Gabriel Medina

Campanha brilhante

Gabriel Medina, Billabong Pro Tahiti 2014, Teahupoo.

Gabriel Medina tem apenas 20 anos e já possui vários recordes na elite mundial. É o brasileiro com mais tempo na liderança do ranking e o detentor do maior número de vitórias no Tour (cinco), contra quatro de Adriano de Souza e Fabio Gouveia.

Medina também possui o maior número de triunfos numa mesma temporada entre os brazucas. Com o título histórico no Billabong Pro Tahiti, ele já soma três títulos em 2014 e disparou isolado na liderança do Tour.

O ano de 2014 começou de forma impecável para o atleta de Maresias, São Sebastião (SP). Medina deu um show nas direitas de Snapper Rocks e tornou-se o primeiro brasileiro a vencer uma etapa masculina na Gold Coast australiana.

Em seguida, foi quinto colocado em Margaret River, nono em Bells Beach e amargou um 13lugar no Rio de Janeiro, perdendo para o sul-africano Travis Logie nos últimos segundos da bateria.

Depois do Rio, Medina perdeu a liderança do ranking para Kelly Slater, mas a volta por cima veio em Fiji, onde o atleta novamente colocou o Brasil no topo do pódio pela primeira vez na etapa.

Na sexta prova, o garoto prodígio debutou em Jeffreys Bay com um respeitável quinto lugar. Para disparar ainda mais na liderança, Medina abusou dos tubos em Teahupoo e conquistou uma vitória épica depois de derrotar Slater na finalíssima em condições extremas.

Foi a décima vez que eles se enfrentaram em baterias na história do WCT. Com o show na última segunda-feira, Medina conseguiu igualar o placar em cinco a cinco, mas o brasileiro leva vantagem em batalhas homem-a-homem (3 a 1).

Medina possui uma incrível média de 15.02 pontos em baterias na temporada e venceu 27 duelos na elite em 2014. Ao todo, o brasileiro já embolsou US$ 1.131.600 em premiações na ASP.

 

Perspectivas dos especialistas

Renato Hickel (Tour Manager da ASP): “Ainda é cedo no ano. Medina tem que continuar fazendo exatamente o que fez até aqui: focar somente em cada etapa, dosar o gás nas baterias (Kelly Slater atingiu o épice na semi contra John John), ou seja, competir de maneira inteligente. Título mundial não se ganha somente com talento. Tem que ter equipamento ajustado, preparação física e principalmente mental. Ser constante (sem resultados ruins nos nove que contam). É o segredo do jogo. Kelly ganhou três etapas no ano passado e Mick foi campeão. No ano anterior foi o mesmo no título do Joel. Ele sabe disso e está longe de estar morto, assim como Mick e Joel. Que venha Trestles, e que venha outra vitoria de Gabriel!.”

Fabio Gouveia (ex-Top do WCT e colunista do Waves): “Antes de o ano começar, estava apostando minhas fichas no Mineiro devido a todo o seu foco e experiência. Mas não que deixasse de apostar também em Gabriel, pois em minha mente tinha seu período de aprendizado, mesmo em cima de sua ‘precocidade’. Mas só agora me toquei de que ele já está em seu quarto ano no Tour, é isso? O bicho veio para arrombar portas, quebrar tabus. Depois do início do ano, e em especial antes desse evento começar, comentei com alguns amigos sobre sua escalada e relatei que se ele vencesse esse evento, a turma não mais iria segurá-lo. Medina já vem surfando muito bem em ondas de responsa, como em seu primeiro quinto lugar em Pipe. Nos próximos, acredito que irá manter sua consistência, pois além de todas as peripécias, sua estrela está brilhando, tudo conspirando para um futuro campeão.”

Tulio Brandão (colunista do Waves): “Medina dobrou os críticos mais inflexíveis. Entortou-os na bancada mais violenta do mundo. Venceu o rei em king’s land, no mais épico dos eventos. Já tem lugar na história. Mas ainda há 40 mil pontos em jogo, não tem nada decidido. Não preciso dizer, até porque ele é um dos melhores competidores que já vi em cena, não importa o esporte, mas esta é a hora de redobrar a atenção, de concentração máxima, sobretudo pelo fato de termos, adiante, etapas em que ele aparece na short list de favoritos. Confirmar o favoritismo nem sempre é mais fácil que surpreender o mundo. Dito isso, dá para bancar: Medina trilha um caminho seguro, inédito, para conquistar o primeiro título mundial do Brasil.”

Edinho Leite (jornalista da ESPN Brasil e colaborador da FLUIR): “Sua tática, técnica, além da retrospectiva, lhe garantem vantagem nas próximas etapas. Em Pipeline, ora bolas, vejam o que ele fez em Teahupoo. Além dessas probabilidades mensuráveis, há outro ponto a incluir. A estrela de campeão que brilha sobre ele nesse momento especial. Suas vitórias, conquistadas com talento, inteligência competitiva e foco, vieram também da conspiração universal a que ele atrelou seu objetivo. Acho improvável que Gabriel Medina perca o tão sonhado título mundial esse ano. Se um acaso desastroso vier a ocorrer, todos lembrarão deste ano como sendo dele. Kelly Slater que o diga depois desse Tahiti.”

