Bino Lopes

Campeão na expectativa

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“Não vejo a hora de disputar a etapa brasileira do CT”, diz o campeão brasileiro Bino Lopes. Foto: Divulgação.

 

Faltam pouco menos de dois meses para a etapa brasileira do Championship Tour, mas já tem atleta de olho no Oi Rio Pro, competição que será disputada entre os dias 10 e 21 de maio, no Rio de Janeiro (RJ).

Atual campeão brasileiro profissional, o baiano Bino Lopes aguarda ansiosamente pelo convite da World Surf League (WSL).

Tradicionalmente, a entidade tem chamado os campeões nacionais para a prova. No ano passado, a vaga ficou com David do Carmo – vice-campeão da ABRASP – já que o campeão (Italo Ferreira) já fazia parte da lista de atletas da elite mundial.

Além de conquistar o título brasileiro no ano que marcou o retorno do SuperSurf, Bino fez ótimas apresentações no Qualifying Series (QS), vencendo uma etapa na França e chegando às quartas do QS10.000 em Açores, Portugal, onde perdeu de forma polêmica para Jack Freestone nas quartas-de-final.

Em entrevista concedida ao Waves, o novo campeão brasileiro fala sobre o título, suas performances no QS e a expectativa para disputar o Oi Rio Pro.

 

Qual a importância desse título brasileiro para a tua carreira?

Representa muito para mim trazer de volta para o meu estado o título nacional. Todos sabem da importância, da dificuldade, do trabalho que se tem para conquistar um título como esse, então para mim é muito gratificante poder trazer o título de volta ao meu estado depois de 23 anos (até então, apenas Jojó de Olivença havia conquistado o título brasileiro, em 1988 e 1992).

Um dos maiores prêmios ao campeão brasileiro tem sido a participação nas etapas brasileiras do CT. Qual a expectativa para participar da prova no Rio?

Não vejo a hora de disputar da etapa. Há praticamente 10 anos a vaga é destinada ao campeão brasileiro, então nada mais justo que a vaga ser minha. Sou o atual campeão brasileiro e o Mundial será no Brasil. O Circuito foi forte, teve o retorno do SuperSurf e tivemos mais de 10 etapas ao longo do ano. Minhas expectativas são as melhores, venho treinando bastante para quando chegar o momento eu estar preparado e focado em busca de um bom resultado.

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Bino fazendo a festa com Willian Cardoso e Deivid Silva depois de vencer a etapa do QS em Anglet, França. Foto: Laurent Masurel.

Em 2015, você teve ótimos momentos no Qualifying Series no segundo semestre, inclusive venceu uma etapa na França. O que faltou para conseguir a vaga?

No ano passado eu tive alguns bons resultados no QS e acho que precisava de dois bons resultados para garantir a vaga. Infelizmente, em algumas situações com placar mais apertado eu não consegui avançar e isso influenciou bastante no fim do ano. Mas acho que essas coisas fazem parte do julgamento, por ser subjetivo. Acho que preciso sempre melhorar para que os juízes gostem cada vez mais do meu trabalho. Poderia ter passado em algumas baterias que eu perdi, mas isso não vem ao caso. Acho que temos de continuar trabalhando, ficar cada vez melhor, para que as vitórias fiquem mais nítidas nas baterias.

Por falar em baterias acirradas, o duelo nas quartas-de-final no QS10.000 em Açores foi bem polêmico. Muitos achavam que você teria conseguido a virada no fim…

Açores foi uma etapa Prime, de nível máximo, então é fundamental para o ranking. Aquela bateria contra Jack Freestone foi muito importante porque já estávamos nas quartas-de-final e eu somaria quase 2 mil pontos a mais se avançasse. Foi uma bateria duvidosa. Várias pessoas vieram falar comigo, achando que eu tinha passado, mas é isso. Como falei, o julgamento é subjetivo e acho que todos os juízes estão fazendo um bom trabalho, dando o seu melhor. Cada um tem a sua opinião. Infelizmente eu não consegui passar, mas faz parte. Acho que este ano preciso melhorar para esse tipo de dúvida não existir mais.

Você teve uma evolução muito grande na carreira. Quando era mais novo, não teve bons resultados a nível nacional. Porém, com o passar do tempo, ganhou eventos importantes e hoje em dia luta pela classificação ao CT. Fale sobre essa evolução.

Eu comecei a competir tarde, já na Mirim, o que não é normal. Geralmente a molecada vem desde cedo, de Grommet. Comecei por hobby, sem o objetivo de virar profissional. Fui gostando, vencendo alguns eventos estaduais, mas realmente nos nacionais eu tive poucos resultados expressivos. Até que virei profissional aos 20 anos, já tarde também. Quando você vira profissional você leva logo um baque, perde bastante. Mas acreditava que tinha potencial e que era mais uma questão psicológica por não conseguir colocar em prática o que sabia. E foi assim por muito tempo, mas sempre gostei muito do que eu fiz, sempre gostei de surfar, de estar na água, e sabia que era isso o que eu realmente queria. Minha única opção era continuar treinando, melhorando, acreditando. Fiz isso e graças a Deus as coisas melhoraram. Evoluí bastante e conquistei alguns bons resultados no Brasil e lá fora também. Espero que a evolução seja contínua e eu fique cada vez melhor.

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Bino Lopes em uma bomba em Haleiwa, Havaí. Foto: WSL / Ed Sloane.

 
Vamos falar do presente. Como foi a sua participação na perna australiana do QS?

Foi razoável. Consegui fazer um bom resultado em Boomerang Beach, ficando em terceiro lugar. Era um evento de alto nível, mas o status era baixo, com apenas 1000 pontos para o campeão. Apesar de ter chegado à semifinal, não tive a pontuação que eu gostaria. Nos eventos de 6.000 eu perdi na segunda fase. O mar estava bem difícil. Em Newcastle eu não fui feliz na escolha de ondas e meus adversários foram melhores. Em Manly tive uma bateria muito difícil, bem disputada desde o começo. Cheguei a liderar durante boa parte do tempo, mas, na última onda, Stuart Kennedy virou por pouco e conseguiu avançar. Foi uma perna razoável, mas daqui pra frente teremos outros eventos e espero estar preparado para obter melhores resultados e conquistar o meu objetivo.

Você acabou se contundindo depois da Austrália. O que aconteceu?

Depois da perna australiana, embarquei para uma trip na Indonésia ao lado do meu amigo Flávio Nakagima. Passamos uma semana pegando altas ondas em Lakey Peak, na ilha de Sumbawa. No último dia, um novo swell chegou ao pico e fizemos uma sessão de despedida.

Quando já estava disposto a sair da água, peguei um tubo para a esquerda e fui amassado pelo lip quando saía do canudo. Tentei completar, mas a guilhotina me pegou. Saí com a perna de trás esticada e fiquei com o peso todo concentrado na da frente. A onda acabou amassando minha perna e meu joelho estalou na hora.

Tive muita dificuldade para sair da água. Fiz uma ressonância no Brasil e foi diagnosticada uma lesão no ligamento colateral medial de grau 2. A expectativa é estar de volta daqui a 30 ou 40 dias.