Construção de rodovia causa polêmica no litoral norte de SP

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Alguns políticos e empresários das cidades do litoral norte de São Paulo resolveram tentar ressuscitar um projeto que já estava engavetado há muitos anos: instaurar um trecho de rodovia de aproximadamente 30km, ligando a praia de Camburi (São Sebastião) à Enseada de Caraguatatuba.

O trecho fazia parte do projeto original da rodovia Rio-Santos, e foi abandonado na época (década de 70), pois os técnicos do DNER concluíram que a obra seria de pouca valia em relação ao gasto necessário para sua conclusão.

Hoje em dia, a mata atlântica se recompôs nos locais onde houve desmatamento e tudo o que resta são algumas pontes e estruturas de concreto perdidas na selva, e uma trilha que acompanha o traçado planejado para a rodovia.

A polêmica em torno do projeto envolve questões políticas, jurídicas e econômicas, além disso, pouca informação técnica tem sido divulgada para a população (moradores e turistas), que está dividida sobre a execução do projeto.

Grupos em prol do projeto dizem que, com a construção desta estrada, o tempo de viagem entre Santos e o litoral norte diminuiria sensivelmente, e que, em períodos de grande movimento o trânsito seria desafogado, com diminuição dos congestionamentos. Já os grupos que desaprovam a idéia afirmam que a estrada corta um trecho de mata atlântica, que é protegida por lei.

Observando os argumentos de um ponto de vista externo, é possível tirar algumas conclusões:

1) As áreas de mata atlântica constituem áreas de preservação permanente, ou seja, são consideradas unidades de conservação. Isso significa que devem ser protegidas por lei. Porém, nem sempre isso representa obstáculo para sua devastação, como se pode comprovar com inúmeros casos em nosso litoral.

2) A construção da estrada não iria significar realmente o fim dos congestionamentos durante a temporada, pois a continuação da Rio-Santos não seria duplicada, assim como as rodovias que ligam o litoral às cidades do interior. Ou seja, seria bem possível que o congestionamento só mudasse de lugar. Por outro lado, é verdade que o tempo de viagem de Santos ao litoral norte diminuiria na maior parte do ano.

3) Pesquisadores que trabalham com gerenciamento costeiro já comprovaram que o principal fator responsável pela destruição dos ambientes litorâneos é facilidade de acesso. Com o acesso facilitado, e somando-se a falta de fiscalização, geralmente ocorre uma ocupação desenfreada, sem a infra-estrutura necessária, causando sérios danos ambientais e prejuízos sociais e econômicos, como aumento de doenças de veiculação hídrica, aumento da violência, favelização, desvalorização de terrenos e casas etc.

Estes efeitos culminam com o decréscimo no turismo e uma mudança no perfil do turista: some o turista que gasta bastante por dia e entram em cena os farofeiros e turistas que gastam pouco ou nada por dia, deixando somente seus resíduos. É uma lógica simples: facilidade de acesso » aumento exponencial da ocupação » dano ambiental » colapso econômico.

Assim, um grande risco envolvido na construção de estradas próximo a locais que devem ser protegidos é que comece a ocorrer uma ocupação desenfreada. Uma vez que isso já vem ocorrendo em todo o litoral norte, este projeto parece ser bastante arriscado, do ponto de vista ambiental e econômico. Talvez fosse o caso da sociedade descobrir como usar os recursos naturais, humanos e econômicos da região de uma forma mais racional e consciente, conservando-os para que possam ser explorados indefinidamente.