Adriano de Souza, o Mineirinho do surfe: talento e determinação são as principais características do fenômeno brasileiro. Foto: Fábio Minduim / FMA Comunicação. |
Já nas ondas, Adriano de Souza, o Mineirinho do surfe, considerado um fenômeno da modalidade, vem tentando o “Superman”, manobra com grau de dificuldade comparável à feita pelo skatista – consiste em dar um aéreo e, em pleno ar, esticar os braços e pernas, segurando a prancha pelas bordas, e retornar à base da onda em cima da prancha novamente.
Os aéreos são uma das especialidadase de Mineirinho. Foto: Maurício de Souza/FMA. |
Só no primeiro semestre deste ano ele faturou o título mundial Pro Junior ao vencer o Billabong World Champs, na Austrália, campeonato oficial da ASP para surfistas com até 20 anos, venceu o Oakley Junior Challenge, no Rio de Janeiro, também destinado à nova geração, chegou à semifinal do WQS 6 estrelas nas Ilhas Maldivas e acaba de vencer a Seletiva Petrobras de Surfe Masculino, em Ubatuba.
O jovem atleta já sabe mesclar o surfe moderno com manobras clássicas. Foto: Ricardo Macario. |
Apesar do sucesso e da fama precoce, Adriano de Souza é bem maduro para a sua idade e sabe administrar a situação, com ações coerentes e planejadas. Determinado, responsável em relação aos treinos, competições e estudos e, acima de tudo, com talento nato, o Mineirinho do surf sabe muito bem o que quer de seu futuro e argumenta com propriedade.
Hizunomê Bettero e Adriano Mineirinho dividem o pódio do Oakley Junior Challenge 2004. Foto: Ricardo Macario. |
Agora, a meta é ganhar experiência nas disputas e em todos os tipos de ondas, sobretudo as fortes. “Quero chegar pronto para vencer. Não quero ser mais um”, afirma o surfista, que no próximo ano vai passar, no mínimo, dois meses estagiando nas poderosas ondas tubulares de Teahupoo, no Tahiti. “Nunca surfei lá e acho que tenho de estar bem preparado. Quero ganhar uma bagagem boa, amadurecer em todos os tipos de onda e essa é a principal”, revela.
“Penso em estar no WCT daqui uns dois anos. Não tenho pressa”, reforça o talento da nova geração. Mas e se a vaga para o WCT vier antes? “Daí, só Deus sabe! O circuito é muito difícil”, diz o atleta, sabendo que não terá moleza no início. Por ser um novato, enfrentará os tops do circuito. “Vai ser mais legal ainda”, diz, mostrando coragem. “Quando você vence, supera as estrelas, todo mundo começa a olhar de outro jeito”, explica.
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Adriano rasga com pressão para derrotar atletas experientes e vencer a Seletiva Petrobras, em Ubatuba. Foto: Fábio Minduim / FMA Comunicação. |
Na Seletiva Petrobras, ele superou seu maior ídolo, o paraibano Fábio Gouveia, que só de circuito mundial tem quase a idade de Adriano. “Foi normal. Não temo ninguém. Acho que quem espera vencer, ser campeão, tem de passar por todos, principalmente os melhores”, frisa o atleta, que tem como a bateria de seus sonhos enfrentar o hexacampeão mundial Kelly Slater.
“Quero enfrentar o homem e vencer. Tem também o Andy Irons. Eles são os melhores”, diz Adriano, referindo-se ainda ao atual bicampeão do WCT, que coincidentemente iniciou a sua trajetória de sucesso garantindo o título mundial Pro Junior da primeira edição do evento, em 1998. “Até hoje, a bateria mais sensacional que tive foi contra o Rob Machado, na Califórnia, ano passado. Pena que não venci”, lembra.
O surfistas exibe os troféus colecionados na temporada que passou na Austrália, no início deste ano. Foto: Guto Amorim. |
Entre suas prioridades, além de terminar os estudos e surfar nos principais picos do planeta, está o bicampeonato mundial Pro Junior, igualando-se ao australiano Joel Parkinson, outro destaque do WCT. Ele sabe que o título conquistado no início da temporada lhe deu status na carreira. “Foi muito importante mesmo. A repercussão está show. Sou reconhecido lá fora por todos e os juizes me avaliam com outros olhos, valorizam mais”, argumenta o atleta, que tem o patrocínio exclusivo da Oakley e co-patrocínio da rede de surf shops Central Surf.
Com o apelido herdado do irmão mais velho, Ângelo, ele justifica bem o codinome. Com fala calma, quieto, é muito concentrado durante os campeonatos, estudando, sobretudo, as ondas, sua variações, onde e como pode ter melhor desempenho. É assim desde pequeno, quando começou no circuito paulista da nova geração, patrocinado pela Hang Loose, primeira empresa que acreditou em seu potencial.
