Carlinhos Zodi

Entre o mar, o asfalto e os palcos

Carlinhos Zodi, Ondas Sonoras

 

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Carlinhos Zodi busca inspiração na raízes da música brasileira. Foto: Divulgação.

Esportista desde criança, Carlinhos Zodi sempre transitou pelo universo outdoor e pela música, junto ao universo urbano impregnado pelo skate e às praias por causa do surf. 

Sua música apresenta características únicas e identidade forte. Multi-instrumentista por natureza, Zodi faz questão de gravar a parte instrumental em seus discos, além de compor e cantar suas próprias músicas, o que as torna verdadeiras.

Onde você busca inspiração para tuas músicas?

Boa pergunta, com uma resposta simples e verdadeira. Me inspiro na vida. Minhas músicas não são essas músicas arquitetadas ou tecnicamente pensadas, não consigo fazer músicas assim, então sempre se referem a algo que está acontecendo ou que eu gostaria que acontecesse. São sempre situações ou projeções da realidade da minha vida, meus anseios, meus valores, minhas tristezas e minhas alegrias.

Escute agora uma playlist prepara por Carlinhos Zodi, especialmente para nossos leitores:

Como as raízes brasileiras musicais influenciam o teu som? 

Impossível não ser influenciado num país tão rico musicalmente! Lembro quando eu era criancinha de umas rodas de samba que eu via nos botecos da praia, nem sabia o que era aquilo na época, mas ficou marcado pra sempre aquele ritmo e aquela alegria. Temos grandes mestres aqui, como o Gilberto Gil e o Dominguinhos que se foi há pouco tempo. Mestres mais antigos como o Cartola e Pixinguinha. Se começar aqui a lista não acaba.

Minha geração assimilou muita música boa brasileira, o disco que minha mãe colocava pra me entreter quando pivete era dos Saltimbancos, uma obra infantil impecável encabeçada pelo Chico Buarque. 

Nossa, que papo de véio, né? (risos). Mas eu gosto muito das coisas antigas, elas eram de uma complexidade e profundidade muito valiosas, músicas rebuscadas soando simples. Pra mim esse é o mais difícil e mais legal de se chegar com uma música. Fazer ela mesmo que complexa, parecer simples, pra chegar num lugar mais profundo na alma das pessoas.

Escute agora a discografia completa de Carlinhos Zodi:

Quem são suas maiores referências brasileiras?

Não sei se são minhas influências, mas são artistas que considero mestres e gosto muito de escutar: Gilberto Gil, Toquinho, Baden Powell, Caetano Veloso, Djavan, Vital Farias, Xangai, Geraldo Azevedo, Cartola, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Luiz Melodia, João Bosco, etc. Nossa, a lista vai longe (risos).

Você também diretor de TV, né? Conte-nos um pouco mais sobre este trabalho.

Comecei como editor de vídeo na época da faculdade. Em 2000 um amigo me chamou pra dirigir um programa de skate na TV. Comecei e não parei mais. Fui diretor e videorrepórter na ESPN por bastante tempo, cobri o Super Surf e mais um monte de coisas. Depois fui pra MTV desenvolver o Família MTV e o Mochilão Rock Estrada, além de dirigir MTV Sports e mais um monte de projetos nos tempos de glória da MTV. Hoje em dia dirijo e sou personagem do Pela Rua, programa de skate do Canal OFF.

 

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Carlinhos Zodi tenta dedicar pelo menos um dia da semana ao surf. Foto: Divulgação.

O surf está presente na temática das tuas músicas?

O surf literalmente não, mas a praia bastante. Eu sempre me projeto na praia. A praia é o lugar onde me sinto melhor, de onde não posso ficar longe. Sem o mar eu não consigo viver. Comecei a pegar onda com 11 anos de idade, tem água salgada no meu sangue, muitos registros de felicidade na minha memória são na praia e sem o surf eu ficaria louco.

Quem são tuas influências no surf e na música?

Gosto muito do Fabinho Gouveia, o rei do estilo, ele participou de um clipe meu, da música Mundo Mais Bonito, ele e o Ian, filho dele.

Meu guru do surf é o Edinho Leite, um querido irmão com quem eu ainda caio no mar quase sempre, que hoje em dia é o editor da Fluir (risos).

Na música são muitas influências, desde o mestre Bob Marley, o Toots que participou do meu disco, mesmo o Leroy Sibbles que gravou no Kingston Bossa também e vários artistas jamaicanos.

O som do Ben Harper também mudou minha vida, lembro quando escutei pela primeira vez, não dava pra acreditar que alguém tava fazendo um som tão cabuloso, tive o privilégio de conhecer e fazer um som com ele também, foi mágico! E ele ainda me deu um instrumento de 1930 da coleção dele! Surreal!

Hoje em dia você tem pegado onda? Com qual frequência? Como concilia turnês e viagens com o surf?

Pego onda sim, praticamente uma vez pelo menos por semana, quando acumulam os shows ou as gravações do Pela Rua, eu fico um pouco mais ausente do mar, mas como minha agenda é flexível, sempre que vaga um dia, mesmo que no meio da semana, eu taco as pranchas no carro e pego a estrada pro litoral.

Você também é skatista. Como o surf e o skate se misturam?

No meu ponto de vista, o skate nasceu do surf mas se distanciou muito dele do meio dos anos 80 até os anos 2000. Hoje em dia o skate ganhou uma dimensão e variedade que fez ele voltar mais pra perto do surf, com essa onda de cruiser, longboard e o skate de diversão, não só o skate técnico de manobras. Eu comecei a andar de skate e pegar ondas ao mesmo tempo, com 11 anos em 1987, lembro que nos anos 90, a época que mais andei de skate, o skatista era um bicho preconceituoso da porra, que odiava quase tudo, inclusive o surf.

Eu não entendia aquilo, pra mim os dois esportes com seus estilos de vida eram mágicos, cada um com sua magia, e além disso o skate tinha nascido do surf, não fazia sentido o preconceito. Depois de um tempo, quando o pessoal começou a perceber mais a cultura da Califórnia, onde todo mundo anda de skate, pega ondas e faz snowboard, maluco por aqui começou a perceber que esse preconceito era uma grande besteira, que o mais legal é fazer o que a gente gosta e pronto.

Mas se você quiser uma resposta mais técnica, o skate nasceu do surf e muitas manobras no começo se baseavam mesmo no surf, hoje em dia a coisa inverteu, muitas manobras que começaram a rolar no surf, os aéreos com rotação e afins, nasceram no skate e foram incorporados no surf, hoje em dia muitos dos surfistas de ponta dão seu rolezinho de skate também.

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