Renan Rocha (ex-Top do WCT e narrador da ESPN Brasil): “”Minhas perspectivas são as melhores possíveis, porque ele venceu as etapas nas ondas em que ele não tinha experiência e seria mais cobrado pela mídia e pelos atletas. Ou seja, a partir de agora ele é franco favorito, porque mesmo não vencendo, com certeza, vai tirar resultado expressivo para o título mundial. O único que pode roubar a cena é o Kelly, mas ainda não tem vitória este ano e o Medina já tem três. Sensacional, parabéns a toda a família Medina e aos patrocinadores. Viva!.”

Perfil de Gabriel Medina

Em dezembro de 2011, logo depois da vitória de Gabriel Medina no Rip Curl Search em San Francisco (EUA), a FLUIR publicou um perfil do talentoso surfista, então com 17 anos. O texto foi bastante elogiado por Medina nas redes sociais. “Melhor matéria que já tive até hoje”, postou o Top naquela época. Confira abaixo a íntegra da reportagem e relembre a trajetória do fenômeno.

INSTINTO MATADOR*

(por Ader Oliveira)

Sabe aquele garoto da escola que joga giz ou papel nos amigos na sala de aula e fica sério, fingindo que não foi ele? Que adora brincar e, mesmo quando leva um cascudo, não para de zoar e até chora, mas desafia e diz que não doeu? Intenso, irreverente, brincalhão e incansável. O impressionante talento de Gabriel Medina sobre a prancha também é reflexo da sua personalidade. Nascido em São Paulo e criado na praia de Maresias, São Sebastião, o garoto de 17 anos, magro, alto e até meio desengonçado, vem chocando o mundo com atuações fantásticas nas competições e no free surf.

Gabriel é o mais jovem surfista a vencer uma etapa do Circuito Mundial. Mal entrou no Tour e já venceu duas das quatro provas que disputou (até o fechamento desta edição), com direito a duas vitórias expressivas contra Kelly Slater. Isso não é tudo. Além dos troféus, ele caiu nas graças da mídia, dos juízes e de surfistas do mundo inteiro, fato praticamente inédito para um competidor brasileiro. Verdade seja dita. Jamais um Top brasileiro foi tão exaltado pelos estrangeiros.

Medina começou a aparecer para o mundo em uma etapa de nível 6 estrelas do Circuito Mundial disputada na praia Mole, Florianópolis (SC). No dia 12 de julho de 2009, com apenas 15 anos, ele tornou-se o mais jovem surfista a vencer uma etapa do WQS depois de derrotar o experiente Neco Padaratz na final. Desde então, o garoto não parou de aprontar. Dois meses depois, chamou a atenção dos Tops do World Tour com uma fantástica apresentação no King of the Groms, competição disputada paralelamente à etapa do WT em Hossegor, França. Foram duas notas 10 na final contra o conterrâneo Caio Ibelli, dando-se ao luxo de descartar 9.70, 7.67, 7.50 e 7.00. Em novembro do mesmo ano, tornou-se campeão pan-americano na categoria Júnior ao vencer a competição em Olivença, Bahia. Em janeiro de 2010, viajou até a Nova Zelândia para protagonizar um verdadeiro espetáculo no Mundial Sub-18, em Piha. Na final, ele somou notas 10 e 9.90, descartando 9.46, 8.50, 8.20 e 7.40.

Rumo à elite Depois de ficar em terceiro no Mundial Pro Junior, em Narrabeen, Austrália, Gabriel passou a trabalhar forte com o objetivo de chegar à elite mundial. O primeiro ano na divisão de acesso serviu para ganhar experiência. Gabriel teve como melhores resultados o vice-campeonato no Costão do Santinho (SC) e o terceiro lugar nas etapas da praia Mole (SC) e Zarautz, Espanha. Em 2011, ele iniciou uma forte arrancada rumo ao World Tour com uma bela vitória no Prime em Imbituba (SC). Dali em diante, foi só alegria. Ficou em segundo no Prime em Ericeira, Portugal, levou a categoria Pro Junior e também a etapa 6 estrelas em Lacanau, França, antes de fechar com chave de ouro sua classificação ao WT com o título do 6 estrelas em Zarautz, Espanha.

A estreia de Gabriel Medina como Top 32 do World Tour em Trestles, Califórnia (EUA), gerou uma grande expectativa. Apesar de ter ido mal na primeira fase, na bateria dominada por Adriano de Souza, ele recuperou-se com tranquila vitória sobre Travis Logie na repescagem. Em seguida, na terceira fase, errou alguns aéreos e viu o australiano Josh Kerr conseguir uma virada na última onda, bastante contestada pela torcida.

