempo para surfar a hora que querem, o tempo que gostariam, por conta de outras obrigações. Em uma surf trip, meu amigo, o dia inteiro está reservado para o surf. E, normalmente, a não ser que o cara escolha mal, com ondas funcionando! 

Durante a trip, seja de uma semana ou um mês, o surfista se esquece do que está acontecendo no resto do planeta e foca todas as suas energias naquele mundo paralelo de ondas perfeitas. O resultado disso é um crescimento pessoal, porque, a cada limite superado, se tem aquela sensação de renascimento, principal razão pela qual o surfista é conhecido, em todo mundo, como um ser de alma jovem. 

Enfim, seja na busca por uma onda nunca antes surfada ou por uma evolução pessoal, naquele pico já consagrado, viajar para pegar onda é algo que, sempre, inquestionavelmente, engrandece o surfista, dentro e fora d’água.