Em Itacoá, sem gás não dá

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Quem disse que a vida de bodyboarder é fácil? Otavio encara o triângulo matador em Itacoá. Foto: Águia.
O bodyboard, mais que qualquer outro esporte radical, requer uma preparação física e psicológica, muitas vezes além do normal. Encarar lips pesados a todo instante, fazer com que eles não te esmaguem, e sim que te façam voar alto, não é uma tarefa fácil. Mas é uma tarefa necessária para qualquer atleta que busque uma carreira sólida e consistente.

 

O último evento do circuito carioca Amador, em Itacoatiara, primeira etapa do OBN – Organização dos Bodyboarders de Niterói, foi um pouco tenso. Passei pela experiência de tomar todas as séries, que tinham um metro e quebravam na areia, na cabeça.


Enquanto competia, pensava em todo o gás

Luciana Figueiredo, Akemi Saito e Paola Simão. Foto: Aquamix.
que suei muito para conquistar, e isso me proporcionou confiança para não desistir e levar meu corpo até o limite. Foram quinze minutos de bateria, peguei três ondas e tomei três séries inteiras na cabeça.

 

Quem conhece Itacoatiara sabe o peso daquela onda, e quem quer ser atleta, como eu quero, sabe que isso é parte do ofício, não adianta fugir. Minhas horas de malhação na academia contribuíram para que eu aguentasse até os últimos 30 segundos, e minha experiência em mares pesados fez com que não me desesperasse. Pela primeira vez, senti na pele o quanto é importante trabalhar a respiração e o

Daniele Batista cava durante evento em Itacoá. A atleta já está fora de perigo. Foto: Dudu Moraes.
gás, e fiquei feliz quando ouvi algumas pessoas dizendo que muitos homens não agüentariam nem a metade.

 

No entanto, esse não foi o pior episódio do dia, Daniele Baptista, um dos destaques da categoria, tomou uma série forte e acabou desmaiando dentro d´água. A atleta foi levada para o hospital desacordada, mas já passa bem. Esse imprevisto fez surgir algumas discussões em relação ao esporte, mas quero destacar a que mais me chamou atenção a que se referia a categoria feminina e sua falta de talento.

 

Admiro todas as meninas que estão iniciando, todas as que já competem e mais ainda aquelas que conseguem desfilar na praia para dar retorno a seus patrocinadores. Já surfei em fundo de coral, na Indonésia e no Hawaii, até mesmo em picos de Tow in, como Phantons, e posso dizer com todas as letras que não existe perrengue pior do que encarar a pressão que rola na areia. A pressão de estar sendo julgada o tempo todo pelo simples fato de ser mulher.

 

 O último campeonato de surfe feminino aconteceu no Tahiti e foi nervoso, muitas competidoras não droparam nenhuma onda, mas no fim tudo terminou bem. Não vi comentários pejorativos, até porque falar de fora é muito fácil e, também porque a assessoria de imprensa do evento jamais permitiria uma conduta dessas em público.

 

Eles estão certos, e tudo começa pela assessoria de imprensa, um ponto necessário para qualquer organização ou Federação se expressar bem, de forma educada e formal, profissional como deve ser. Infelizmente o bodyboard ainda não tem um filtro de informação que nos ajude a crescer, ou que, ao menos, não nos derrube de vez. Por isso é necessário ter gás para encarar as morras e seguir o caminho que foi desenhado pelo amor.

 

Pelo amor sim, pois quem julga hoje, está ganhando para isso, mas quem está sendo julgado paga caro, em troca da simples satisfação de pegar onda a qualquer hora e sobreviver disso. E transformar esses pesados lips em perfeitas rampas de decolagem.

 

Agradecimentos ao site ricosurf.com