#O shaper carioca Cláudio Hennek completa o time de uma das melhores fábricas de pranchas do Brasil, junto com Ricardo Martins e Joca Secco, a reconhecida marca Wetworks.
Hennek foi um surfista expressivo na década de 80. Não seguiu carreira profissional porque não teve patrocínio forte. Mas, como shaper vem conquistando respeito e sucesso, alcançando uma posição de destaque ao lado das outras duas estrelas da Wetworks. Nesta entrevista exclusiva ele explica as razões para estar se destacando neste concorrido segmento de pranchas.
Como e onde você começou a shapear?
Antes de me tornar shaper, fui surfista profissional, patrocinado pelo Ricardo Martins. Sou da mesma geração de Victor Ribas, Fabio Gouveia e Renan Rocha. Como meus resultados eram muito inconstantes, veio a necessidade de trabalhar com algo que não me afastasse do meio do surf. Na época, conversei com o Ricardo sobre a possibilidade de shapear e ele deu total apoio. Comecei então, a freqüentar a fábrica onde o Ricardo Martins e o Joca Secco trabalhavam. Eu ficava passando os blocos numa máquina de desbaste, ajudando na produção das pranchas, até que surgiu a oportunidade de trabalhar como ajudante do Joca Secco – o que fez com que eu evoluísse superrápido.
Como surgiu a oportunidade de entrar para o time da Wetworks? O que isso representou?
Surgiu pela amizade com o Ricardo e o Joca. Por eles acreditarem que eu seguiria a mesma filosofia deles – dedicação total ao esporte e fazer o melhor trabalho possível na fabricação das pranchas. Isso representou um salto muito grande na minha carreira. De repente, de ajudante tornei-me um shaper titular, com meu trabalho sendo endossado por Ricardo Matins e Joca Secco. Realmente foi uma alavancada muito grande na minha carreira.
Quem influenciou na arte de shapear?
Aprendi o meu método de trabalho com o Joca, porque trabalhei como seu ajudante durante um bom tempo. Sem sombra de dúvida esse foi o fator principal para o meu aprendizado ser mais rápido. Até hoje é muito grande a influência dele e do Ricardo Martins no meu trabalho.
Antigamente, na Wetworks as pranchas mais requisitadas eram as do Joca e do Ricardo. Fiquei sabendo pelo Bio, representante da marca Glass Co, que distribui as pranchas Wetworks em São Paulo, que isso está mudando. Como sente o reconhecimento em relação ao seu trabalho?
O reconhecimento do meu trabalho aumentou muito nos últimos dois anos. Acho que o trabalho da Wetworks com relação aos representantes, vendas e assessoria tem dado tempo para que eu me dedique exclusivamente a shapear. Isso é muito importante na minha profissão.
O que você acha do trabalho de shapers que utilizam outros meios para shapear, como a máquina de shape?
Acho ótimo. As pessoas têm a idéia de que a máquina de shape torna todas as pranchas iguais, ou que o shaper que usa máquina não trabalha. Na realidade, a máquina é apenas uma ferramenta de precisão. Ela executa a parte mais desgastante do shape, quando você define espessura, curva e largura, cabendo ao shaper dar seu toque final no acabamento, como caimento de borda, perfil etc.
Como é fazer pranchas para um atleta do nível do Neco Padaratz, que tem um surf tão radical e explosivo?
Vários resultados expressivos que o Neco conquistou foram fruto do nosso trabalho. Como a vitória no WCT da Califórnia, onde ele correu como convidado e ganhou o campeonato em 99. Fazer pranchas para ele é bastante difícil e caro, mas nossa parceria já dura um bom tempo. Temos a sintonia com relação ao que ele gosta ou não.
Você também faz as pranchas do Peterson. Como é o seu trabalho com ele?
Estou partindo para o terceiro ano com o Peterson. É um trabalho semelhante ao do Neco. Um trabalho duro, caro, mas já estamos em sintonia com o seu equipamento. Fazemos de quatro a seis pranchas por vez. Vemos qual ficou melhor e reproduzimos a prancha que ficou boa duas ou três vezes para ele usá-la durante o ano todo. Tem que ter sempre uma prancha boa de reserva, sendo que isso tem que ser feito no quiver todo. Ou seja, ele tem que ter no mínimo duas pranchas mágicas por tamanho, desde a prancha só para ondas pequenas, até a maior do quiver.
Quais são integrantes da sua equipe hoje?
Beto Fernandes (Santos), Marcelo Trekinho (RJ), Peterson Rosa (PR) e Neco Padaratz (SC).
Fale sobre as novidades em termos de design de pranchas para este ano?
Hoje em dia, todo mundo tem shapeado parecido. Os shapers estão tentando refinar cada vez mais suas pranchas. Acho que as novidades aparecerão com relação às quilhas (outline, posicionamento). Depois do surgimento das quilhas removíveis, os shapers estão tendo mais oportunidades para fazer novos testes.
Quais são os seus planos para o futuro?
Quero estar sempre em busca do aprimoramento e da qualidade do meu trabalho. Isso engloba muita coisa.
Como é fazer pranchas para os surfistas da nova geração, que buscam cada vez mais radicalidade nas manobras?
É superdifícil e desgastante, além de ser bem caro, mas o surf está ficando cada vez mais veloz e radical. O shaper tem que acompanhar essa evolução.
Em qual o lugar do Brasil suas pranchas vendem mais?
Florianópolis (SC).
Quantas pranchas você fabrica por mês?
De 60 a 80 pranchas. No verão faço cerca de 130 pranchas.
O que um surfista tem que ter em mente quando sai em busca de um shaper para comprar o seu foguete?
Se o surfista for encomendar uma prancha, é muito bom ele saber a largura de meio e a espessura da prancha que ele mais tem gostado. Além disso, é muito importante o surfista me passar todas as suas necessidades e características que gosta numa prancha, como volume de bordas, rabeta etc.
Quem é o melhor shaper da atualidade?
Ricardo Martins.
Quais características um fabricante de pranchas precisa reunir para se destacar no mercado?
Qualidade e trabalhar com uma equipe de bons atletas.
Como é trabalhar com outros dois shapers de sucesso, do porte do Ricardo e do Joca?
É muito bom, pois todo dia estou aprendendo mais e mais. Uma vez que esses dois shapers são os melhores do mundo na minha opinião, pela dedicação, seriedade e perseverança com que encaram a profissão.
Qual é a fórmula do sucesso da Wetworks?
Para alcançar o sucesso ainda temos que trabalhar muito.