Por Dejair dos Santos
Estudos arqueológicos e antropológicos evidenciam que a origem do surf remonta às civilizações pré-colombianas, da mesma forma que as bases do surf moderno têm seu berço na Polinésia, precisamente nas ilhas havaianas. Mas, não há como negar que muito do desenvolvimento da modalidade ocorreu na Costa Dourada norte-americana, na Califórnia.
Até mesmo a primeira revista especializada de que se tem notícia surgiu naquelas bandas. Trata-se da Surfing Magazine. A segunda mais velha, a Surfer, também é californiana.
Não foi por acaso que a International Surfing Association (ISA) optou por Huntington Beach para ser a sede do I ISA World Surfing Games, realizado em outubro de 1996, reunindo pela primeira vez em uma só competição, surfistas amadores e profissionais, nas mais variadas formas de surf.
Mas a contribuição da Califórnia para a evolução do surf vem de longa data. Já em 1907, um cara de nome Henry Huntington (sacaram?), proprietário de uma rede de ferrovias na Califórnia, resolveu convidar George Freeth – na época, o principal surfista havaiano e ,talvez, do mundo – para participar das festividades de inauguração da famosa rota da Costa Oeste dos Estados Unidos, entre Los Angeles e Redondo Beach.
George Freeth, que foi apresentado por Huntington, como “o homem que andava sobre as águas”, chegou do Havaí com uma prancha e a vontade de promover uma revolução nos costumes. Não deu outra coisa, logo, boa parte dos californianos estavam pegando ondas. Até 1919, ano de sua morte, Freeth foi o maior responsável pelo desenvolvimento do surf na Costa Oeste norte-americana. Com ele, a California aprendeu a surfar.
Pranchas pesadas – Até os anos 20, as pranchas de surf pesavam entre 50 e 80 quilos, possuindo ainda um tamanho em torno de 15 pés. Diante disso, um americano do Estado de Wisconsin (não banhando pelo mar), mas radicado na Califórnia, acabou por desenvolver um projeto quem diminuiu o peso das pranchas para algo em torno de 25 a 30 quilos.
Foi com as chamadas pranchas ocas, que Tom Blake, que em 1928 viria a conquistar o título de campeão da primeira competição oficial de surf realizada na Costa oeste norte-americana, em Corona Del Mar (35 milhas aos sul de Los Angeles), promoveria uma autêntica revolução, permitindo que um número bem maior de pessoas viesse a pegar ondas.
A evolução prosseguiu e, já em 1949, outro americano, Bob Simmons, o surfista que, na época, mais entendia de fibra de vidro, construiu a primeira prancha inteiramente deste material. O surf começou a explodir nos Estados Unidos. Pranchas de fibra eram leves e fáceis de transportar. Os anos dourados dos Estados Unidos (50/60) permitiram à maioria dos jovens a aquisição de pranchas deste tipo.
Foi por volta de 1957/58 que alguns nomes famosos do surf da época começaram a trabalhar pranchas de espuma. O milagre estava começando. Era possível dar o shape necessário, fazer pranchas mais leves, mais práticas.
Um cara chamado Gordon Clark criou uma indústria de espuma, a famosa Clark Foam, que até os dias de hoje praticamente monopoliza o mercado de blocos de poliuretano, um material muito fácil de ser trabalhado.
Manobras – Mas o surf não deve à Califórnia apenas a evolução de seu equipamento básico. Entre os anos 50 e 60, um surfista californiano de nome Phil Edwards, inventou manobras como o hang ten, hang five, cut back e cut back Knee Turn, entre outras.
Respeitado até hoje, mesmo quando os shortboards predominam em uma luta desigual com os longboards, Phil Edwards é considerado um mestre na arte de surfar.
E foi também um californiano, Mike Doyle, o primeiro surfista a receber premiação em dinheiro em um campeonato. Isso ocorreu em 1968, no Duke Classic, realizado no Havaí. Assim começava o processo de profissionalização do surf.
Indústria do surf – Considerada o berço da indústria do surf, a Costa Oeste dos Estados Unidos tem lugares incríveis, como North County, Seaside (pico preferido de Rob Machado), Cardiff (onde o longboarder Joel Tudor surfa regularmente), San Diego, San Clemente, Rincon (onde o tricampeão mundial de surf Tom Curren pegou suas primeiras ondas) e a histórica Malibu palco das manobras radicais dos anos 60.
Dois outro picos também merecem destaque: Mavericks, das gigantescas ondas que mataram Mark Foo, em dezembro de 1994, e Santa Cruza, onde foi construído um dos principais museus do surf do mundo. Não deixa de ser um ponto da ser visitado por todo surfista que se preze. Afinal, surf também é cultura e história.
A Califórnia ainda é a terra de lendas do surf como Phil Edwards Pat Curren (pai de Tom Curren), Corky Carrol, Gordon Duane, Mickey Doyle e tantos outros. A surf music original também tem na Califórnia sua terra natal. Mas isso, convenhamos, é tema para um capítulo à parte da nossa história.
Referências:
The Next Wave, The World of Surfing, Nick Carrol
Stoked, Uma história da Cultura do Surf, Drew Kampion
Legendary Surfers, Malcolm Gault-Williams