Leitura de Onda

Ecos de Andy

Sebastian Zietz, Drug Aware Pro 2016, Margaret River, Austrália.

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Para Tulio Brandão, Sebastien Zietz tem muito de Andy Irons. Foto: © WSL / Cestari.

 

Ele cresceu em Pine Trees, no Kauai. É um surfista de talento bruto, capaz de produzir notas altas em qualquer mar. Sofreu antes de brilhar pela primeira vez na elite. Até semana passada, era visto como underdog. Vem de uma cultura simples, típica de sua ilha – já trabalhou até como lavador de pratos. Ama seus oito irmãos, faz questão de dedicar suas conquistas à família. Costuma brilhar em Pipeline, onde mais de uma vez resolveu sua classificação para a elite. Já venceu a Tríplice Coroa Havaiana.

Sebastien Zietz tem muito de Andy Irons.

Ou mais que isso. Seabass, como o mais novo campeão de Margaret River é conhecido, era fã declarado de Andy. O garoto saía da água para vê-lo surfar em Pinetrees. Acompanhou de perto a trajetória repleta de altos e baixos de seu ídolo, seu surfista favorito – desde o rebaixável 34o lugar em 1999, passando pelos três títulos mundiais, até a derrota na luta contra as drogas.

Seabass estava na lista seleta de surfistas que eu gostaria de ver brilhar algum dia, assim como Matt Wilkinson. Mas há uma diferença entre os dois surfistas. Para o resto da temporada, embora eu ainda ache tarefa dura para os dois a briga pelo topo, vejo o havaiano com mais credenciais nas etapas restantes. Com a aposentadoria anunciada de Taj Burrow, os seriamente contundidos no estaleiro e a boa vontade da WSL, ele provavelmente terá chance de pelo menos tentar se manter na briga.

Se por acaso estiver vivo até o Havaí, aí, amigos, Andy estará mais vivo que nunca.

Em Margaret, Seabass encaixou um carving agudo, raro, que combinou linha irretocável, borda inteiramente encravada na água e recursos que valorizavam a manobra, como grab-rail e curvas bastante alongadas. Mereceu. Foi melhor que os outros surfistas da mesma cepa, que tinham perfil mais clássico, como Julian Wilson e Joel Parkinson. Seu surfe também impressionou mais que o ataque do último goofy vivo na prova, Italo Ferreira.

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Italo Ferreira vem se consolidando como o mais forte raio da tempestade brasileira no ano. Foto: © WSL / Cestari.

 
O garoto de Baía Formosa, aliás, vem se consolidando como o mais forte raio da tempestade brasileira no ano. Fez duas semifinais de costas para a onda, usando muito pouco seu temido recurso de manobras progressivas. Em Margaret, deu um show contra Kolohe, marcando posição importante, na disputa particular entre surfistas da nova geração que estão bem colocados no ranking. Contra Seabass, errou mais do que devia, não encontrou a linha mais adequada.
 
Quem considerar as performances de Italo em ondas tubulares e em paredes afeitas a manobras progressivas da última temporada, vai temê-lo pelo resto de 2016.

Se houvesse um prêmio de “carne de pescoço” do ano, de surfista sem medo, de competidor que não perde antes da hora, a medalha iria para o estreante Caio Ibelli. O cara está no caminho de se tornar um dos surfistas preferidos dos torcedores brasileiros. Vencer John John Florence duas vezes seguidas, jogando contra a banca? Tirar Jordy Smith, vingando Bells? Vencer da forma que venceu, com autoridade, sem desperdiçar chance de matar o adversário? É um alento seu espírito forte. Nas quartas, não achou seu melhor surfe contra contra o encaixado Seabass. Estou curioso para saber se o seu reconhecido jogo progressivo se converterá em resultados na elite.

Gabriel Medina acordou a tempo de fazer um nono lugar na perna australiana, mas não encontrou seu melhor surfe. Em Margaret, fez algumas ondas boas, mas não estava totalmente encaixado na onda. Depois de mais um início de ano sem bons resultados, chega ao Rio com a missão de tentar iniciar sua recuperação no ranking mais cedo que no ano passado. Vai vir com fome ao Rio.  

Adriano de Souza, o atual campeão mundial, perdeu novamente no round 3 para um convidado. Talvez seu espírito vencedor esteja merecidamente de férias, talvez ele esteja simplesmente com falta de sorte. Não importa. É hora de acordar para a guerra, para fazer o que ele fez durante praticamente toda a última década.

Margaret, sobretudo como se apresentou nos dias finais, seria uma etapa afeita ao surfe de Mineiro. Mas seu algoz, o italiano Leonardo Fioravante, não tinha nada com isso. Fez por merecer o convite, surfou muito bem a bateria e em quase todo o evento.

O Rio marca a volta de Filipinho Toledo, campeão da prova ano passado, que chega para tentar embolar uma temporada absolutamente surpreendente e, talvez por isso, ainda mais instigante. Qual será a próxima zebra? 

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