Lendas do Arpex

De volta para o presente

Homenagem a Arduíno Colassanti, Festival Lendas do Arpoador, Rio de Janeiro (RJ)

Foi um final de semana memorável, emocionante. E não poderia ser em outro lugar que não o Arpoador, Rio de Janeiro (RJ).

Décadas depois de iniciarem a história do surf no Rio, a primeira geração dos surfistas cariocas se reuniu novamente, nos dias 24 e 25 de outubro, para um encontro de lembranças e homenagens.

Este foi o grande mérito do Festival Lendas do Arpoador, um evento em que as atenções estavam muito mais voltadas para a areia do que para as ondas.

Afinal, depois de quase quarenta anos sem se reencontrarem, lá estavam os ilustres pioneiros do surf brasileiro: Irencyr Beltrão, Maria Helena, João Christovão, Heliana, Piuí, Mario Bração, Marcelo Rabello, Pauleti, Fabio Kerr, Maraca, Fernanda Guerra, Tito Rosemberg, Penho, Ceceu Pimentel, Betinho Lustosa, Carlos Mudinho, Rafael Gonzáles, Mario Boto, Armando Serra, Paulo Sergio Valle, Moa, Chico Paioli, Ira, Ângela Valle e o grande homenageado do encontro, Arduíno Colassanti.

Entre sorrisos e abraços, os pioneiros desfilavam no Arpoador como se o tempo não tivesse passado. O cenário continuava o mesmo, com um lindo dia de sol e as pedras como testemunha da história que se desenrolou nas águas verdes do Arpex.

Músicas dos anos 60 e 70 ajudavam a embalar o clima de nostalgia. Um ambiente com pranchas antigas e fotos cedidas pelo Museu de Surfe de Cabo Frio e Museu Monarca compunham a atmosfera de um Rio que deixou saudades.

As ondas estavam pequenas, mas ninguém se importou. Afinal de contas, o objetivo era reunir essa turma responsável pelo que é hoje o esporte no Brasil. O semblante de alegria na face de todos era evidente, denunciando o quanto o surf marcou a vida desta geração, como revelou o festejado pioneiro Arduíno Colassanti.

“Aqui no Arpoador eu vivi os momentos mais felizes da minha vida”, falou o homenageado do dia.

Arduíno foi um dos mais reverenciados personagens da festa, tendo sua foto estampada na camisa e no poster do evento, no qual aparece segurando uma raríssima prancha “porta-de-igreja”, modelo que antecedeu a fase das “madeirites”.

Diversos destes posteres foram distribuídos entre o público e uma bancada diante de um bonito painel com fotos antigas foi montada para os homenageados distribuírem autógrafos aos presentes. Uma grande fila formou-se e foi muito bacana presenciar surfistas tarimbados reverenciando os nomes que fizeram a história do nosso esporte.

Vale ressaltar a iniciativa dos organizadores Wady Mansur e Daniel Sabbá, que não mediram esforços para reunir tantos nomes de peso e realizar um evento que resgata e valoriza a cultura de praia e do surf carioca.

“Achamos que seria fácil realizar o festival. Afinal, homenagearíamos os verdadeiros pioneiros, a geração que semeou o surf no Brasil e nunca tirou vantagem disso. Mas na hora que mostrávamos o projeto para as empresas de surf, eles simplesmente não se interessavam. É lamentável a visão da maioria destes empresários. Felizmente tivemos o apoio de empresas que não atuam no segmento surfwear, mas que acreditaram no nosso projeto”, conta Wady Mansur.

“Tivemos também a ajuda de uma renomada empresa do ramo surfwear, que foi a única a nos ouvir e nos apoiar. No final das contas, o não de algumas empresas nos fortaleceu e engrandeceu um campeonato feito de surfistas para surfistas. Fizemos um evento simplesmente para homenagear a cultura do surf, sem pensar em mídia. Mas nos surpreendemos com a repercussão obtida com as matérias divulgadas pelo site Waves. O resultado foi sensacional, o Arpoador simplesmente estava em outra dimensão!”, exalta Mansur.  

Enquanto as lendas relembravam os bons tempos na areia e no calçadão, outras gerações não menos importantes para o surf brasileiro também se confraternizavam nas ondas. No longboard, os irmãos Otávio e Mauro exibiam a refinada técnica da família Pacheco.

Carlos Mudinho, Daniel Friedman, Claudio Pastor e Jeferson Cardoso também marcaram presença, além dos representantes de outros estados como Chico Paioli, de São Paulo e o gaúcho Paulo Sefton. Ricardo Bocão, Gustavo Kronig, Marcelo Bôscoli, Marcio Mundim, Máximo Panajoti também eram outras estrelas presentes no evento.

Na cerimônia de premiação, todos homenageados receberam troféus e discursaram emocionados sobre a alegria de estarem ali, reunidos depois de tanto tempo. Mesmo para os que não viveram essa época, como é o meu caso, sentiram a energia e a emoção que pairava no ar.

Lágrimas e sorrisos se misturavam a cada discurso e um dos mais contagiantes foi justamente de Carlos Mudinho, que por gestos resumiu o sentimento de gratidão por aquele momento, sentindo-se uma criança e feliz pela graça de estar novamente ao lado de amigos de tanto tempo e tantas histórias.

Entre os campeões da Master, Legend e Super Legend estavam Marcelo Bôscoli, Claudio Pastor, Carlos Mudinho e Daniel Friedman, que levou em duas categorias e doou os pranchões que ganhou de prêmio – confeccionados por ele mesmo – para as lendas Penho e Maraca.

Diante de tanta felicidade, Maraca agradeceu e disse: “mais do que nacional, mais do que internacional, o Arpoador é sensacional!”.        
    

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