A meta agora é preparar Mineirinho para as disputas do WCT e as ondas pesadas do mundial, como Teahupoo. Foto: Ricardo Macario. |
Mas dentro d’água a situação é outra. Consegue aliar o surf clássico com o moderno e sempre está tentando arriscar, voar, inspirado no skate, esporte que fez famoso o outro Mineirinho. Foi assim quando venceu a etapa final do Billabong Pro Junior, ano passado, garantindo a sua vaga para o mundial, e agora na Seletiva Petrobras de Surfe Masculino. “A inspiração vem muito do skate. Tento trazer para o surf as manobras inovadoras. Só faço o que gosto”, comenta.
“O negócio é tentar arriscar o máximo possível. É o que os juizes querem, gostam e o que vale nota. E o público também espera e vibra com isso”, diz o fenômeno do surf, seguindo o mesmo caminho do Mineirinho do Skate, que persistiu muito até conseguiu completar o 900 graus num evento oficial. No seu caso, a manobra é o “Superman”, criada pelo australiano Troy Brooks. Ele vem treinando incansavelmente, sobretudo nas ondas da praia do Tombo. “Já consegui nos treinos, mas quero completar no campeonato. Na Seletiva Petrobras eu tentei, mas não deu”, ressalta.
Adriano de Souza, à direita, comemora o vice-campeonato em Oceanside, nos EUA. Foto: Bob Ghysels / Surfography.com. |
Na vida competitiva, o foco esse ano é o WQS. Ele aproveita o benefício conquistado com o título do Billabong World Junior Champs de ser top e entrar no round dos 96 nas etapas 5 e 6 estrelas, para garantir a vantagem em 2005. “Vou a todas as etapas fortes. Estou indo agora para Jeffreys Bay (África do Sul), depois vou surfar em G-Land (Indonésia), sigo para a etapa de Huntington Beach (Estados Unidos), Japão e Europa (três etapas na França). Só volto ao Brasil no final de agosto”, afirma.
Apesar de ser muito novo, ele encara bem o sucesso conquistado e procura ser um exemplo para atletas de sua própria geração, que ainda não despontaram. Na sua idade, a grande maioria ainda disputa campeonatos amadores e sonha em chegar a ser profissional um dia. “Eu acho muito legal mostrar o que eu consegui. Eu sou uma ponte entre essa molecada nova e seus sonhos. Sou um exemplo de que todos podem conseguir. Eu morava na periferia. Hoje, tenho uma casa perto da praia, pude ajudar minha família e sei que posso conquistar muita coisa. Saí da periferia, o que já é um sonho para muitos”, completa.
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O atleta é um exemplo a ser seguido pelas novas gerações do surfe brasileiro. Foto: Ricardo Macario. |
Mineirinho começou a surfar aos 8 anos de idade e a competir em 98. Seu primeiro título foi conquistado um ano depois, no circuito A Tribuna de Surf Colegial, campeonato criado para incentivar os estudos entre a nova geração, em Santos. Depois, não parou mais de se sobressair. Na coleção de conquistas estão os títulos paulistas Grommets, Iniciantes, Mirim e Junior, bem como o bicampeonato brasileiro Iniciante e mais um no Colegial.
Representou o Brasil no ISA World Surfing Games, na África do Sul, ficando em terceiro lugar na Junior, depois de liderar toda a bateria final. Só não levou o caneco por cometer interferência e perder uma de suas notas. Outro grande desempenho foi no East Coast Surfing Championship, no Estado de Virgínia, Estados Unidos, considerado o maior evento da modalidade no Oceano Atlântico.
The Brazilian Rocket decola para o sucesso. Foto: Ivan Storti / FMA. |
Com apenas 15 anos, começou a atuar entre os profissionais e mandou logo o recado sendo o surfista mais jovem da história a vencer um campeonato na categoria, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, garantiu vaga para o SuperSurf sendo o mais novo da elite nacional. No ano passado, teve outros dois grandes momentos.
Venceu uma etapa do Trials no Rio Grande do Sul, que lhe garantiu o vice-campeonato do circuito, e deu um verdadeiro show de radicalidade na segunda e decisiva etapa do Billabong Pro Junior, na praia de Maresias, em São Sebastião, justamente a competição que definiu o time sul-americano para o mundial na Austrália. Na disputa, ele voou alto, arriscou várias manobras novas, semelhantes às feitas por skatistas, tanto de street quanto de vertical.
Ainda fechou a temporada com o terceiro lugar na Sorriso Surf Cup. Esse ano, além do WQS e Brasil Tour, deve marcar presença no Billabong Pro Junior, que terá etapa inicial dias 1º, 2 e 3 de outubro, na praia Mole, em Florianópolis (SC). “Já estou classificado para o próximo mundial, por ser o campeão, mas quero competir sim. É uma competição muito boa. Os brasileiros são muito radicais e estarei enfrentando os atletas da minha geração”, completa.
