G-Land

Dias de fúria

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Neste ano, fiz minha primeira trip à Indonésia. A idéia era passar vinte dias na região. Ficaria sete em G-Land e sete em Lombok / Sumbawa. Depois, finalmente, iria para a ilha de Bali em busca de ondas perfeitas.  

 

Dois dias antes de acabar o pacote no Bobby´s Camp, em G-Land, mudei os planos. 

 

Na análise do mapa de previsão, notei a formação de um gigantesco sistema de baixa pressão no Oceano Índico, ao Sudoeste da Austrália. Uma grande ondulação de Sul atingiria a ilha de Java dentro de sete ou oito dias. 

 

Já tinha quase uma semana que surfava tubos de até 2 metros em Money Trees. Mas ainda não havia surfado Speeds. Então propus ao Cesar, meu parceiro de viagem, que deveríamos prorrogar nossa estadia, ficar em G-Land por mais 10 dias e desencanar de Lombok / Sumbawa. Ele topou na hora. 

 

Não seria dessa vez que surfaríamos Super Sucks, Desert Point, Scar Reef e outras maravilhas. Na verdade, Speeds foi apenas uma excelente desculpa. Pesou na decisão: o excelente astral do pico (crowd ameno), as instalações, a comida do Bobby´s, a natureza exuberante do lugar e as novas amizades.

 

Quarenta e oito horas depois, nos gráficos dos principais sites de previsão, a bomba que iria atingir G-Land aparecia imponente. Cinco metros de altura significativa, 16 segundos de período e direção excelente.

 

Antes das morras entrarem, o mar ficou pequeno por dois dias. Parecia que o Oceano tomava fôlego para soltar sua ira de uma vez. A confirmação de que Speeds realmente quebraria do jeito veio quando o Michael Narti, exímio conhecedor das ondas da Indonésia, falou que o surfista mais respeitado de Grajagan, Dave Scardy (Mr. G-Land), havia ligado para avisar que seria o swell do ano e que estava a caminho. 

 

Reza a lenda que ele só aparece para pegar as melhores ondas nos melhores dias. Era um ótimo sinal. Muito provavelmente as condições ficariam clássicas.

 

No primeiro dia do swell fui checar o mar na companhia de outros surfistas. O visual era assustador. E agora? Será que dá para encarar? Me perguntei. 

 

O Money Trees havia se transformado no quebra-coco de um outreef (Bommie) que quebrava gigantesco. Mesmo com pouca luz, percebi que um pico (Launching Pad) se formava mais no outside e bem para a direita do point, quase em frente ao Joyo´s Camp. 

 

Na montanha de água deu para perceber um “pontinho” despencando. O cara sumiu por um tempo na base da onda. A bomba encavalou e de maneira insana, o cara colocou para dentro do tubo. 

 

A galera foi ao delírio quando ele saiu na baforada, ileso. Que tamanho tinha aquela onda? A resposta veio do experiente Micheal: aproximadamente 5 metros. O bicho ia pegar e como esperado, o mar iria melhorar ainda mais com a entrada do terral, por volta das 9 horas. 

 

A maré cheia seria às 10 horas. É melhor e mais seguro surfar Speeds com a maré acima de 1,6 metros. Portanto, tive tempo para tomar meu café light com calma, ir ao banheiro e escutar um som para instigar.  

 

No Bobby´s, havia outros brasileiros determinados a pegar os melhores e maiores tubos de suas vidas. Os gaúchos Patrick “cabecinha de lâmpada”, que mora na Austrália, e o Rômulo, que vinha de uma temporada de um ano e meio no Hawaii.

 

Destaque para um grupo formado por cinco jovens de Niterói (RJ). Tiaguinho, Gustavo Macaco, Felipe Cabeça de Telhado, Miguelito e Pão. Os caras tinham atitude, experiência em ondas pesadas e muito surf no pé.

 

No primeiro dia o swell fez o pico funcionar no limite. Os tubos estavam presentes. Vários foram surfados com maestria. Principalmente por um pequeno grupo (composto em sua maioria pelos surfguides e por alguns australianos que há muito frequentam o pico) que desafiava as maiores da série em Launching Pad. 

 

Com outros poucos surfistas que também estavam na disposição de encarar, me posicionei abaixo do pico, ainda em Launching Pad. Uma estratégia meio insana já que arriscava tomar as maiores na cabeça. No entanto, foi a melhor maneira para pegar as bombas que o “grupo de elite” não conseguia dropar.  

 

A maioria do crowd assistia ou pegava as menores no inside. O terral estava muito forte e deixava o drop desafiador. Em LP a onda exigia atitude, muita remada e técnica. 

 

Para quem decidia por Speeds, a onda vinha com menos tamanho, muito mais buraco e oferecia um drop vertical. No final do dia, felizmente, todos estavam inteiros e com pelo menos um tubão na memória. 

 

Esse foi o primeiro de pelo menos cinco dias com o mar acima de 4 metros. O mar de 14 de julho de 2010 foi considerado o melhor e maior G-Land em vários anos, segundo o próprio Dave Scardy (Mr. G-Land). 

 

Neste dia, todos os elementos encaixaram como por encomenda. Direção do swell e do vento perfeitos e período alto. Diferente do maior dia do primeiro swell, as ondas chegavam na bancada limpas e perfeitas, tudo no lugar.

 

As ondas dobravam desde LP. O drop ladeira não existia mais. Munido com minha 6’9″, peguei os melhores e mais longos tubos da vida. Acredito que meus amigos brasileiros também. 

 

O show ficou por conta do Margo (que me pareceu muito acima do peso) e do Scardy. Micheal Narti chocou a galera ao pegar a maior do dia com uma 5’9″ biquilha. 

 

O saldo negativo: duas dezenas de pranchas partidas, uma dezena de surfistas com joelhos e pés estourados, costas e pernas rasgadas. O mais grave incidente foi um porto-riquenho que teve quase a parte inferior da perna amputada. Além de ter sido partida em três pedaços, a perna do cara ficou pendurada ao resto do corpo. Bem sinistro.

 

Fiquei quinze dias em G-Land e posso assegurar que foi a melhor surftrip da minha vida. Peguei altas ondas todos os dias. Tive muita sorte em ver um swell histórico, fazer algumas fotos, sair ileso e com minhas pranchas inteiras. 

 

Evolui bastante meu surf. Fiz amizades e tomei muita Bintang. Foi tudo perfeito. Pena que não tive tempo para conhecer outras ondas. Especialmente Desert, Nias e Super Sucks. Ano que vem, se der tudo certo, volto para G-Land.

 

Gostaria de agradecer a excelente companhia do meu amigo Cesar, a todo staff do Bobby´s Camp, toda brasileirada que proporcionou momentos hilários e principalmente as empresas que me apoiaram; Chilli Beans, Hotstick (pranchas) e Dakine. 

 

Trouxe mais de 200 fotos. Comprei do Willy (Joyo´s) e do Jonh (Bobby´s). Para esta matéria, separei algumas do John Hepler e do Dave Thomas. Confira na galeria.