#Nosso colaborador-biológo Denis Abessa entrevistou Otto Bismarck Fazzano Gadig, da Universidade Santa Cecília, em Santos (SP), um dos maiores especialistas em estudos e pesquisas sobre tubarões do Brasil. Entre mitos e verdades, injustiças e descasos, o pesquisador descreveu o quadro realista que ronda o mais temido animal dos oceanos.
Como é estudar um animal que provoca pânico nas pessoas? Imagino que lutar pela sua preservação deva ser uma tarefa bem difícil…
É complicado pelo lado educacional. Como estamos nos referindo a um animal que não tem a simpatia das pessoas, pelo contrário, causam medo, então realmente fica muito difícil fazer com que as pessoas percebam que as coisas não chegam a ser tão terríveis. Por outro lado, justamente por ser um animal que desperta esse tipo de sensação, não precisamos fazer qualquer esforço para que as pessoas se aproximem da gente procurando saber mais sobre um animal tão fascinante. Aproveitamos o fato de o público se interessar pelo terror que ele desperta para tentar passar outras idéias sobre eles.
Acredito que boa parte do medo que as pessoas sentem em relação aos tubarões se deve a ignorância. Por outro lado, tubarões são animais fantásticos, altamente adaptados ao seu ambiente. Fale um pouco sobre isso.
Sim, não só o medo, mas o fascínio que as pessoas sentem pelo tubarão também é fruto do desconhecimento. E também ao conhecerem passam a respeitá-lo mais. Os tubarões são um belíssimo exemplo de animal adaptado ao meio ambiente. Na verdade grande parte do sucesso evolutivo que esses animais atingiram se deve ao seu espetacular sistema sensorial, que praticamente não encontra rivais no reino animal, se é que caberia a comparação. Sensorialmente, podemos citar a capacidade visual dos tubarões, que é melhor do que se pensa. Há tempos acreditava-se que estes animais não tivessem boa visão. Mas, estudos iniciados na década de 60 mostraram que os tubarões tem uma excelente capacidade de visualização, principalmente em ambientes de baixas luminosidade, graças à estruturas refletoras de luz situadas por trás da retina. O olfato é um recurso sensorial dos mais desenvolvidos. As narinas estão situadas na parte ventral do focinho e por elas é que a água passa, deixando estímulos químicos de substâncias diluídas na água. Não só o sangue pode ser atraente aos tubarões, mas também a urina, fezes, óleos, ácidos etc. Experimentos já demonstraram que um tubarão, dependendo da espécie, pode captar o estímulo químico de uma parte de sangue diluída em mais de 1 milhão de partes de água. A ‘Linha Lateral’ dos tubarões é responsável pela percepção dos estímulos mecânicos. A linha lateral consiste em milhares de poros distribuídos em fileira ao longo dos flancos e da cabeça do tubarão. Internamente, esses poros se comunicam com um canal cheio de células ciliadas nervosas denominadas neuromástias, as quais captam as vibrações de um peixe ferido, por exemplo, ou qualquer outro movimento que saia do ritmo normal de vibrações. É por causa desse sentido que se aconselha a permanecer o mais parado possível à frente de um tubarão. As ‘Ampolas de Lorenzini’ são estruturas situadas na região da cabeça que se comunicam externamente, através de poros. Internamente a esses poros, existe um tubo contendo uma substância gelatinosa, condutora de eletricidade, a qual vai dar numa câmara que contém células nervosas que vão captar esse estímulo. Essa sensibilidade a estímulos elétricos é muito útil quando o tubarão quer encontrar presas enterradas no fundo. Todo o anima tem um campo elétrico em volta de seu corpo e esse campo é detectado pelo tubarão.
É verdade que os tubarões estão sendo dizimados, já havendo inclusive certas espécies em perigo de extinção?
Sim, muitas espécies hoje se encontram em declínio porque suas populações não estão suportando a pressão que as grandes pescarias industrializadas estão fazendo. Como esses bichos têm características reprodutivas que os tornam muito vulneráveis, o resultado é que em muitos locais está se observando o declínio de população. É o caso do tubarão branco no sul da Austrália, do tubarão raposa na Califórnia e dos cações anjo no sul do Brasil.
