Doce veneno das cobrinhas

Cobrinhas d´água, Maresias, São Sebastião (SP)

Marcela Duarte dropa com estilo no Tombo. Foto: Kalani Brito.
Colírio para os olhos, a presença feminina no outside tem aumentado o brilho
nos olhos da surfistada. O aumento desenfreado de mulheres surfando em nosso litoral tem tornado nossa tribo ainda mais alegre, dos surfistas até aos empresários.

Revistas, marcas e campeonatos direcionados ao segmento refletem em números esse aumento de mulheres dentro d?água.

 

Bom, mas esse artigo é para apresentar oficialmente em nível nacional, apesar de algumas dispensarem apresentações, ao meu ver a maior turma de surfistas gatas que já conheci.

 

Cobrinhas d´água reunidas em Maresias. Foto: Kalani Brito.
As ?cobras d?água? como se intitularam, é um grupo de amigas com base no Guarujá, unidas pelo surf, mas que já alcançaram dimensão nacional, ou melhor, mundial.

 

Elas podem ser vistas em qualquer lugar de nosso litoral, em uma simples barca surf, festas ou até campeonatos.

 

A surfista profissional Claudia Gonçalves, mais conhecida como Claudinha, é uma dos ícones da turma, e define as cobrinhas d?água como não mais somente uma turma, e sim um movimento.

 

?As cobrinhas d?água têm como objetivo fazer o que mais gostamos, que é surfar e curtir a vida. Essa vibração positiva nos uniu concretizando esse movimento em nível mundial?, diz Claudinha.

 

?Não se preocupe se você não leva o surf profissionalmente. Você não precisa rabiscar as ondas preocupada em somar pontos para se tornar uma cobrinha d?água.Você pode dropar uma onda gigante, como a bigrider Silvia Nabuco, partir para um hang-five como Marcela Duarte, ser uma bodyboarder como Juliana Freitas, ou simplesmente ser uma fotógrafa como Lika Maia. Não tem regras. O que vale é o amor ao surf?, garante a atleta do SuperSurf.

 

A paixão pelas ondas move montanhas e essa vibração impar cativou amigas e afiliadas em todos os lugares por onde essa turma passa.

 

Bruna Queiroz, de Maresias, e a carioca Aninha, são exemplos. ?As cobrinhas originais são paulistas, então me sinto muito prestigiada por fazer parte dessa turma. Posso até dizer que sou a única cobrinha carioca?, comenta a carioca.

 

?(Será que tem mais?). Sei que a distância jamais deixará a amizade que sinto por elas esfriar, pois de uma forma ou de outra sempre estamos em contato (e-mail, orkut, msn, telefone, viagens, campeonatos). Amo muito tudo isso?, explica Aninha.

 

?Morro de saudade de todos os momentos e histórias, perrengues e lugares que já passamos juntas. E o mais legal, é que volta e meia aparece uma cobrinha se apresentando… tipo ?oi! eu sou amiga da fulana!?. E eu nem penso duas vezes em tratar superbem, pois se é amiga de uma cobrinha, não pode ser má pessoa! Existe uma certa credibilidade?, conta a surfista.

 

Algumas cobrinhas até já migraram fora do país. Veridiana Freitas e Karen Trakinas são as representantes australianas da turma.

 

?Aqui na Austrália tem cobrinha sim, e não esqueço nunca que as cobrinhas migram em determinadas épocas do ano. E isso me ajuda muito a continuar aqui, afinal quando começo a me sentir solitária aparecem visitas, como a da Claudinha, que sempre vem quando pode. Ela vem representar a ?bandeira cobra brasileira? nos eventos. Ela me deixa atualizada sobre tudo que acontece no Brasil. Sempre estou muito bem informada, somos cobrinhas globalizadas?, brinca Veridiana, que também é correspondente do Waves na terra de Oz.

 

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Cobrinhas rumo ao surf em Maresias. Foto: Kalani Brito.

