Davi de Jesus abusou dos tubos de backside para se dar bem em Fernando de Noronha. Foto: Ivan Storti. |
Despretensioso, o local da praia Mole partiu de Santa Catarina com o objetivo de ser fotografado e aperfeiçoar seu surf nas fortes e tubulares ondas da Cacimba.
“Vim para Noronha com a meta de fazer fotos e surfar bem, principalmente, na Cacimba do Padre, uma onda de nível internacional. Também queria chegar à fase do dinheiro para tornar viável uma viagem para o exterior”.
Porém, se adaptou facilmente ao pico, abusou dos tubos de backside e só foi derrotado nas quartas-de-final, terminando o evento na 13ª colocação.
“Peguei um tubo logo na primeira bateria e fui muito bem pontuado. Desde então, passei a buscar um posicionamento no mar totalmente voltado para encontrar os tubos”, conta.
Com o resultado, Davi somou 675 pontos no ranking do WQS e levou US$ 1,3 mil de premiação. Bom resultado para quem está começando a carreira como atleta profissional e vinha de um ano sem resultados expressivos.
“Esse resultado foi muito importante porque foi um dos primeiros como profissional e me deixou bastante confiante para os próximos campeonatos que disputar”, comenta o atleta.
“Tive uma carreira amadora legal em Santa Catarina. No ano passado, me profissionalizei e passei a disputar o extinto circuito Super Trials. Mas, não consegui classificação para o SuperSurf. Considero ruim meu primeiro ano como pro, pois não obtive bons resultados no Trials”, diz ele, que ficou em 78º lugar no ranking do circuito.
Em Noronha, Davi estreou com vitória na décima segunda bateria do segundo round, levando a melhor com 13.33 pontos sobre Costinha, segundo colocado com 9.67. O norte-americano Willie Safreed ficou em terceiro e Thiago Silva foi o quarto colocado.
No terceiro round foi a vez de Davi garantir a segunda colocação numa batalha à parte com Costinha. Fábio Silva venceu a disputa com 11.50 pontos, Davi passou em segundo com 10.17. Costinha tentou virar nos minutos finais, mas acabou em terceiro (9.74) e o baiano Cristiano Spirro ficou em quarto (8.75).
“Muita gente na praia achou que o Costinha havia passado, outras acharam que ele realmente não tinha virado. Me senti mal, mas fui falar com ele, pois não queria que isso tivesse acontecido. Se fosse para virar, virasse, se não fosse, não virasse”.
O atleta catarinense eliminou adversários de alto nível até ser barrado nas quartas-de-final. Foto: Nancy Geringer. |
No round seguinte, oitavas-de-final, o havaiano Jesse Marle-Jones ficou com a primeira colocação (14.27) e Davi novamente venceu a batalha para seguir para o round seguinte, com 11.60 pontos. Ex-integrantes da elite mundial, o paulista Renan Rocha e o baiano Armando Daltro ficaram com a terceira e quarta colocação, respectivamente.
A terceira bateria das quartas-de-final foi marcada pela vitória de um inspirado Marcondes Rocha, que somou 16.33 pontos. O havaiano Jesse Merle-Jones também seguiu adiante na prova com o segundo lugar (15.50 pontos). Binho Nunes ficou em terceiro com 9.47 pontos e Davi foi o quarto com 7.53, encerrando sua trajetória no campeonato.
Nesta entrevista, Davi fala sobre os planos para a carreira após o bom desempenho no Hang Loose Pro Contest 2004.
Você desbancou diversos favoritos ao título do Hang Loose Pro Contest, atletas do WCT. Comente sua atuação no campeonato.
Vim para Noronha com o objetivo de fazer fotos e surfar bem, principalmente, na Cacimba do Padre, uma onda de nível internacional. Também queria chegar na fase do dinheiro para tornar viável uma viagem para o exterior. Só que conforme você vai passando, acaba querendo cada vez mais seguir adiante e não se contenta. Se você está com a prancha no pé, é para mostrar tudo o que sabe, o que sempre treina.
Você se surpreendeu com o bom resultado?
Fiquei um pouco surpreendido, mas aceitei bem isso. Não me considero uma zebra, porque dentro de mim sempre teve um lado muito forte que acreditava que eu poderia chegar aonde cheguei e até mesmo seguir adiante. Estou surpreso, mas não é aquela coisa: “Nossa, como eu fiz isso?”. Eu tenho que acreditar em mim… Senão pararia de surfar e faria uma faculdade.
E o que achou das ondas da Cacimba?
As ondas são realmente mais pesadas, até mais fortes do que os mares em que estou acostumado a me dar bem. Mas, prefiro estas condições do que o mar com ondas pequenas.
Você já tinha surfado em Noronha?
Já e tive um resultado horrível, pois vim com um equipamento ruim em 2002. Este ano procurei juntar bastante dinheiro para garantir um bom equipamento. As ondas estão bastante tubulares e acredito ser por isso que passei as baterias. Quase todas as baterias que passei, exceto a segunda, foram com tubos.
Qual a bateria que mais te marcou?
Foi a segunda, em que eu e o Costinha brigamos pelo segundo lugar. (Costinha e Davi travavam um duelo à parte na disputa pela segunda colocação. O catarinense seguia na frente, mas nos últimos instantes, Costinha que precisava de 5.80, pegou uma onda e os juizes deram 5.37). Muita gente na praia achou que ele havia passado, outras acharam que ele realmente não tinha conseguido virar. Eu me senti mal, mas fui falar com ele, pois não queria que isso tivesse acontecido. Se fosse pra virar, virasse, se não fosse, não virasse. Disseram que a onda foi boa, mas eu não vi… Conversarmos e ficamos numa boa. Agora, em termos de onda, as melhores baterias foram a primeira e a terceira que disputei. Ambas, abri com notas altas e tubos de backside.
O que esse resultado representa em sua carreira como atleta profissional?
A minha meta para este ano era vender minha moto e ir morar no exterior para aperfeiçoar o inglês, trabalhar e pegar ondas de qualidade. Estou numa fase boa para fazer isso. Agora, com o dinheiro que ganhei em Noronha, vou disputar a perna australiana do WQS. Inicialmente, pretendia ficar oito meses por lá, mas recebi o visto para permanecer apenas um mês no país. Minha estada por lá ficou inserta. Caso tenha que voltar, vou disputar todos os campeonatos que puder por aqui.
Quais são seus principais resultados na carreira?
Eu tive uma carreira amadora legal em Santa Catarina, fui campeão catarinense Júnior e depois campeão do circuito gaúcho Amador. No ano passado, me profissionalizei e passei a disputar o ex-circuito Super Trials, hoje em dia denominado Brasil Tour. Mas, não consegui me classificar para o Super Surf. Então, meu primeiro ano como profissional foi ruim, sem bons resultados no Super Trials. Isso também aconteceu porque geralmente a segunda divisão do brasileiro profissional é realizada em locais com poucas ondas e eu não sou um bom surfista em ondas fracas. Eu treino bastante, mas há atletas mais leves, que são melhores nestas condições.
Quem são seus patrocinadores?
Tenho patrocínio da Surf Beach confecção, o pessoal das capas de pranchas Pipe, e a Rip Tide, que faz minhas pranchas.