Espêice Fia

Coluna x Colunista

Tadeu Pereira - SuperSurf Itacaré 2003

Tadeu Pereira é exemplo de surfista profissional com carreira prejudicada por problemas na coluna. Foto: Ivan Storti.
Fábio Gouveia muda rotina para manter corpo saudável. Foto: Nilton Santos.

Há um ano que escrevo pro Waves e outro dia passei por uma situação engraçada. Encontrei um amigo que não via há tempos e ele logo me perguntou: “E aí, Fabinho. E a coluna?”. Minha resposta imediata: “Poxa, tá massa, acabei de enviar uma sobre ídolos do surf nordestino, Sérgio Testinha e Felipe Dantas!”. 

O cara começou a rir e disse: “Mano, é a sua coluna lombar!”. Kkkkkkkk… Caímos na risada.

Essas coisas são bem engraçadas, porém, depois que passei por problemas na coluna em 2005, cirurgia em 2006 e problemas na cervical no ano retrasado, muitas pessoas (principalmente surfistas) entram em contato para saber qual foi o meu problema e como estou atualmente.

Nada de anormal, pois quando me vi diante do problema também recorri a vários amigos surfistas que já passaram por isso. Lembro que na época o primeiro que entrei em contato foi Tadeu Pereira.

 

No seu auge, Tadeu enfrentou uma lesão que atrapalhou um bocado sua carreira. Os outros foram Diogo Trajano, ex-top surfer pernambucano e irmão mais novo do também ex-competidor e tube rider Rodrigo Trajano, e o próprio Alfio Lagnado, meu patrocinador.

Na ocasião estava desesperado e cheguei a visitar o médico que havia feito sua cirurgia em São Paulo (SP). Queria operar logo e me livrar do problema, mas ao mesmo tempo estava com muito medo. Em pleno ano de competições, na tentativa de voltar ao antigo WCT, acho que meu problema acabou até piorando devido a este stress.

Sempre escutei que é necessário consultar vários médicos quando se encontra diante de um problema grave. E logo obtive a resposta do primeiro doutor: “Meu caro, você vai se recuperar só com as fisioterapias”. Bem que o Alfio já havia me avisado: “Fia, vai lá, mas o médico não vai querer te operar”.

Não deu outra, em pouco tempo já estava em Porto Alegre (RS) para consultar mais um médico. Ao mesmo tempo em que passava pelo meu segundo bloqueio “sacrau”, me deram uma injeção do tamanho daquelas que as grávidas tomam no momento do parto. Pense na lapa da menina. E o pior, depois o cabra não sentia nada, nem “boga” nem “bráulio”. Vai prum lado, vai pro outro e demorava um pouco pra recuperar o controle de ambos.

Graças a Deus a minha cirurgia foi bem sucedida em Florianópolis (SC). Aliás, há profissionais bons em todos os lugares e o bom mesmo é aquele que lhe passa a segurança de que você precisa para encarar um ato cirúrgico. Mas é bom já ir ligado, nada fica tão bom se o paciente não fizer sua parte. No caso da coluna, mudar os maus hábitos é o primeiro passo.

Depois, para o sucesso, é sempre bom estar ligado. Continuo com a boa vida de esportista, ao lado de duas sessões semanais de pilates para sempre deixar os músculos do abdômen e lombar fortificados.

 

Ainda faço sessão de RPG para sempre corrigir a postura e destravar os encurtamentos, além de massagem para “desengripar” os músculos, já que depois de uma semana carregada de atividades diferenciadas os bichos ficam todos uns por cima dos outros.

Procuro não fugir desta regra para não passar por uma inflamação dos discos, pois depois que acontece leva de três a cinco meses para ficar bom. Depois de penar bastante com esta lesão, aprendi sobre o problema. Comum em muitas pessoas, cada caso é um caso, mas muitos podem ser resolvidos apenas com as fisioterapias.

 

Hoje dificilmente eu operaria de novo, pois sei que as fisioterapias resolvem. Mas claro, é necessário muita paciência e conhecimento das lesões que, na maioria dos casos, só se compreendem depois de solucionadas.

Quando operei (fiz raspagem do disco “L5” e do canal do “furamem”, onde passa o nervo ciático), muito em parte foi pelo nervosismo e pelo compromisso com a volta imediata às competições. A dor aguda, proporcionada pelo pinçamento do nervo ciático, passou rapidamente, e demorei uns dois ou três meses para voltar a surfar. Vale ressaltar que neste período meu nome passou a ser fisioterapia. Enquanto a maioria caía duas vezes no mar, eu “caía” duas nas fisioterapias diariamente.

Com o problema da lombar resolvido, passei também por hérnia cervical no começo de 2009. Não acreditei no que aconteceu. Tudo começou na minha primeira vez de stand up paddle, com a má ideia de não colocar o handle (encaixe no meio do deck para facilitar o transporte), passando a transportá-la na cabeça por longas distâncias. A “pescoçite” aguda gritou e me deixou sem sono por dois meses.

Logo pensei em cirurgia. Corre-corre mais uma vez aos médicos. Chego a receber em minha casa a visita de um vendedor representante de próteses discais de titânio. Quando o cara abre a maleta prateada, parecendo aquelas que os “didjêis” usam, fiquei abismado com o montante de ferramentas. As próteses eram acinzentadas e, ao acompanhar atentamente as instruções do cara, já me imaginava um andróide.

Fui deitar e não consegui mais dormir, só pensava naquilo: “Caramba, será que eu vou colocar esse negócio mesmo dentro do meu cangote? E o preço do disco? R$ 24 mil já com o desconto! Danou-se!”.

No dia seguinte liguei para meu patrocinador e toquei a real, que iria ficar mais um tempo de molho. A resposta foi a chave da minha recuperação: “Fia, tenha seu tempo, não opera isso aí não. Tá maluco? Você já fez sua parte. Vai com calma que as físios vão resolver”.

Tudo o que eu precisava escutar era aquilo. Relaxei e dei um gás nas fisioterapias. Depois de três, quatro meses, estava em uma trip com Peterson Rosa, Renan Rocha e Guilherme Herdy em Asu, Indonésia, para recompensar o tempo de molho. Depois deste episódio, aos 41 anos, aprendi a ter mais paciência nestas questões e analisar os casos antes de tomar qualquer decisão.

O toque que dou pra galera é o que já disse antes, cada caso é um caso. Procurar sentir a vibração de um bom profissional e ao primeiro sinal de problema fazer logo uma ressonância magnética para ver a raiz do mesmo.

 

Sei que o cabra gasta um grana nessas paradas, mas depois de acontecido não tem jeito, é molho na certa. O bom é o cara sempre andar na postura, coisa que agente acaba escutando a vinda inteira dos nossos pais. “Minino, senta direito nessa cadeira, melhora essa postura aí pra escrever…”, e por aí vaí.

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