No último mês de maio, decidi realizar um antigo sonho: pegar onda na praia de Zicatela, Puerto Escondido, México. Consegui o visto com facilidade, através do site do consulado mexicano no Brasil, e parti rumo ao pico.
No avião entre São Paulo e a Cidade do México, li em uma das revistas de bordo uma frase de Susan Casey – autora do livro Ondas – que dizia algo parecido com: O belo para tornar-se sublime necessita de um pouco de terror. Em menos de uma semana, consegui entender e contemplar o verdadeiro significado daquelas palavras.
Durante os 26 dias que estive no pico, duas ondulações encostaram no litoral mexicano. Brasileiros, norte-americanos, locais e pessoas dos mais diversos lugares não perderam tempo e aproveitaram o ótimo início de temporada.
O primeiro grande swell do ano chegou no dia 18 de maio e bombou por quase uma semana. Coco Nogales, Oscar Moncada, Shane Dorian, Greg Long, Nic Lamb, Ian Walsh, os bodyboarders, Chui, Sean Morin e Brandon Foster foram alguns dos destaques. Ficou fácil compreender o porquê a onda da praia de Zicatela é chamada de Mexican Pipe.
Quando o mar diminui, a onda de Punta Colorada é diversão garantida. Frequentado apenas por bodyboarders, o point é conhecido como skate park da modalidade.
No dia 30 de maio, o mar amanheceu em transformação. Durante a tarde, ficou nítido que o swell era mais consistente que o anterior.
Além dos atletas citados acima, Maya Gabeira, Ken Skindog Collins e outros big riders desafiaram as morras. O tow in reinou durante dois dias. Novamente as ondas quebraram por mais de uma semana. Verdadeiro espetáculo da natureza!
A cultura mexicana, pré-hispânica, tem referências de mais de cinco mil anos. Seu conhecimento sobre os astros, plantas, colheitas, arquitetura, sistemas de irrigação, engenharia, artesanato e outras áreas de conhecimento, ainda hoje levantam dúvidas e curiosidades a respeito da sua magnitude.
Segundo o artista local Edgar Alvarez (Cron), no dia 15 de maio, em algumas localidades do país, é comemorado o dia de Quetzalcóatl.
Existem várias lendas e contos referentes à esta figura mítica das culturas mesoamericanas (Asteca, Maia, Tolteca, entre outras). Reproduzo uma das histórias que escutei do pintor citado acima.
Quetzalcóatl é um dos deuses reverenciados pelos povos locais. Ele representa a união entre céu e terra (quando a água que desce das nuvens toca o solo), marca o início da temporada de chuva, orienta a época certa para semear, preparar a terra e colher. Coincidentemente, ou não, esta é a época das grandes ondulações em Puerto.
Baseado em experiências pessoais, preparei um pequeno guia de Puerto Escondido, confira abaixo:
– Altas temperaturas, água quente, árvores frutíferas, comida boa, cerveja barata e as cores da cultura local caracterizam o clima tropical do lugar.
– Os nativos são bastante acessíveis e de boa fé, estão acostumados com a presença de turistas do mundo inteiro, mas o respeito ao lugar e a quem nele vive é imprescindível.
– A moeda local é o peso mexicano. A troca de dólares pode ser feita em bancos (melhores taxas) ou casas de câmbio. Encontrei cotações variando entre US$ 1 = 10,50 pesos (aeroporto) e US$ 1 = 11,15 pesos (banco).
– Os custos para estadia ficam entre R$ 15 e R$ 200. Minha dica é a pousada do brasileiro Vandielli Esmael Dias.
– Para quem quer economizar na alimentação, a opção é fazer compras no supermercado local Super Che e cozinhar em casa. Nos restaurantes, uma boa refeição custa entre US$ 5 e US$ 20.
– Uma long neck gelada custa entre US$ 1 e US$ 2.
– O crowd, nos dias menores, é intenso!
– Pranchas de bodyboard: Vale a pena prestar atenção nos materiais que compõe sua prancha, a onda é bastante pesada e a água muito quente. Flexibilidade para uma boa cavada é a pedida.
– Existem inúmeras opções além de Zicatela, ondas de nível internacional, para todos os gostos e níveis técnicos. É só correr atrás, quem procura acha.
– Equipamentos: por ser um surfspot de renome internacional, Zicatela conta com surfshops e bodyboardshops em abundância, caso precises de um leash, prancha, pé-de-pato ou coisas do gênero. Uma dica é a Seth Surfshop.
– Fotos e filmagens: existem fotógrafos e cinegrafistas clicando as ondas de todos de maneira intensiva o tempo inteiro. Basta uma volta nas surfshops locais no período da tarde para encontrar os cliques da manhã. Porém, se tens a obrigação de produzir material para patrocinadores ou meios de comunicação, fica arriscado depender apenas do pessoal na areia. Nos dias grandes a atenção é dividida com caras de renome internacional e nos dias menores com o crowd. Os fotógrafos Edwin Morales e Angel Salinas são minhas indicações.