Campeões mundiais são formados em boas ondas

Renan Rocha, Pipe Master 2001, Pipeline, Hawaii

Se Teco Padaratz e Fábio Gouveia tivessem sido criados de frente para Hanalei Bay, no Kauai, teriam tido melhores chances no WCT? Foto: Reprodução.

Um brasileiro campeão mundial do WCT. Não é esse o sonho de boa parte da torcida brasileira?


Durante um momento de reflexão, raciocinei: “No futebol somos campeões mundiais e exportamos nosso talento a tal grau que até estamos passando por uma defasagem de atletas em nossos clubes. Assim que um craque aparece em nossos campos já é vendido para o exterior”.

 

É lógico que a história do futebol em nossa terra é muito longa, enquanto a do surf está apenas engatinhando – em uma comparação grosseira.


Campo de futebol. No nosso país são diversos os pequenos e grandes clubes e os novos talentos tem uma área perfeita para lapidar suas habilidades. Nas favelas rolam excelentes peladas, afinal eles só necessitam de um bom espaço com uma trave em cada extremidade. E no surf?

 

Renan Rocha já mostrou em Pipeline que brasileiro também gosta e tem apetite para tubos pesados. Foto: ASP World Tour.

O atual bicampeão mundial Andy Irons cresceu na ilha do Kauai. Já o seis vezes campeão do mundo Kelly Slater, apesar de ter nascido na Flórida, desde moleque já passava suas férias no Hawaii. Tom Carroll, Tom Curren, enfim, todos os ídolos do esporte, verdadeiros campeões, lapidaram seus diamantes em ondas de qualidade.


Nossas ondas são boas o suficiente para que nossos talentosos surfistas amadureçam o talento que Deus deu a eles? Creio que não.


Sabe por quê fomos diversas vezes campeões do WQS? Lógico! As ondas desse circuito são similares as que nossos atletas cresceram surfando. Não que não tenhamos excelentes surfistas de ondas boas como Pipeline, Teahupoo, Fiji, Hossegor, Jeffreys Bay, onde são disputadas as etpas do WCT.

 

Afinal, Renan Rocha, Paulo Moura, Guilherme Herdy, Peterson Rosa e Fábio Gouveia já provaram que “gostam da fruta”, porém, para atingir uma regularidade necessária para chegar ao topo no final do circuito é preciso mais.


Na minha concepção, se quiseremos criar não um, mas alguns atletas com potencial para faturar o caneco, como no futebol, devemos concentrar nossas forças na construção de alguns fundos artificiais na nossa costa.

 

Podemos não ter ondas perfeitas com tanta constância, mas não faltam swells. O desperdício de ondas aqui é impressionante. Se tivermos um fundo articial em cada uma das principais capitais, creio que poderemos daqui alguns anos bater de frente com a nova geração de havaianos, australianos e americanos.


Muita gente pode achar que ainda seremos campeões mundiais sem um investimento desse tipo, mas como explicar para um garoto de 17 anos que ele tem que entubar fundo em Pipeline, se ele poucas vezes se deparou com uma bancada daquela e muito menos com um lip tão grotesco.

 

Ah, aqui a moda é mandar a garotada com 16, 17 anos para morar na Austrália por até um ano, e mais alguns anos com dois a três meses de Hawaii e pronto, vamos torcer para que ele ganhe do Andy Irons em Pipe, com ondas de 10 pés, ou do Luke Egan em Teahupoo, ou do Hobgood em Fiji. Pode até ser que ele vença um desses eventos, agora os três e o título mundial…

 

Na Austrália, onde não faltam fundos de pedras e bancadas perfeitas, ja existem alguns fundos artificiais. Já vi alguns bons projetos no Brasil. Agora, meu sonho seria vê-los realizados.

 

Quanto custa um fundo? Cerca de 1,5 a 2 milhões de dólares. Será que é muito para um governo ou prefeitura? Eu acho que não, só o retorno turístico a longo prazo seria muito maior. Além de parcerias que podem ser feitas entre empresas de fora e dentro do nosso mercado. O número de praticantes iria aumentar – afetando positivamente o nicho surfístico brazuca.

 

Temos alguns bons patrocinadores, ótimas pranchas e muito talento. Porém, políticos e empresários, coloquem em suas planilhas. Fundos artificiais já!


Aloha!

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