A amizade também é muito forte fora d?água.

 

?Ser uma cobrinha também significa fazer parte de um grupo de amigas que além de gostarem muito de surfar juntas, curtindo e se incentivando, também gostam de se unir fora d’água para o que der e vier. Seja uma trip ou balada. Até roteiro de filme já criamos. Mas, também tem a hora em que se alguém está passando por um problema, ou precisa de uma força, então nos unimos para ajudar.

Podemos nos definir em três palavras: amizade, solidariedade e muito surf?, explica Silvia.

 

Silvia Nabuco, a cobrinha big rider, despenca em Sunset, Hawaii. Foto: Arquivo Pessoal.
Apesar dessa turma ser formada em sua maioria por mulheres, tem alguns integrantes
homens. Inclusive o nome da turma ?cobra d?água? partiu do surfista profissional Heitor Pereira.

 

Durante viagem à Indonésia, ele se viu dentro um zodiac com algumas cobras d?água e ficou morrendo de medo. Binho Nunes o consolou, explicando que aquelas cobras eram iguais a ele, ou melhor, ?sem veneno?, ficando assim com o apelido de cobra sem veneno.

 

Na temporada havaiana de 2003, eu mandei algumas fotos por e-mail do Heitor
e Junior Faria para as irmãs paulistas radicadas no Guarujá, Camila e
Marcela Duarte. E a Camila elegeu o Heitor um ?gatinho?.

 

Na volta ao Guarujá, busquei o Heitor em sua casa e o levei à casa de Camila. Como os dois ficaram se olhando e não tomavam uma atitude, a partir de então foram intitulados como os ”cobras sem veneno”.

 

Com o passar do tempo, Marcela, irmã da namorada de Heitor tornou-se a cobrona e todas as amigas começaram a se chamar de cobra venenosa, cobra sem veneno. No final, o nome da turma virou cobrinhas d?água.

 

A big rider Silvia Nabuco, a mais velha da turma, é a cabeça. Cansou de lotar seu carro em busca das melhores ondas e de eventos no litoral brasileiro. E apesar de gostar de ondas grandes não coloca pressão além da conta nas meninas.

 

?Eu boto pilha nas cobras para surfarem ondas cada vez maiores, mas sem pressão?, garante.

?A turma das cobrinhas formou-se no Guarujá e hoje é internacional. Eu acho que independente do lugar do planeta, tipo de pessoas e culturas, o mais importante é curtir esse astral que o surf proporciona e passar essa vibração positiva para as pessoas a sua volta. Ao longo do tempo vamos formar cobrinhas d’água por onde estivermos… uou!!! (nosso grito de guerra!?, acrescenta Claudinha.

 

Na última temporada havaiana, durante uma sessão em Kamieland, em pleno domingão com ondas de 3 pés, cerca de seis mulheres com mais de 30 anos com seus
longboards impregnavam o pico.

 

E entre uma série e outra, o bate-papo que incluía o que fariam de almoço para seus maridos, as cobrinhas havaianas faziam o que mais gostam, surfar! Olhando a cena já tinha intitulado em minha mente a turma das cobras havaianas.

 

Hoje, as cobrinhas d?água no Brasil têm até comunidade no orkut, com mais de
70 afiliado/as, inclusive com integrantes como o big rider Danicks Fisher, o surfista profissional Junior Faria, videomaker Marcelo Dada.

 

Se você está se perguntando se rola ciúmes por parte das outras meninas em relação
a atual turma das cobras, Silvia Nabuco responde. ?Não sinto que exista ciúme, a não ser depois que lerem a matéria (risos). Brincadeira, todas meninas são bem-vindas ao nosso grupo, que só cresce!?, completa Silvia Nabuco.

 

Que mais e mais cobras invadam as nossas águas.

 

Aloha

 

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Agradecimentos aos fotógrafos Kalani Brito e Silvia Winik pela cessão das imagens.

 

 

 

 


 

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