Ecossistemas brasileiros ainda estão ameaçados

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No último mês de maio, devido às pressões de diversos setores da sociedade, o Congresso Nacional decidiu retirar de pauta os projetos que ameaçavam destruir os ecossistemas florestais brasileiros. Contrariando os relatórios preparados pelos próprios técnicos do IBAMA, os nobres deputados haviam aprovado em primeira instância uma lei que poderia permitir a derrubada de até 50% da floresta amazônica, e até 80% de cerrado em propriedades particulares. Entre outros absurdos, o projeto de lei também ameaçava a mata atlântica e a restinga, o que fatalmente levaria à destruição completa desses ecossistemas.
Outro polêmico projeto que tramitava em Brasília era o que entregava 10% das áreas de manguezais para os criadores de camarão. Devido às pressões, o projeto também foi retirado de pauta para ser reavaliado, e deverá ser apresentado novamente junto com o outro projeto que trata das florestas. A retirada de pauta destes dois projetos representou uma vitória parcial dos ambientalistas, já que os projetos serão reapresentados na câmara e também no senado. Além disso, os lobbies para a aprovação de mudanças são fortes, constituídos por ruralistas (em maioria latifundiários e representantes das madeireiras), empresários ligados a grupos estrangeiros, políticos com segundos interesses etc. Ainda que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha afirmado que vetará qualquer lei que ameace os ecossistemas brasileiros, a sociedade deve continuar atenta para evitar manobras ?por debaixo do pano?, tão conhecidas entre nós.
O pior é que os argumentos dos ruralistas são ridículos (eles dizem que é preciso plantar para saciar a fome do país), já que os solos, principalmente os amazônicos, são impróprios ou pouco adequados para o plantio. Os próprios estudos realizados pelo IBAMA apontam para uma manutenção dos limites atuais, porém parece que os interesses alheios andam falando mais alto.
Quanto aos mangues, os pesquisadores que atuam na área (o Brasil possui alguns dos maiores especialistas em manguezais do mundo) têm afirmado categoricamente que permitir sua utilização para carcinocultura poderá levar à destruição de nossos mangues. Hoje se sabe que os mangues constituem as principais áreas de reprodução e de crescimento de peixes e crustáceos com valor comercial (Ex: robalo, tainha, sardinha, corvina, linguado, camarões branco, rosa e 7 barbas, caranguejos etc), e que a produção pesqueira na costa depende totalmente dos mangues e de sua conservação. Além disso, estudos realizados em lugares onde a carcinocultura é muito desenvolvida, como Cuba, Equador, Filipinas e Hawaii, mostram que após um certo tempo, a qualidade das águas nas áreas próximas aos cultivos fica seriamente afetada, levando a uma diminuição drástica na quantidade de pescado e também no número de espécies de valor comercial que são capturadas. Os exemplos parecem dizer que na maioria das vezes, usar o mangue para essas finalidades não é nada recomendável.
Quer dizer, enquanto os donos do cultivo ficam bem na fita e ainda levam toda a grana, os pescadores se dão mal. Aliás, o país se dá mal, pois quem está perdendo com a diminuição da pesca é o Brasil, já que o pescado é um recurso natural e representa fonte de divisas para o país e de empregos diretos e indiretos para muita gente.
Os jornais estão divulgando esta batalha e há também uma grande campanha na internet para que e-mails sejam enviados aos políticos em Brasília, pedindo que desistam da idéia de entregar nossas matas para as grandes madeireiras e os mangues para os carcinocultores. É isso, vamos continuar atentos para evitar surpresas.