Raoni Monteiro está na lista de meus personagens prediletos no surfe. Uma alma viva, dotada de um irretocável currículo de erros e acertos, como todos nós, feitos de carne e osso. Um cara que rema com intensidade, tem brilho nos olhos, bem diferente dessa turma de discurso monocromático, orientada pelo marketing, que parece de plástico.
Pois esses garotos, esses mesmo, que ganham bons salários e são cortejados como heróis em redes sociais, mesmo longe da elite, devem estar espantados com o espírito indestrutível de Raoni.
O cara passou o ano à míngua, sem patrocínio, com problemas pessoais. Faltou etapa do WCT, endividou-se para sobreviver. Só que Raoni é do mundo real, um cara que aprendeu com a vida, um legítimo carne de pescoço, que não entrega os pontos.
Pela segunda vez na carreira, chegou a Sunset com a obrigação de fazer uma final para se classificar para o WCT. Pela segunda vez na carreira, fez a bendita final. O terceiro posto na prova, com a consequente vaga assegurada na elite em 2014, é um tapa na cara do mundo previsível. E, talvez, a maior prova de talento e bravura já dada pelo surfista criado em Saquarema.
Da conquista, nasceu um novo Raoni, que parece não se deixar oprimir mais pela falta de patrocínio num mercado tão obtuso como o do surfe. Um Raoni capaz de, em entrevista a um site logo após a conquista, preocupar-se mais em representar bem o Brasil que com um adesivo no bico da prancha.
Raoni Monteiro, um brasileiro que não desiste da elite, deixou claro que deseja competir patrocinado, mas, se o mercado não enxergar assim, como bem disse o surfista, foda-se. Estou com ele: foda-se.
A próxima temporada será pedreira, como todas as outras. Mas tem Bells, Tavarua, a novidade de Margaret River e outras ondas afeitas ao surfe power e cheio de linha de Raoni. E, agora, ele parece ter percebido que tudo o que precisa fazer é surfar. O resto, Raoni corre atrás, dá o seu jeito.
Com ou sem patrocínio.