Escolinha Radical promove integração

Cisco Araña ministra as aulas para deficientes na Escolinha Radical de Santos e dá exemplo de responsabilidade social

Legend Cisco Araña ministra aulas para deficientes na Escolinha Radical de Santos. Foto arquivo: Herbert Passos.
Um exemplo de integração social foi visto nesta terça-feira (dia 25) na Escolinha Radical Semes / Sthill, em Santos.

 

Mais de 50 pacientes do Hospital Escola Celso Pierro, da Puc de Campinas, participaram de uma aula especial na Praia do José Menino, onde está instalada a mais antiga escolinha pública do País.

 

Portadores de deficiências físicas, mentais, intelectuais, neuromotoras e também com problemas de comportamento puderam curtir momentos de extrema alegria e lazer, fazendo ginástica na areia e, claro, ?pegando ondas? com bodyboard.

 

Tudo orientado e supervisionado pelos professores da Escolinha Semes / Sthill. ?O grande objetivo dessa ação é essa interação entre os nossos alunos, nossos professores e os pacientes e professores da Puc. A idéia é a troca de experiências e a ajuda mútua. Aqui, também temos alunos portadores de necessidades especiais e assim todos ganham?, destacou o experiente Cisco Araña, idealizador e coordenador da Escolinha Semes / Sthill.

 

Essa ação com a PUC é realizada desde 2000. Semestralmente, o coordenador do Ambulatório de Terapia Ocupacional com Crianças e Adolescentes do Hospital da PUC, Roberto Ciasca, organiza grupos para conhecerem a praia, as ondas, o surf.

 

Segundo ele, os pacientes são incentivados a ter autonomia. ?Estimulamos a vida plena, a possibilidade de eles conseguirem fazer suas coisas sozinhos e também o contato com a comunidade, a integração?, disse Roberto.

 

Ele explicou que o surf é importante para os pacientes. ?Queremos aguçar neles o controle do corpo, autonomia de movimentos e o mar tem movimento dinâmico e as pessoas acham o seu eixo. Há recepção corporal e maior sensibilidade?, afirmou o terapeuta ocupacional da PUC.

 

?Além disso, a receptividade aqui na Escolinha é sensacional e facilita muito a relação social. Há respeito, valorização. Eles superam mil barreiras. A sociedade é multifacetada e todos têm de ser respeitados?, acrescentou Roberto, que trouxe 82 pessoas, sendo 52 pacientes, além de algumas mães.

 

Com 49 anos de idade, 37 de surf, Cisco foi um dos mais animados nas visitas, mostrando na face o sentimento de satisfação com a alegria das crianças.

 

?O surf ajuda muito. Essa integração com o mar é ótima. Traz equilíbrio na vida. Ficamos felizes em saber que estamos ajudando, porque um dos objetivos aqui é justamente a área social?, contou o coordenador da escolinha, que foi para o mar junto com os seus professores e alunos, colaborando com os pacientes de Campinas.

 

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Para alunos especiais, sempre um atendimento especial. Foto: Herbert Passos.
Junto com a atividade social, a Escolinha Radical comemorou mais uma conquista. Numa parceria entre a Semes e a Sthill, patrocinadora da escolinha desde a sua criação em junho de 1992, foram entregues 20 novas pranchas de surf ?softboard?, ideais para iniciantes.

 

?Acreditamos que o trabalho só vai crescer. A Sthill nos apóia desde o começo, sempre esteve presente e agora essa nova administração da Semes está mostrando muita disposição, identidade?, vibrou Cisco, referindo-se ao novo secretário de esportes, Lidney Castro, presente à solenidade de entrega.

 

O diretor da Sthill, Mário Alípio, comentou sobre o trabalho social feito na escolinha há mais de uma década, com a filosofia de ajudar a formação de jovens, independente do nível social.

 

?A proposta da Sthill é sempre estar colaborando com a sociedade, tirar as crianças das ruas e dar oportunidades através do esporte?, comentou Mário. ?E essa aula com os portadores de deficiência vem totalmente de encontro com nossos objetivos. É uma inclusão social tremenda?, disse o diretor da Sthill, lembrando que a escolinha santista mantém vários alunos deficientes.

 

Um dos grandes exemplos é o deficiente visual, Valdemir Pereira Correa, de 35 anos. Na escolinha desde 97, ele já surfa e ressalta os benefícios das aulas. ?Me ajuda muito. Pela integração, auto-estima e muda o conceito das pessoas. O Jatobá na novela tenta mostrar isso e eu aqui, faço de verdade. Quebro tabus?, frisou Val, como é conhecido, que surfa, ao escutar as ondas chegando.

 

O secretário municipal de Esportes, Lidney Castro, também participou do evento. ?Nossa cidade é muito receptiva e o surf faz parte do cotidiano. É um dos esportes mais praticados e o prefeito João Paulo Tavares Papa quer que incentivemos essa integração social cada vez mais?, argumentou o secretário.

 

Em 13 anos de atividades, cerca de 20 mil pessoas já tiveram aulas de surf na Escolinha Radical Semes / Sthill, que está instalada no Posto 2, na Praia do José Menino, entre os canais 1 e 2. Atualmente, são 180 alunos fixos, além dos participantes das escolas municipais.

 

?Em 2004, passaram pelas aulas 1.100 alunos e este ano a estimativa é de ultrapassar essa marca. Temos alunos de todas as faixas etárias. As aulas são grátis e abertas a todos os interessados?, lembrou Cisco. Vários destaques já passaram pelas aulas iniciais, como Giovanni Ferrante e Andrew Serrano, que hoje disputam os circuitos brasileiro e mundial.

 

Outro bom exemplo é dona Fusae Nishida Uramoto, de 75 anos de idade. Na escolinha há quatro anos, ela mostra radicalidade e já enfrenta ondas no pranchão. ?Um dia estava andando na areia e vi uma senhora de bodyboard e experimentei e aí fiquei louca. Hoje já estou surfando um pouquinho?, contou dona Fusae, que mora no Brasil desde 1933 e ainda mantém um sotaque arrastado do idioma oriental.

 

No mercado há 17 anos, a Sthill conta sete lojas próprias e 12 franqueadas, sendo sete em Portugal, além de desenvolver uma linha completa de surfwear, desde camisetas até tênis, mochilas, com exportações para Portugal e Japão. Aliás, foi com mochilas que a Sthill teve início.

 

?Comecei fazendo mochilas e anoracks (casacos emborrachados), na época uma grande mania entre o público jovem. Minha produção era em casa e vendia de mão em mão?, recordou Alípio Azevedo, que teve sua primeira loja em São Vicente, inicialmente com o nome de Caribe.

 

?Temos orgulho de crescer da Cidade para o Brasil e o Mundo?, comemorou o empresário, destacando que as perspectivas para o futuro são de crescimento da marca.

 

?O objetivo é aumentar a rede, como uma marca nascida em santos, ou melhor, lançar a marca Sthill para todo o Brasil?, ressaltou.

 

Além da escolinha, outra ação importante é o patrocínio ao Circuito A Tribuna de Surf Colegial, o mais importante campeonato do gênero do Brasil, que tem como proposta incentivar os estudos entre os surfistas da nova geração.

 

Com 10 anos de história, o evento revelou, entre outros nomes, o fenômeno Adriano de Souza, o Mineirinho. ?Buscamos sempre unir o esporte à área social, visando o bem-estar da comunidade?, completou Alípio.

 

 

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