DNA Salgado

Echo Beach, o início da mudança

Toda a galera no molhe da rua 54. Echo Beach (EUA). Foto: Chuck Schimid

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Foto emblemática do movimento que marcou a transição do fim dos anos 70 para o início dos anos 80 entre comportamento, estilo e moda no meio do surfe. Foto: Mike Moir.

A transição do fim dos anos 70 para o início dos anos 80 entre comportamento, estilo, pranchas e a moda no meio do surfe, foi marcada por uma forte mudança de atitude entre os surfistas da Califórnia e Austrália, e depois de alguns anos aterrissou de vez no Brasil.

Nos anos 70, o psicodélico era o estilo mais evidente, e através das suas cores e efeitos vindos de formas geométricas, Flower Power e as alucinadas viagens mentais, os surfistas estavam sempre em harmonia com as praias, natureza e, claro, as ondas.

Desligados de todo o resto e não se preocupando com o crescimento do esporte, competições e suas possíveis mudanças, eles só queriam estar na praia e dentro d’água o máximo possível. Fotos eram um acessório para eternizar momentos do surfe psicodélico, nada profissional.

No começo dos anos 80 e, arrisco a afirmar que foi em 1981, começou uma mudança trazida por gerações mais novas que também eram apaixonadas por mar, praia e pranchas, só que estes já buscavam inovações em pranchas, musica, cores, moda, fotografia e gostavam da competições.

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Toda a galera no molhe da rua 54, em Newport Beach, Califórnia (EUA). Foto: Chuck Schimid.

Na Califórnia, não poderia ser diferente, e este movimento chegou com muita força, conhecido como “New Wave”.

Os surfistas californianos logo abraçaram essa “moda” e, como sempre, sua maneira de ser e de agir trouxeram este movimento, adaptando-o ao surfe e suas vertentes.

O movimento foi fortemente abraçado por todos, mas teve um grande grupo de surfistas “rebeldes” e com sede de mudanças de Orange County, Califórnia, locais de Newport Beach.

Cansados da mesmice, eles começaram a se expressar através do surfe, música e roupas, cultuando este estilo muito intensamente, principalmente em suas pranchas, wetsuits, fotografia e até nas competições. Era muito mais uma ação contra a cultura do que qualquer outra coisa!

Existia um grupo de excelentes grommets e juniores que eram locais de NPB, especificamente entre os molhes das ruas 52 e 56, mais precisamente na Rua 54, a famosa 54th Street. Este pico, como alguns outros nessa praia, receberam molhes de pedra que, durante suas construções, foram modificando os fundos de areia para muito melhor, dando uma cara mais “pointbreak” àquelas ondas tubulares. As ondas ficaram muito boas!

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Geoff McCoy (à esq.) e Greg Pautsch em frente à fábrica de pranchas McCoy, em 1983. Foto: Reprodução.

A partir deste momento, esses surfistas locais apelidaram o pico de Echo Beach, que representava toda a energia e inovação expressadas por esse grupo de jovens e excelentes surfistas. O grupo desses famosos surfistas era composto por: Danny Kwock, Preston Murray, Jeff Parker, Jonh Gothard, Smerk Mangan, Peter Schroff e Richie Collins.

Todos que frequentavam e surfavam em Echo Beach representavam o que tinha de mais moderno e inovador naquela época e, de forma muito intensa, influenciaram e influenciam o surfe até os dias de hoje! O conceito era “não quero ser igual a todos, quero ser diferente”. Have fun!

Também foi lá que a fotografia profissional no surfe tomou forma. Cansados de cabelos compridos e roupas de borracha pretas, esses caras vieram com muita energia e coloriram tudo! Uma coisa era certa: eles tinham seus próprios estilos e não queriam nem de longe parecer com os outros.

De uma hora para a outra, NPB parecia North Shore. Você chegava cedo à praia e lá estavam mais de 15, 20 fotógrafos espalhados entres os molhes das ruas 56 e 52. Todo mundo queria estar lá, surfar lá!

Dividida em 4 pilares, Echo Beach se desenvolveu e influenciou tudo das formas abaixo.