E tem ainda a pesca patrocinada por certos países visando somente o uso das nadadeiras… Eles cortam as nadadeiras e jogam o resto do animal de volta pra água… Essa pesca chega a ser significativa para o decréscimo das populações de tubarões?
O maior terror para os tubarões é justamente essa questão. Existem dados assustadores indicando que mais de 80% dos tubarões mortos no Atlântico norte (por ano) tem as suas nadadeiras retiradas e depois são jogados de volta ao mar, onde morrem. A pesca industrial de tubarões atua na captura desses animais muito mais para retirar suas nadadeiras, das quais se faz um prato caríssimo (sopa de nadadeira de tubarões, com propriedades afrodisíacas duvidosas), da culinária oriental. O valor da nadadeira atinge um alto preço no mercado. Recentemente, a TV exibiu cenas de um ataque de tubarão na África do Sul (felizmente sem maiores conseqüências para a vítima) e o DVD do filme “Tubarão” foi lançado com estardalhaço. Isso afeta o trabalho de educação ambiental que vem sendo feito visando desmistificar os tubarões? Como?
Sempre atrapalha. Ninguém está muito interessado em mostrar outra coisa sobre tubarões que não seja seus ataques contra seres humanos. O que é um trabalho de educação ambiental restrito contra a massificação da comunicação? Fica mesmo muito difícil. Quem sabe as pressões internacionais para a conservação de vários animais, o modismo da globalização, a eco-moda, enfim, esses temas podem ajudar na divulgação de uma idéia mais positiva sobre tubarões? Tem muito pesquisador que não está nem aí com os tubarões, mas sabe que hoje a moda é fazer papel de bom moço. Quem sabe, com um maior contingente de pessoas interessadas na causa (independente da demagogia, como o Sr. Peter Benchley, autor do livro que se diz “arrependido”), as coisas ainda possam ser revertidas.
O Peter Benchley é o autor de Tubarão? Nos documentários que vejo sobre tubarões, de vez em quando aparece um senhor (seria esse?) relacionado com o filme, dizendo que agora é o maior defensor dos tubarões, que depois do filme passou a estudá-los e admirá-los e então percebeu o que tinha feito de mal a eles…
Exatamente. O Peter Benchley está fazendo uma jogada publicitária. É curioso ele fazer o “mea culpa” agora, exatamente no momento em que aumentam as pressões internacionais nesse sentido. Recentemente, em Nairobi, Quênia, uma convenção internacional pela conservação da fauna excluiu deliberadamente algumas espécies de tubarões da lista de espécies a serem protegidas. Isso causou mal estar geral e as pressões cresceram. Logo depois, reapareceu Peter Benchley. Ele escreveu outro livro, em 94 ou 95, não me lembro exatamente, que tratava também de um tubarão branco assassino. Foi outra investida pra dar uma engordada na conta bancária. Passou batido. Daqui a pouco, nós brasileiros, vamos pagar pra ele vir aqui falar pra gente como cuidar de nossos tubarões. Da mesma maneira como pagamos para que venham órgãos internacionais aqui nos ensinar como tratar nossa fauna, nossas florestas, nossos índios (porque lá quase não tem mais nada disso) e como cuidar dos direitos humanos etc… Cada coisa na sua devida proporção, mas é exatamente a mesma concepção de terceiro mundo que nós temos e continuamos a assumir perante a comunidade internacional. Infelizmente a gente só faz questão de mostrar para o mundo que temos orgulho de nosso futebol (e olha que nem anda mais aquelas coisas), mulheres gostosas e outras coisas no nível de Zé Carioca mesmo.
Falando agora de um assunto obrigatório, os ataques em Pernambuco. Já se tem uma idéia das possíveis causas e das espécies relacionadas?
Sim, basicamente os ataques estão relacionados à degradação ambiental causada pela construção do porto de Suape, no litoral sul de Pernambuco. Essa obra implicou na destruição de áreas de manguezais, fechamento de bocas de rios, dinamitação de recifes, enfim, atividades que causaram um colapso na cadeia alimentar. Aí os tubarões, sem alimento, começaram a atacar pessoas, entre elas, a população cada vez maior de surfistas naquela área.
Isso parece indicar que impactos ambientais causados pelo próprio homem são as causas do desequilíbrio… Agora, dizem também que tubarões não apreciam carne humana em geral. Isso pode ser considerado verdadeiro? Nesse caso, ataques seguidos poderiam ser decorrentes de um mesmo animal com um “paladar diferenciado” por aceitar carne humana?
