Conversar com Marcos Bukão é mesma coisa que consultar uma enciclopédia do surf. Ele tem o maior prazer em lhe contar todos os mínimos detalhes de um atleta ou competição, seja da época dos anos 70 ou da última geração. Tem em seu currículo grandes e memoráveis campeonatos nacionais e internacionais de surf. O que leva esta pessoa ser tão querida por todos é sua humildade e simpatia com todos e em todos lugares.
Quando e como o surf entrou na sua vida?
[marcosbukão] Como praticante do surf iniciei em 1972, quando comecei a surfar em Santos e nunca mais deixei de pegar onda, embora nunca tenha me dedicado a competir, menos por falta de vontade e mais por falta de talento (risos). Como organizador de campeonatos comecei organizando o Circuito Paulista de Surf em 1980 na extinta Associação de Surf de Santos, junto com o Ika e com o Jacuí. A locução começou por acaso em 1986 em um campeonato em Ubatuba do Paulo Issa. Gostaram do meu trabalho e me chamaram para fazer o Sea Club, uma espécie de Super Surf na época. No ano seguinte fiz o Sundek International e daí pra frente não parou mais.
Foi a partir de qual momento que o surf virou seu trabalho, sua profissão?
[marcosbukão] Não posso negar que o surf me complementa o orçamento, mas não poderia viver exclusivamente disso. Sou engenheiro e tenho uma confecção e surfshop em Santos. Chama-se Hot Sand. Mas trabalhar com surf, além de ter alguma compensação financeira, principalmente proporciona a chance de viajar bastante, conhecendo lugares e pessoas interessantes.
Em que área do esporte procurou se identificar mais?
[marcosbukão] Na verdade não saberia responder o que me agrada mais ou com o que me identifico mais. Atuo tanto como locutor quanto como Diretor de Provas. A locução sem dúvida é mais instintiva, daí tenho mais prazer e menos preocupações, mas a realização pessoal de dirigir um campeonato como o Brasileiro Amador, ou então o desafio que foi coordenar dois Pan Americanos e três Mundiais é inegável.
Quais os fatos mais marcantes em toda a sua vida no surf?
[marcosbukão] Como surfista, sem dúvida o drop da primeira onda no Hawaii. Para surfistas da minha geração, Hawaii era um sonho tão distante quanto hoje seria surfar em Marte para a molecadinha de hoje. Em campeonatos foi no final do Mundial da Califórnia/96. Foi o maior evento em termos numéricos da história do surf. Doze dias em três palanques com 42 países e mais de setecentos surfistas. Eu era o Diretor de Prova e o Ian Cairns o Diretor de Operações. Quando acabou ele chegou e disse: “Parabéns!!! Nunca pensei que um brasileiro fosse capaz de terminar isso dessa maneira”. Na verdade nem sei se isso foi um elogio sincero ou uma provocação, mas de qualquer maneira me marcou. Mas sem dúvida a maior alegria foi ver a equipe brasileira dar um show no Mundial de 2000 e ser campeã dando um banho na Austrália. Na hora do hino só se via neguinho disfarçando as lágrimas.
Na sua visão o surf está caminhando para direção certa?
[marcosbukão] Em termos de evolução técnica sim, sem a menor dúvida. Em termos de espetáculo, de produto a ser vendido para a mídia acredito que devam ser feitos algumas correções de rumo para adequar mais o esporte ao público e principalmente para a TV. Hoje os campeonatos para as pessoas que não são entendidas ou amantes do esporte são muito longos, cansativos e extremamente técnicos…
O que poderia melhorar?
[marcosbukão] Para o surf de competição melhorar, como qualquer atividade no mundo se necessita de dinheiro.
O que irá atrair investimentos?
[marcosbukão] Entidades fortes e estruturadas quando se pensa em conseguir investimento do Estado. Um produto interessante em termos de mídia quando se pensa em investimentos privados. Ficar chorando pelos cantos dizendo que os empresários não devolvem ao surf o que ganham com ele é papo furado. Investir em campeonato é um investimento de marketing como anunciar numa revista ou fazer propaganda na TV. Cabe a quem organiza e bola o campeonato fazer com que o produto seja interessante e atraia os patrocinadores. Um bom exemplo disso é o circuito universitário, que tem um formato e propostas interessantes e está aí, firme e forte com bons patrocinadores, e, por conseguinte com boas premiações.
O que será o Bukão para o futuro?
[marcosbukão] O mesmo, só que mais velho ainda.(risos…).