André Cyriaco no centro de Vancouver, Canadá. Foto: André Cyriaco. |
E era o topo do mundo mesmo. Estávamos bem perto do Alaska, notei depois ao o mapa.
Desembarquei em Vancouver depois de uma longa e cansativa viagem de 24 horas, com saída do Rio de Janeiro, escalas em São Paulo, Toronto e, por fim, Vancouver, localizada na costa oeste do Canadá.
Wick Beach é uma boa resposta para quem achava que no Canadá não existem boas ondas. Foto: André Cyriaco. |
Apesar de banhada pelo mar por todos os lados, não tem onda nesta moderna e chique cidade canadense.
Mas vale a pena passar uns dias por e conferir a mundialmente conhecida estação de ski Whistler; o dowtown (centro da cidade) e sua moderna arquitetura, além do Stanley Park, com atrações que incluem baleias e esculturas indígenas.
Mas, o destino era Vancouver Island, banhada pelo generoso e gelado Oceano Pacífico. A travessia até a ilha é feita por ferryboat (balsa) e o visual é surreal.
Uma combinação de águas claras e congeladas, cercadas por montanhas cobertas de neve pelo rigoroso inverno canadense, torna o local um dos mais bonitos do mundo.
Ao chegar à ilha desembarcamos na cidade de Nanaimo. De lá, são mais três horas de carro até Tofino, a surfcity canadense, balneário com luxuosos hotéis onde no verão circulam cerca de um milhão de turistas.
Mas, nesta época do ano, em pleno inverno no hemisfério norte… só surfista maluco mesmo.
Os irmãos Seep e Raph e o amigo Peter formam o trio de surfistas canadenses de destaque no cenário internacional e eles nos esperavam no local com boas e más noticias.
A boa: o swell estava encostado por lá e iria durar aproximadamente uma semana; a ruim: chuva e muito frio.
Naquele dia já fomos para dentro d’água e toda a curiosidade e ansiedade de saber como era surfar em condições extremas de frio foram premiada com 4 a 6 pés de ondas perfeitas, em um beach break chamado Chesterman Beach.
O crowd foi o que mais chamou a atenção naquela tarde chuvosa, sob uma temperatura de apenas 3 graus. E aquilo era apenas o começo…
Surfamos vários beach breaks por mais três dias. O pico que mais me impressionou foi Wick Beach, com suas ondas fortes, tubulares e manobráveis até o inside.
Gutemberg, com sua atitude go for it, e Seep, com seus aéreos, arrebentavam as ondas daquele que foi sem dúvida o maior e melhor dia de surf de toda a viagem.
A solidão e o tédio bateram logo na primeira semana. Então, partimos para mais ação. O rumo era o sul da ilha, mais precisamente para Victoria, capital da província, habitada por uma impressionante quantidade de mulheres bonitas e um povo altamente educado.
Apesar da ausência do surf, é impossível não ficar por ali uns dias, a trabalho ou a lazer, pois as opções são muitas, além das noitadas… Sabe como é, né primo! Muitos Bell?s (uísque) com energético.
Clique aqui para ver galeria de fotos da expedição ao litoral canadense.
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Antes de passar a parafina, é preciso tirar o gelo de cima da prancha. Haja sangue-quente de latino pra encarar essa gelada. Foto: André Cyriaco. |
Depois de três dias partimos mais para o sul da ilha e a esperança era pegar o swell que ainda estava pelo litoral, no pico mais badalado, Jordan River.
Chegamos pela madrugada e as ondas estavam com mais ou menos 4 pés, mexidas e tortas, pois o swell ainda não estava alinhado com a bancada.
Depois de umas boas horas de sono dentro do carro, nos deparamos com ondas perfeitas bem parecidas com as de Jeffreys Bay, África do Sul.
Fui o primeiro a cair e, antes de entrar na água, Guto deu um toque importante para qualquer um que se aventure por Jordan.
Visual de Jordan River, a prima canadense de Jeffreys Bay. Foto: André Cyriaco. |
Eles têm uma espécie de clube em frente ao pico. E antes e depois do surfe encaram uma sauna para esquentar o ânimo.
Foi um dia de surf inesquecível, com ondas que proporcionavam umas dez manobras, às vezes até mais.
Ficamos por ali mais três dias e surfamos altas ondas, tanto em Jordan como em Sombrio, onde encontramos três point-breaks que lembram o litoral peruano. E, como diz o nome, é bem “sombrio” mesmo.
Apesar de próximos de Victoria, Sombrio e Jordan River não possuem hotéis nem pousadas, o que colabora para preservar a região, que oferece natureza exuberante e selvagem. No verão, não é difícil esbarrar com ursos e outros animais típicos da região.
Lá também fiquei impressionado com a quantidade de pessoas surfando, muitas mulheres e crianças.
Nem parecia que estava nevando. É isso mesmo, velhinho, nevando! Partimos novamente para Tofino, pois a previsão informava a entrada de um novo swell por lá.
Era de filme o visual da estrada de Victoria até Tofino. As quatro horas que separam uma cidade da outra acabaram durando uma eternidade, pois toda hora havia uma parada para conferir a paisagem.
No dia seguinte fomos conferir Cox Bay, mais cultuado pico de Tofino. Para minha surpresa, fazia sol. Mas o frio, por incrível que pareça, estava ainda pior, com os termômetros marcando 2 graus negativos.
O caminho do estacionamento até a areia da praia estava completamente coberto de neve. Foi naquele momento que eu saí bicando todos os blocos de gelo à minha frente.
O surf em Cox durou mais dois dias. Já de cabeça feita e alma congelada, descansamos por um dia inteiro, jogando sinuca e batendo papo até altas horas para desviar um pouco a atenção do ‘trabalho’.
O descanso valeu e os dias finais prometiam. Cox não parou de quebrar e, para finalizar a trip, surfamos e passamos um excelente dia em Chesterman Beach.
Pronto! Finalmente poderia seguir meu rumo. A minha missão naquelas duas semanas estava cumprida e eu também não tinha mais peito de vestir aquele long-john congelado. Era hora de ir embora.
O surf no Canadá vem crescendo ano após ano e a cada dia são descobertos novos picos de ondas perfeitas, tanto no costa do Pacifico quanto no Atlântico.
Com um povo culto, o país tem uma das melhores economias do mundo. Portanto, anotem: o Canadá pode se tornar uma potência no surf mundial.
E, como todos os locais costumavam falar a toda hora: Sick (irado) Canada!
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Agradecimentos: Cláudio da Matta e Mormaii.