O retorno do Hang Loose Pro Contest à Praia da Joaquina, em Florianópolis (SC), está proporcionando boas recordações para muita gente. Passados 30 anos daquele evento histórico e que trouxe o Circuito Mundial de Surf de volta ao Brasil, uma pessoa lembra exatamente como foi a decisão naquele mês de setembro de 1986. Afinal, o australiano Dave Macaulay garantiu a sua primeira vitória em etapas do Tour em águas brasileiras.
A conquista não poderia ser melhor, sobre o compatriota Mark Occhilupo, numa praia lotada, com ondas épicas. “Eu gosto bastante de lembrar dos meus momentos no Hang Loose Pro 1986, porque foi a minha primeira vitória no Circuito Mundial. Naquele evento, em particular, eu comecei nas triagens, entrei no evento principal e acabou que eu venci o Occy (Mark Occhilupo), que já era uma grande estrela do surfe na época”, conta o sempre calmo Dave.
“Foi, também, a primeira competição no Brasil, depois de muitos anos, o que gerou um grande público e muita expectativa”, acrescenta o surfista, que depois viria a garantir outras vitórias importantes no Tour, inclusive novamente no litoral brasileiro, no Alternativa Pro, em 1993, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Para chegar à vitória, Dave teve um longo caminho até a final contra o Occy, passando por alguns outros favoritos. Na semi, superou mais um ícone, o havaiano Hans Hendmann. Na fase anterior, passou por Sérgio Noronha, o melhor brasileiro no evento. E nas oitavas, teve pela frente Brad Gerlach, venceu o também norte-americano, Mike Parsons, além de outro brasileiro, Felipe Dantas.
Curiosamente, a comemoração do inédito título foi em uma igreja evangélica na capital catarinense. Um dos primeiros “surfistas de Cristo”, Dave Macaulay e seu companheiro de Tour, Pierre Tostee, da África do Sul, procuravam estar presentes a cultos religiosos todos os domingos, onde estivessem competindo.
Agora, exatos 30 anos depois, Floripa revive a etapa, com o QS 6000 Hang Loose Pro Contest – 30 anos. “É muito legal saber que o evento está voltando depois de todos esses anos. São muitas histórias e lembranças incríveis. Naquele ano me hospedei na casa do Bita e da Cláudia, um casal brasileiro”, recorda. “Certamente aquela vitória foi um dos pontos mais memoráveis da minha carreira. Eu mesmo tinha feito a minha prancha e meu amigo Simon Law também surfando com ela”, destaca.
Macaulay continua envolvido com o surfe, como shaper e como pai de um destaque da categoria feminina, Bronte Macaulay, que está se classificando para a elite da World Surf League entre as seis indicadas pelo ranking do WSL Qualifying Series. Ele acompanha as disputas de perto e diz ser fã dos brasileiros, em especial Adriano de Souza, por se identificar com o seu estilo, e Gabriel Medina, pela radicalidade. “Trabalho como shaper, mas também treino crianças, assim como as minhas filhas Bronte e Laura”, revela.
“Neste ano, Bronte teve a oportunidade de competir no CT, substituindo uma atleta que se contundiu. Foi muito bem e, inclusive, venceu o QS 6000 no México. Está sendo uma emoção muito grande para ela e também para mim. Estamos bem empolgados para a temporada 2017”, afirma.
Ele também cita o surfe brasileiro e toda a sua evolução nos últimos anos e acredita em novas conquistas de Medina no futuro. “O surfe brasileiro está excelente. Tenho certeza de que o Gabriel vai conquistar mais títulos, mas tenho uma tendência a torcer pelo Adriano de Souza. Para mim, ele é tão humilde e trabalhador, que merece ainda mais. Ele é uma inspiração”, comenta Dave.
“Acredito que o Mineirinho tem uma pegada de surfe parecida com a que eu tinha na época. Ele treina bastante e consegue sempre mostrar o seu melhor. Outro que também lembra muito o meu estilo de surfe é o Ace (Adrian) Buchan”, destaca Macaulay, que em sua época, se inspirava em Tom Carrol, Tom Curren e Occhilupo. “E claro, Kelly Slater. Hoje em dia ainda me agrada o surfe de Kelly e estou bem empolgado e inspirado pelo surfe de Mick Fanning”, argumenta.
Voltando ao passado, o campeão do Hang Loose Pro Contest 1986 cita como seus melhores momentos no Tour as temporadas de 1989 e 1993, quando terminou em terceiro no ranking. “Em 93 estava na briga pelo título em Pipeline. Mas considero que em 89 tive a melhor vitória da minha carreira, quando conquistei o Alternativa, no Rio, em cima do (Martin) “Pottz” Potter, que se consagrou campeão mundial aquele ano”, relata.
Agora como técnico, instrutor e shaper, Dave Macaulay confessa que não se arrisca mais a competir. “Mas estou sempre surfando quando minhas filhas competem”, fala. “A evolução do surfe está fantástica. Ultimamente tenho adorado assistir aos eventos do CT. Tem grandes locações, ao mesmo tempo em que os surfistas têm necessitado se adaptar bastante ainda aos picos, como fazíamos na época que competia”, completa.
O Hang Loose Pro Contest – 30 anos será disputado de 1 a 6 de novembro e já conta com a participação de surfistas de 22 países, sendo 94 estrangeiros dos 150 inscritos. O QS 6000 será a última parada do WSL Qualifying Series antes das duas etapas do QS 10000 da Tríplice Coroa Havaiana.