Primeiramente gostaria de me apresentar, meu nome é Fernando e sou conhecido como DG.
Sou natural de Floripa, onde vivi minha vida toda, há alguns meses moro na Austrália e agora contribuo com fotos, e às vezes idéias com Alexandre Piza, correspondente e grande pensante do Waves Austrália.
Bom, há algumas semanas tive uma forte experiência de vídeo-maker para a ESPN Brasil durante o Billabong Pro Junior em North Narrabeen, e gostaria de relatar alguns aspectos que considero validos.
Posso assegurar que fiquei apavorado, não poderia dizer outra palavra, com a alta performance destes novos e futuros componentes da elite do surf mundial.
O que vi naqueles dias foi agressividade, leveza, fluidez e muita modernidade, me senti como se estivesse vendo ao vivo as filmagens de Young Guns 2, com aquelas manobras impossíveis sendo facilmente completadas.
Acompanhei bem de perto alguns atletas, dentro e fora da água e foi aí que comecei a diferenciar com muito mais clareza uma importante questão ? aqueles que vão chegar mais longe dentro do surf profissional e os outros que possivelmente não.
Mas, por que não? Essa pergunta me vinha em mente todo momento, como aquela musica horrível que você escuta por acaso e não sai da cabeça, sabe?
Pois é. E conversando e convivendo alguns poucos dias com parte da equipe brasileira composta por Adriano Mineirinho, Martins Bernardo, Halley Batista, Marina Wernek e Claudinha Gonçalves, pude tirar algumas conclusões e entender muito melhor o que se passa na cabeça desta nova geração, encontrando possíveis respostas para a minha dúvida.
Posso assegurar que garra, muito surf, determinação e vontade de vencer não faltam aos nossos atletas. Mas algo talvez até simples de entender acontece fora da água.
Isso mesmo. É lá onde as coisas acontecem, por incrível que pareça, onde se constrói a base da estrutura de um futuro campeão, quando se pode diferenciar o cara que tem ?sangue? nos olhos e visão para fazer com que as coisas aconteçam a seu favor, daquele que precisa talvez de mais maturidade ou ?malandragem?, no bom sentido.
Mas antes de mais nada, quero dizer que minha intenção aqui não é a de julgar o que sujeito está fazendo e o que o outro está deixando de fazer, mas sim apontar o caminho que está dando certo, qual o ?ritmo? da balada, quais exemplos e atitudes devemos ver e seguir para chegar onde se quer.
Observei e acompanhei muitos atletas, inclusive alguns gringos, que mais pareciam estar em férias do colégio do que na mais importante etapa mundial da categoria Júnior.
Mas, um brasileiro foi quem mais me chamou a atenção. E não apenas pelo surf, mas sim pelas várias atitudes positivas. Um extremo profissionalismo, maturidade e foco, especialmente fora da água, isso o que vi em Adriano Mineirinho.
O cara ligava a toda hora para os patrocinadores, apoiadores, buscando oportunidades de mostrar serviço, dar entrevistas e divulgar as marcas, preocupado e instigado realmente com a questão de dar retorno para aqueles que pagam seu salário, com a mesma vontade com que entrava na bateria e destruía as ondas.
Foi aí que pude entender e obter uma resposta convincente para aquela minha
pergunta incômoda. A coisa toda é bem simples. Tudo basicamente gira em torno dessa relação patrocinador e atleta, que é simplesmente um negócio.
Ninguém está ali porque acha legal ou quer ajudar um ao outro, sem nada em troca. A realidade é capitalista, e não paternalista!
Mas, poxa, aí vão dizer, “o cara não tem oportunidade de ter um bom patrocínio”. Sei e concordo com essa frase, especialmente por sermos brasileiros e nossa luta sempre ser em dobro, mas por outro lado, infelizmente canso de ver atletas perdendo patrocínio de grandes marcas e vejo que isso ocorre justamente pela falta de profissionalismo e vontade fora da água.
O cara passa algumas baterias ou ganha um evento e pensa “agora fiz meu dever de casa e posso relaxar…”. É aquela historia que o Torcedor Fanático sempre frisa do cara ralar no WQS ao redor do mundo, dando cotovelada em campeonatos com 192 atletas e depois ficar tomando água de coco em Fiji ao lado do Occy no WCT, sem se preocupar tanto no empenho que deveria dar, no instinto de superação etc.
Você sabia que o pior desempenho num ano de WCT pertence a um brasileiro? Pois é, Renan Rocha surfou 11 eventos em 2005, terminou em último lugar e ainda embolsou US$ 41.400. Será que tem alguma coisa de comodismo nisso tudo ou é somente coincidência?
Infelizmente, o caminho é bem o contrario. O trabalho está apenas começando, é preciso correr atrás de publicidade para divulgar o bom resultado e mostrar ao patrocinador que ele fez uma boa escolha e que colherá frutos se continuar investindo no cara.
Falo isso porque conheço um atleta brasileiro que mora na Austrália e que tem feito ótimos resultados. E o cara ganha conforme aparece em matérias ou em fotos nas revistas australianas.
Quer dizer, ele antes precisa mostrar serviço pra depois receber, puramente um negócio!
Mas também falta uma dose dessa malandragem acima que quis relatar. Ou seja, esse mesmo atleta tem saído com freqüência no Waves Austrália por méritos incontestáveis. Ele deveria mostrar isso ao patrocinador, já que se trata de uma marca overseas (multinacional), mas ele não mostra!
O patrocinador tem interesses no Brasil. Entende onde tem a falta de visão do próprio atleta que não tem um empresário por trás?
Infelizmente, já que nós brasileiros não nascemos em um berço de ouro, como na Austrália ou Hawaii, muitas vezes não temos as condições básicas de equipamento pra treinar, não fazemos surf trips de três em três meses.
Como bem disse Peterson Rosa: ?O projeto está errado e a nova geração está mal preparada. Até 15, 16 anos, todo mundo está meio igual, mas depois os ‘gringos’ começam a viajar para a Indonésia e vão se aprimorando. Com o brasileiro, primeiro ele entra para o circuito, depois tenta melhorar?.
São raros os casos em que os atletas brasileiros têm cabeças pensando por ele nessas partes burocráticas. Conseguem tudo com esforço absurdo e dedicação. Devem focalizar a mentalidade nessa simples matemática do negócio, já que é isso que pode levar a algum lugar melhor.
Profissionalismo, determinação, muito foco e vontade fora da água trarão retorno financeiro e, por conseqüência, condições para estruturar e tornar campeões nossos atletas.
Porque dentro da água, o surf e a vontade de vencer tenho certeza que temos pra dar e vender.
Exemplos e idéias que estão dando certo temos que mentalizar e seguir sem dúvida. Os maus exemplos deixamos como lição de um passado conturbado. O atleta precisa se desdobrar, mas o patrocinador precisa orientar.
Alta performance na bateria + patrocínio com estrutura = conquistas para o atleta.