Por partes: Sim, a maioria dos ataques no mundo está relaciona ao desequilíbrio (em maior ou menor escala) causado pela ação do homem. A construção do Porto em Pernambuco é um belo exemplo. Outro exemplo é a pesca predatória que elimina suas presas e os animais acabam por “experimentar” outras coisas. A própria invasão do mar é uma alteração dramática para os tubarões. Outra questão que você levantou se refere sobre o gosto e paladar dos tubarões. Eles provavelmente não devem gostar do sabor da carne humana, mas isso não significa que o homem não o atraia de algum modo, fazendo com que ele se aproxime e eventualmente morda alguém. O homem realmente não é a presa favorita dos tubarões e os ataques estão relacionados a distúrbios ambientais mesmo. Ataques seguidos podem ser colocados por dois modos: 1) um mesmo animal que ataca várias vezes, várias pessoas, num curto espaço de tempo e área geográfica restrita. Existe pelo menos um exemplo confirmado disso, a teoria do ‘Rogue Shark’ e aconteceu em julho de 1916, em Nova Jersey (EUA), quando um mesmo tubarão branco atacou várias pessoas e, depois de ser capturado e morto, os ataques cessaram e do estômago do bicho foram retirados restos humanos das vítimas que ele havia atacado. Ficou confirmado nesse caso que um único animal causou aquele estrago todo. Isso trouxe uma idéia errada de que ataques em série são causados por um mesmo animal. 2) O outro modo se refere a um distúrbio ambiental que faz com que uma população localizada de tubarões comece a atacar, como é o caso de Recife. Em Durban, África do Sul, também aconteceu uma série histórica de ataques, em 57, e até pouco tempo a idéia era de que um único animal tivesse feito tudo aquilo, mas hoje a idéia é de que provavelmente vários animais tenham dado tanto problemas, até porque naquela área o problema de ataques sempre se fez presente e em Nova Jersey nunca mais se ouviu falar nisso, exceto por mais um caso muitos anos depois.
No ano passado, uma revista de surf publicou uma matéria defendendo a eliminação sistemática dos tubarões como forma de se evitar mais ataques. Sobre isso eu gostaria de fazer duas perguntas:
a) Como fica a opinião de um especialista quando coisas como essa são veiculadas na mídia?
É complicado a gente estar sempre lendo coisas terríveis sobre os tubarões. Na verdade a gente está num país onde as pessoas menos gabaritadas se atiram a discorrer sobre um assunto sem qualquer conhecimento e ainda têm espaço em mídia pra poder desfilar tamanha ignorância. Os pesquisadores, na sua maioria, por outro lado, não fazem um trabalho forte junto à mídia e então acaba sobrando espaço para esses “gênios” se manifestarem. Eu, como trabalho com tubarões e eventualmente estou envolvido com os meios do surf, procuro ler muito sobre esse esporte, mas não me meto a falar. Esses “escritores” precisariam aprender muito. Não há qualquer condição de dizer que estão equivocados, porque quem escreve coisas daquele tipo não deve ser capaz de entender o argumento mais primário… Sinto muito mais pelos surfistas, que se baseiam nesse tipo de coisa para formarem sua opinião.
Naquela matéria, é citado um fato no Hawaii, onde após um ataque houve uma mobilização forte para caçar os animais responsáveis (pura vingança?) e pescadores capturaram dois tubarões tigre. Já ouvi dizer que algo semelhante ocorreu em Recife. De qualquer modo, não me parece muito lógico pensar que após o ataque o tubarão fica ali esperando uma nova vítima… Mas o pior de tudo é que na falta de outro tipo de informação, muita gente começa a achar que eles estão certos.
