Ondas Sonoras

Neco Carbone – Das plainas aos palcos

Neco Carbone, Uluwatu, Indonésia

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Na era das máquinas e computadores, Neco Carbone nunca abandonou os shapes feitos à mão, como forma de expressa sua arte. Foto: Herbert Passos Neto.

Com 38 anos de profissão, o shaper santista Neco Carbone é referência, não só na criação dos mais diversos tipos de designs de pranchas para as diversas sub-modalidades do universo do surf, mas também para qualquer atleta, quando o assunto é longboard e competições. No final dos anos 80 e durante os anos 90 gravou seu nome nos lugares mais altos dos pódios pelo país e foi convidado para representar o Brasil em etapas do mundial da ISA e da ASP.

Neco é dono de um dos estilos mais polidos do longboard brasileiro. Sua postura ereta e as caminhadas com classe até o bico, seus cutbacks com drop knee e a elegância com que manobra a prancha, influenciaram gerações de longboarders brasileiros.

Aos 56 anos de idade, atualmente ele é o responsável por desenvolver os equipamentos de atletas como o campeão mundial Leco Salazar, Felippe Gaspar, Eric Miyakawa e Aline Adisaka no Supwave, além de Jaime Viúdes, Alexandre Wolthers e Augusto Olinto no longboard. No passado, já cuidou do shape de muitos grandes nomes do surf nacional, como Paulo Kid, Jojó de Olivença e Neno Matos.

A música está presente na vida de Neco o tempo todo, seja enquanto desenvolve e testa seus designs ou até mesmo fazendo um som com os amigos e com a família.

Playlist by Neco Carbone:

Como foi sua transição de shaper manual para a era das máquinas e computadores?

Fiquei fascinado com a possibilidade de planejar uma prancha com todos os detalhes e de ter esse plano materializado com precisão. Só através das máquinas de CNC você consegue criar uma linha de modelos e produzi-la com padrão. Mesmo assim nunca abandonei o hand shape, aliás, de um ano para cá tenho feito muitas pranchas à mão, quase que diariamente.

É muito prazeroso quando o formato do bloco ajuda e tenho certeza que a prancha feita à mão tem uma energia diferente, como qualquer peça ou objeto de arte tem. Veja nos instrumentos de corda, por exemplo. Os construídos artesanalmente por luthier são os melhores (risos). 

Você é músico há quanto tempo? Quais instrumentos toca?

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Neco Carbone. Foto: Michelli Martins.

Toco violão desde os 5 ou 6 anos de idade. Toquei trompete e caixa na banda de escola e fiz muitos desfiles de 7 de Setembro no Vale do Anhangabaú (SP) e Santos. Mais tarde, aos 20 e poucos anos comecei a tocar contrabaixo. Já participei de várias bandas, uma delas junto com o Marcos Bukão na flauta transversal.

Já cheguei a tocar na noite, quase virei músico profissional. Como conheço muitos músicos que tocam na noite, volta e meia dou uma canja pelos bares (risos). Há um ano nasceu a banda Salt & Soul, formada por surfistas de Santos, e fui convidado para ser o baixista. Tocamos covers de surf music do presente e do passado.

Agora estamos começando a trabalhar em composições próprias. Também gosto de tocar violão e guitarra, pois toco com mais frequência do que o contrabaixo, principalmente agora que meu filho Marcelo virou baixista. A Diana canta legal e o Pedrinho, o caçula, faz uma percussão, então já rola um som em família (risos).

Qual seu estilo de música favorito? 

Para ouvir meu gosto é bem variado. Ouço muito Jazz, Bossa Nova, Reggae (só Marley), Salsa, Jazz Latino, R&B, Rock Clássico, Rock progressivo, Folk, a turma da Tropicália, Vanguarda Paulistana, toda discografia dos Beatles e Funky Music, o verdadeiro e não esse que falam que é, mas não é (risos).

Quem são seus ídolos na música e no surf?

Como baixista admiro os que fazem o verdadeiro papel do contrabaixo, ou seja, uma condução limpa e precisa. Citando alguns em gêneros variados, o saudoso Luizão Maia em Bossa Nova e Samba, Chris Squire no Rock Progressivo, Ron Carter no Jazz, Francis Rocco Prestia no Funky e R&B, o Flea e o Nico Assumpção, que também era fantástico.

Já nas guitarras é inevitável começar com Jimi Hendrix. Gosto também do Johnny Winter e Eric Clapton, os de jazz Wes Montgomery, Joe Pass, Pat Martino, Kenny Burrell, e George Benson, além dos brasileiros Hélio Delmiro, Heraldo do Monte, Toninho Horta, Romero Lubambo e os guitarristas-surfistas Claudio Celso e Marcinho Eiras, que são reconhecidos internacionalmente. Já no surf a lista é enorme (risos), então, hoje meus ídolos são os integrantes da “Brazilian Storm”.

Como foi seu início no surf nos anos 70? De lá pra cá, quais foram as mudanças que mais te chamaram a atenção, no surf e na música? 

Eu comecei a surfar no verão de 1970, durante a transição dos longboards para os shortboards, então vivi toda evolução dos equipamentos e da maneira de surfar. O surf aéreo de hoje em dia, tínhamos como algo que não passava de imaginação (risos). De lá pra cá só tivemos evolução. 

Já na música, tivemos muitos avanços nos instrumentos, equipamentos e tecnologia, além de músicos virtuosíssimos, mas nas composições e o que fazer com toda essa virtuosidade e tecnologia, o homem regrediu. Em todos os gêneros musicais, as composições antigas eram muito mais inteligentes, tinham mensagens, contavam histórias e contavam com melodias mais bem elaboradas.

Como você divide seu tempo entre o trabalho de shaper, a música e o surf na água?

O trabalho e a música estão sempre juntos, pois só trabalho ouvindo música, o que é muito importante para o músico. Ouvir é tudo! Surfar é trabalhar. Testar e analisar os designs são de suma importância para o shaper. Tocar é uma coisa que combina com a noite, então à noite é que a gente toca (risos).

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Neco Carbone exibe plena forma em Uluwatu, Indonésia, durante surf trip feita em julho deste ano. Foto: Arquivo pessoal
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