Música

New Wave, rockabilly, ska, punk rock, eletrônico eram predominantes nessa época. Grupos como B52, Dead Kennedy, Devo, Untouchebles, Spandau Ballet, Sex Pistols, Martha and The Muffins, Stray Cats, Talking Heads e muitos outros. A surfistada levava seus toca cassetes para a praia, colocava o som para rolar antes de cair na água ou entre uma sessão e outra, para dar uma agitada e acelerada. Nas festas eram sós estes estilos de som que tocavam. Algumas bandas como Adolescents e The Crowd nasceram na Califórnia, bandas estas compostas por surfistas adeptos deste mesmo movimento.

Pranchas

Mark Richards acabara de redesenhar as biquilhas, dando às mágicas pranchas mais velocidade e performance. O surfe vivia naquele momento uma forte mudança em seu jeito de surfar e começava a deixar de ser tão contemplativo para ser mais inovador e progressivo. As biquilhas ajudaram muito nisso. Em Echo Beach, as biquilhas formaram um ícone e deram aos famosos surfistas dessa geração muita performance e progressividade em um surfe que dava gosto de ver. Começaram a dar rasgadas e snaps com muita curva e jogando água para todo lado!

Andando pela praia, você não via uma prancha lisa ou branca, eram todas muito coloridas e com desenhos que representavam bem o New Wave / Echo Beach style, como zebrados, quadriculados e formas geométricas, sempre com cores fluorescentes e frisos pretos. Naquele momento, shapers como Lance Collins, da Wave Tools, o australiano Geoff McCoy, o californiano Greg Pautsch, da McCoy Surfboards, e o californiano Shawn Stussy tomavam conta da praia com suas pranchas inovadoras.

Fotografia

Bem nessa época, a surfistada descobria que ser fotografada diariamente poderia trazer mais do que satisfação pessoal, poderia começar a garantir dinheiro para surfar. Os surfistas de Echo Beach deram muita importância para isso, enquanto os profissionais de outros lugares estavam mais preocupados com resultados dos campeonatos. Eles começaram a ter suas fotos publicadas aos montes nas principais revistas de surfe, a Surfing e Surfer, e por muitas vezes viram suas fotos nas capas destas revistas. Em um começo avassalador. Eles tiveram seus nomes muito evidenciados, transformados em ícones dentro e fora d’água.

Moda

Na moda, veio a grande transformação que perpetua até os dias de hoje. Com todo esse movimento New Wave muito colorido, a Quiksilver – na época uma marca que tinha em seus boardshorts o produto principal – era dirigida pelo genial Bob Mcknight e Jeff Heckman.

Também fazendo parte de todo aquele momento alucinante, eles começaram a patrocinar os principais surfistas de 54th street e lançaram vários boardshorts (principal produto da marca até os dias de hoje), todos bem coloridos, quadriculados, com losangos, bolas e faixas assimétricas, estilo tão marcante que são lembrados até os dias de hoje. Era o calção número um de todos que surfavam e frequentavam Echo Beach.

Além da Quiksilver, marcas renomadas internacionalmente como Stussy e Gotcha também explodiram nessa época. Seus modelos de trabalho e criação de produtos foram inspiração para muitas marcas que vieram depois, como a Volcom e RVCA.

Sem medo de errar, afirmo que todo esse movimento está ressurgindo na Califórnia, com muita autenticidade e originalidade. Aqui no Brasil, acredito que só as marcas que realmente viveram essa fase do mercado e têm o mais puro DNA salgado (surfe) poderão reeditar os produtos de verdade. Vamos aguardar!

Wetsuits

Sem dúvida, a Rip Curl foi a responsável por inovar e abraçar ao movimento e colorir os mares da Califórnia e Austrália com suas cores fluorescentes, além de inovar nas modelagens e cortes das roupas de borracha naquele período.

O ponto predominante de todo este movimento, o nascimento da Echo Beach, tem claramente uma força muito mais artística e criativa do que comercial. Mesmo se olharmos para o lado profissional da fotografia, veremos isso.

E foi assim que esses gigantes da 54th Street fizeram a história tomar outro rumo. Ainda bem!

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