Está aí um exemplo de ignorância herdada. O que aconteceu em 1916: um único tubarão atacou e matou várias pessoas e depois que mataram o animal (e naquele caso justamente o agressor) os ataques acabaram, aí ficou na idéia da cultura americana (inclusive o filme tubarão foi baseado naquilo) e uma situação absurda como aquela foi assumida como regra. No Hawaii, naquele mesmo ano, foram nove casos de ataques, vários depois de que os caras mataram aqueles dois tubarões tigre. Isso significa que, se fosse um único agressor, os ataques deveriam cessar e mesmo que aquele animal tivesse atacado, outros rondavam a área. Ninguém pergunta o porque das coisas e simplesmente tenta resolver da maneira mais prática, mas nem sempre correta.
b) Os tubarões são predadores do topo da cadeia biológica marinha e atuam como reguladores das demais populações de peixes. O que você acha que poderia acontecer para o ecossistema marinho se os tubarões fossem eliminados de fato?
Colapso ambiental. Como um exemplo didático, imaginem que tubarões comem polvos e polvos comem lagostas… Se você elimina o tubarão, acaba sobrando polvo e com mais polvos pra comer lagosta, ela não agüenta e some… Sumindo as lagostas somem os próprios polvos que não tem mais o que comer… e por aí vai. Imaginemos uma comunidade de pescadores, ou mesmo uma indústria que sobrevive da pesca da lagosta..? É só um pequeno exemplo. Tudo é muito delicado quando se fala em cadeia alimentar. Tudo está interligado e nem sempre compreendemos como funciona.
Existem áreas onde os tubarões tendem a ocorrer em maior número ou depende da espécie considerada?
Depende da espécie e da área. A distribuição e a abundância dos tubarões é fortemente ditada pelas condições ambientais. Existem mais de 400 espécies de tubarões, cada qual adaptada a um tipo de ambiente. Existem muitas espécies de águas rasas, águas profundas, também águas quentes, frias e tem até espécie que entra em água doce, embora seja marinha. Mas a maioria das espécies está distribuída nas águas tropicais e subtropicais.
Muita gente fala de estuários e recifes de coral como locais preferidos por algumas espécies de tubarões devido à disponibilidade de alimento, em especial tubarões tigre, martelo e cabeça-chata, que podem oferecer certo risco. Outros falam que onde tem muita foca também tem tubarão branco e tigre… Dá pra afirmar isso ou é pura especulação?
Não é bem assim, mas também não podemos considerar pura especulação. Realmente, como havíamos comentado anteriormente, os tubarões vivem em ambientes específicos aos seus hábitos. Existem espécies de recifes de coral, de estuários, de águas quentes ou frias etc. As espécies que você comenta são um bom exemplo, até porque o tigre, o cabeça-chata e o branco são considerados as mais perigosas. Os recifes de corais intactos não oferecem perigo para o ser humano, já que são ambientes equilibrados (e os tubarões, normalmente galhas brancas recifais e tubarões da galha preta, não são excessivamente agressivos). O cabeça-chata vive em áreas costeiras, principalmente nas desembocaduras de sistemas de rios e grandes estuários e nesses ambientes podem causar problemas. Tubarões tigres vivem em águas costeiras e lagunas tropicais, passagens entre ilhas e mesmo área recifal em menor quantidade. Esses são os picos de risco para encontro com os tigres. Áreas de desova de tartarugas e com ninhais de aves marinhas por perto podem ser perigosas também porque o tigre se aproxima para pegar aves que estão aprendendo a voar e também as tartarugas são presas comuns do tigre. Já o branco, principalmente os adultos, habita lugares onde existem grandes concentrações de focas e leões marinhos, pois se alimentam muito desses mamíferos marinhos.
Queria que você falasse do perigo de ser atacado, considerando o Brasil em geral, e também no litoral de Pernambuco, onde ocorreram os ataques recentes.
O perigo de ser atacado é muito baixo, mesmo em áreas de maior risco. Em áreas “normais” a possibilidade é sempre muito remota, embora seja bom explicar que risco zero não existe. Em áreas como Recife, Flórida, África do Sul ou outros locais onde ataques têm sido mais freqüentes, o problema do risco se refere a falta de conhecimento sobre a realidade local. Cada local tem situações de maior risco e basta seguir algumas normas para diminuir a chance de ser atacado. Em Recife, por exemplo, se você surfar todos os dias no período de um ano a sua chance de ser atacado vai aumentar consideravelmente, coisa que não aconteceria em locais onde não existe histórico de ataques.