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Adriano Mineirinho recebe de seu técnico Luis Henrique o troféu de campeão mundial Pro Júnior. Foto: Nancy Geringer. |
Sucesso é resultado de trabalho planejado
Além do talento nato e dedicação, Adriano de Souza conta com planejamento e estrutura para chegar ao topo. O responsável pelo trabalho de bastidores é o empresário e técnico Luiz Henrique Sabóia Campos, conhecido no meio como “Pinga”.
Também atuando como gerente de marketing da Oakley, patrocinador exclusivo do surfista, ele mesmo revela que os resultados estão chegando antes do esperado. “Nosso projeto tinha como meta para ataque 2005 e 2006. Mas o que está acontecendo é fruto de um trabalho planejado e em cima de metas e objetivos. Ele conta com um ótimo suporte em todos os aspectos”, afirma Luiz Henrique.
Adriano Mineirinho e o médico Marcelo Baboghluian, do Projeto Marazul. Foto: Nancy Geringer. |
“Eu acredito muito nele, por vários fatores, não só pelo talento. Mas principalmente por sua personalidade e caráter. É um cara que apesar de eu frisar sempre que o surf está acima de tudo, quer ser divertir, estar alegre quando está no mar, tanto para treinar quanto competir. Encara tudo isto com muita responsabilidade. É muito difícil faltar a treinos, yoga, acupuntura e às aulas quando está em casa. É dedicado, trabalhador e que sabe muito bem o que quere e como chegar lá. Eu acredito nele em todos os aspectos. Por isso vai chegar longe”, elogia Luiz Henrique.
Bruno Moreira, Guto Amorim e Adriano Mineirinho na Gold Coast. Foto: Arquivo Pessoal Guto Amorim. |
Quanto ao circuito mundial, Luiz Henrique explica que o plano para este ano é aproveitar o seeding que o título mundial Pro Junior lhe rendeu (o campeão entra como top nas etapas 5 e 6 estrelas) para mantê-lo na mesma fase em 2005. “Mas vamos aos eventos com a finalidade de se dar bem, alcançar o melhor resultado possível. E isto é a vitória ou perto dela. Ele está indo sem pressão, mantendo o que sempre fizemos nos eventos”, diz.
Finalistas do Oakley Junior Challenge 2004. Foto: Ricardo Macario. |
Com uma vasta experiência no segmento, Luiz Henrique Sabóia Campos tem 39 anos e já atuou em várias marcas, como Lightining Bolt, Quiksilver, MCD, Reef e hoje é o gerente de marketing da Oakley, patrocinadora de Adriano. Trabalha também como outros destaques como Danilo Costa, Gilmar Silva, Cláudia Gonçalves e Renato Wanderley.
“Sempre procuro iniciar os meus trabalhos com atletas quando eles ainda são bem jovens”, ressalta. “Tive a oportunidade de trabalhar como team manager de surfistas como Pedro Muller, Picuruta Salazar, Wagner Pupo, Fábio Gouveia, Teco e Neco Padaratz. Competidores que me passaram muitas coisas”, ressalta. Com o Mineirinho não será diferente. A decolagem para um futuro de vitórias foi um sucesso.
Raio-x de Adriano de Souza, o Mineirinho
Nome: Adriano Elias de Souza
Apelido: Mineirinho
Cidade: Guarujá
Local de treino: de Pitangueiras e do Tombo
Posicionamento: Regular
Patrocínio: Oakley e co-patrocínio da Central Surf e Ricardo Martins (pranchas)
Altura: 1,58 metros
Peso: 54 quilos
Nascimento: 13/02/1987
Escolaridade: cursando o 1º ano do Ensino Médio
Tempo de surfe: 8 anos
Começou a competir em: 1998
Primeiro título: 1999, no Circuito A Tribuna de Surf Colegial, categoria Iniciantes
Principais conquistas: bicampeão colegial iniciantes; campeão paulista grommets, iniciantes (no mesmo ano), mirim e júnior; bicampeão brasileiro iniciantes; 3º colocado na categoria júnior no ISA World Surfing Games, na África do Sul; destaque no East Coast Surfing Championship, nos Estados Unidos, sendo vencedor da júnior, 3º colocado na pro júnior e vice na profissional; vencedor mais jovem de uma etapa do Circuito Brasileiro Profissional, aos 15 anos; atual vice-campeão do Abrasp Super Trials; vice-campeão do Billabong Pro Júnior, seletiva sul-americana para o Mundial em 2004; 3º lugar na Sorriso Surf Cup, campeonato profissional só para convidados; campeão mundial pro júnior no início deste ano; vencedor do Oakley Challenge Júnior; 7º colocado no WQS 6 estrelas nas Ilhas Maldivas; vencedor da Seletiva Petrobras de Surfe Masculino.
Hobbie: ouvir música e andar de bicicleta
Estilo de música: Rock popular e reggae
Cantor/banda: Tony Garrido, Charlie Brown Jr. e Eminem
Comida: arroz, feijão e bife
Bebida: suco de laranja
Esporte além do surfe: skate e futebol
Ídolo: Kelly Slater