As fishes, aquelas biquilhas com swallow avantajado, vêm ganhando espaço entre a galera, seja pela facilidade de entrar nas ondas com uma prancha pequena, seja pela velocidade inercial que elas proporcionam. Claro, o grande diferencial delas é o fato de que, se colocadas de borda, traçam linhas bem longas; se usar mais o fundo, são soltas como bagre ensaboado. Você tem que entender o equilíbrio dessas duas peculiaridades.
“Quando você se depara com um modelo deste, logo se pergunta: Será que é boa? Comprar ou não comprar? A dúvida surge logo pelo design robusto e antigo. Mas é que poucos sabem o quão veloz ela é. Está sempre um tempo à frente das outras pranchas triquilhas, por exemplo. Entra muito mais fácil nas ondas e tem um bottom turn muito mais aberto e arredondado, sem perder a velocidade na parede da onda. Isso gera uma fluidez e facilita o link entre as manobras, além de alcançar bem as seções”, comenta Marcelo Carneiro, criador do modelo fish Old School.
Design funcional – Segundo Marcelo, o designer paralelo, do meio para rabeta, e o bico arredondado, algo entre um longboard e a prancha performance, dá uma maior estabilidade, mas perde em maleabilidade. A compensação está no tamanho. Uma fish pouco menor que você, na altura do nariz, é o suficiente. A largura exagerada da rabeta, terminada em um big e deep swallow, deixa a prancha mais solta.
“A espessura, por igual, da longarina para as bordas chanfradas e grossas, quase um flat deck, dão maior sustentação e flutuabilidade. Pouco rocker e um fundo que mistura um single para um double concave facilitam a passagem da água. O deslizamento dessa prancha pela água é estabilizado por duas quilhas largas fixadas mais para trás, quase paralelamente à longarina e direcionadas levemente ao bico. Sem a quilha central não se cria atrito, deixando a água passar livremente. Portanto, sua principal característica é a velocidade”, explica o shaper, que emenda sua teoria: “Como isso acontece? As duas quilhas mais atrás deixam a área de impulsão mais à frente. Como assim? Bem, no meu raciocínio, toda prancha é dividida em três áreas:
1 – Área de contato – é toda parte da prancha que entra em contato com a água e gera atrito. Quanto maior for esta área, mais atrito e menos velocidade.
Ex: pranchas com mais curva ganham na maleabilidade, mas perdem em velocidade, o oposto das pranchas fishes.
2 – Área de controle: é toda a parte que estabiliza e controla a prancha (as quilhas), é a soma da área da(s) quilha(s). Quanto maior for esta área, maior controle e menos solta a prancha fica.
3 – Área de impulsão: é toda parte da prancha que está à frente das quilhas. Quanto maior volume nesta área, mais impulsão e mais velocidade a prancha ganhará. Os longboards possuem muita área de impulsão, mas sua área de contato é enorme, e com isto perdem em velocidade”.
Seguindo este raciocínio, as pranchas fish biquilhas possuem pouca área de contato e uma área de impulsão grande, é por isso que ganham em velocidade.
Esse modelo Old School, by Carneiro, não é uma réplica das fishes originais. Ela apresenta fundo e outline e rocker de entrada modernizados. O resultado é muito interessante. A possibilidade é a real incorporação do espírito de fluidez de um surfe clássico, sem os inconvenientes pertinentes ao século passado, quando surgiram as originais. Manobras mais abertas e linhas longas, com as bordas cravadas na água, fazem a cabeça da galera mais antiga e os mais radicais conseguem executar um surf “power”, devido a sua impulsão.
Muitos surfistas que possuem ou saíram do longboard estão voltando a surfar com pranchas menores, devido à facilidade desse tipo de modelo. Ex-profissionais são verdadeiros adeptos de pranchas que seguem esse conceito com duas quilhas.