E a estatística de ataques no Brasil? Você tem feito um levantamento científico sobre isso, tem alguma coisa que você gostaria de dizer sobre a freqüência, tipo de vítima, locais com maior número de ataques etc? Imagino que ataques não sejam muito comuns aqui em nosso país, mas que ocorram esporadicamente…
A maioria dos ataques, cerca de 60%, se deu na costa Nordeste, principalmente em PE, como todos já sabem. Existem dois padrões distintos a serem considerados: 1) ataques no Nordeste têm distribuição mais homogênea ao longo do ano, mas preferencialmente se dão nas estações secas, de estiagem, já que lá a gente não define quatro estações regulares; 2) no Sudeste/Sul a maioria dos ataques se deu nos meses quentes do ano, principalmente no verão, quando muitas espécies de tubarões, principalmente o galha preta e o martelo, se dirigem para a costa pra ter seu filhotes, e isso coincide com mais fluxo de turistas para as praias. Considerando toda a costa brasileira, temos registrado quase 100 casos neste século, a maioria causada por grandes tubarões do tipo cabeça-chata e tigre, mas também temos registrado acidentes causados pelo galha preta, martelos, a mangona e mesmo dois casos de ataques pelo tubarão-branco (não fatais, no Rio de Janeiro). A maioria das vítimas era homens, surfistas ou banhistas, mas também houve alguns acidentes contra mergulhadores (praticando caça) e pescadores. Casos de pessoas encontradas mortas na beira da praia com lesões causadas por tubarões também são conhecidos, mas na maioria das vezes não há como determinar se as causas da morte foram as lesões ou se tratava de afogamento.
De vez em quando não acontecem enganos quando a vítima vai relatar um ataque, tipo a pessoa ter sido atacada por uma barracuda e achar que foi um tubarão? Sabe-se que as barracudas do Atlântico são muito curiosas e às vezes chegam a ser agressivas…
Difícil confundir. Lesões causadas por tubarões são cortes normalmente irregulares, laminares, com bordas disformes e freqüentemente deixam a impressão individual dos dentes. Normalmente, cada corte causado por dentes de tubarões são elípticos e sempre dispostos de maneira ligeiramente linear ou obedecendo a um desenho claro, que corresponde à parte da arcada ou mesmo a toda a arcada. Mesma assim, não é qualquer pessoa que teria condições de avaliar esse tipo de coisa. Sempre é bom consultar especialistas, embora a gente saiba que não têm muitos por aí…
Lembro-me de estar na Califórnia e ter altas ondas, porém não havia ninguém na água. Perguntei pra um cara e ele respondeu: “aqui é área de tubarões brancos, não surfamos por aqui. É a casa deles”. Quer dizer, os surfistas locais já possuem uma outra visão, de respeito, não querem vingança, sabem que ali os tubarões são os donos… É, ao meu ver, uma atitude correta, pois não se pode justificar o extermínio de uma ou mais espécies simplesmente porque algumas pessoas querem se divertir. Eu pego onda e tenho consciência que nós, surfistas, invadimos o ambiente dos tubarões e temos de estar prontos para assumir os riscos. Por outro lado, em vários lugares do mundo já estão explorando o mergulho com tubarões, o que prova que eles não são os grandes vilões do mar, e sim belos animais que merecem ser apreciados. Você teria algo a dizer sobre isso tudo?
Acho uma visão sensata e razoável. Os surfistas californianos têm uma enorme consciência. Na Califórnia acontece a maioria dos ataques de tubarões branco no mundo. A rapaziada sabe os hábitos do bicho, quando ele aparece, o que vão fazer lá, o que comem etc. Isso é de interesse deles. A informação é maior arma contra muitos dos problemas que hoje enfrentamos. Os eco-mergulhos com tubarões têm esse lado legal de mostrar que os bichos não são o diabo que pintam. Por outro lado, se algum acidente acontecer durante essas atividades o efeito pode ser inverso. Daí há que se verificar quem promove tais atividades. Mas acho uma coisa positiva.
E pra fechar, mais alguma coisa que queira dizer? Você deixaria um e-mail pra contato?
Apenas agradecer a oportunidade de falar com o pessoal mais interessado na questão e me colocar à disposição para oferecer maiores esclarecimentos. Meu e-mail é [email protected]. Faço a estatística dos ataques de tubarões no Brasil e caso alguém tenha conhecimento de algum acidente e queira entrar em contato, as informações serão checadas e encaminhadas para pesquisa. Um abraço.