Se alguém ainda tinha dúvida de que Medina era aquilo tudo que a mídia tanto exaltava, ela acabou logo em seguida, na França. Dois anos depois da épica vitória no King of the Groms, Medina estava de volta a Hossegor, desta vez para uma prova de fogo. O garoto não se intimidou com a pressão e deu uma dura nos marmanjos. Na quarta fase, teve seu primeiro encontro com Kelly Slater, um sonho que tinha desde criança. “Eu sempre quis derrotá-lo. Cresci vendo Kelly vencer todo mundo, então sempre sonhei em um dia enfrentá-lo”, revela Gabriel. A primeira batalha foi marcada por uma grande polêmica e gerou o início de uma rivalidade entre o maior surfista de todos os tempos e a nova sensação mundial. Para muitos, Slater foi valorizado demais pelos juízes e não merecia avançar direto às quartas-de-final. Mas, o troco estava guardado. Medina nem precisou entrar na água na repescagem, já que seu adversário, o francês Jeremy Flores, havia sofrido uma forte contusão no tornozelo.

Trocos e tiques Na revanche, Medina deixou Slater desnorteado e dominou o duelo com notas 7.33 e 9.33, descartando 6.83 e 6.27, notas superiores aos 3.33 e 5.27 obtidos pelo melhor surfista de todos os tempos. “O mar tinha mais direita naquele dia. Quando veio a primeira onda, ele tentou me passar e remamos com muita força. Ele ainda tentou me dar a volta e não conseguiu. Comecei bem e ele ficou perdido, caiu nas ondas que pegou”, lembra Gabriel. O garoto de São Sebastião conta que Slater não tentou intimidá-lo, mas agia de forma estranha no outside enquanto estava perdendo, uma espécie de tique nervoso. “Ele ficava fazendo uns gestos com os braços, nem sei explicar como eram. Nunca tinha visto isso, só sei que era muito estranho, bizarro!”, se diverte Medina, tentando imitar o ídolo e rival.

Na semifinal, foi a vez de outro veterano amargar uma combination. A vítima foi Taylor Knox, derrotado de forma ainda mais avassaladora. Medina extrapolou nos aéreos e acertou uma rabetada espetacular. Em um dos voos, arrancou a primeira nota 10 da competição. Para completar o show, somou 9.57 e descartou 8.17. Em desespero com o incrível show do jovem brasileiro, Taylor até fez uma interferência proposital em Medina, que não deu mole e ainda trocou de base na onda para divertir o público.

O bicho pegou na final contra Julian Wilson. Medina tinha 7.83 no somatório e arrepiou uma esquerda nos instantes finais, arrancando 9.17 dos juízes. Julian vinha bem com 8.50 e 7.50, mas o dia era mesmo do brasileiro, incontestavelmente o melhor surfista do campeonato. Assim como Slater, Medina também tinha um gostinho de vingança no duelo contra Julian. “Ele havia me derrotado na final do Prime em Ericeira. Agora está 1×1!”, brinca Gabriel. 

Se você mexe com Gabriel Medina, está comprando uma briga que só vai terminar quando ele estiver em vantagem. Ele não é de falar, e sim de agir. Conheço Gabriel há muito tempo, mas só aprendi essa lição no início deste ano, na Austrália. Enquanto ele tirava um cochilo no apartamento alugado por Heitor Alves e Raoni Monteiro, o “QG” da galera brazuca, resolvi fazer uma brincadeira. Como ele geralmente dorme com a boca muito aberta e os olhos revirados, parecendo um “morto”, as imagens ficaram engraçadas. Postei as fotos no Facebook para tirar uma onda com ele, mas me dei mal. Frio e calculista, assim como nas baterias, ele aguardou tranquilamente a primeira oportunidade para devolver a brincadeira. No dia seguinte, lá estava eu tirando meu cochilo, quando ele aproveitou o momento para usar uma banana e fazer umas fotos para me sacanear. Não bastasse isso, na sequencia ele pegou meu Facebook aberto e postou no meu perfil a imagem de um stripper, como se eu tivesse colocado. A partir dali, apelidei-o de “Furacão” e prometi que nunca mais o provocaria.


Provocou, levou
Assim como Kelly Slater e Julian Wilson na França, outros adversários se deram mal contra o garoto na água. Na quarta fase do Prime em Imbituba, Medina, Damien Hobgood e Royden Bryson lutavam para escapar da repescagem. Com 16.17 pontos, Hobgood estava na frente e era ameaçado por Medina, que tinha 16 pontos. O norte-americano passou a marcar o garoto e fez algumas provocações: “Está vendo como é bom marcar? Você não gosta de marcar? Vamos lá!”, falou Damien. Gabriel saiu da água chorando de raiva. Depois de passar pela repescagem, ele reencontrou Damien nas quartas e deu o troco. Logo na primeira onda, aplicou um aéreo rodando muito alto na frente do adversário, arrancando um 10 unânime dos juízes. Não satisfeito, Medina somou ainda 9.73 para devolver com juros e correção monetária a provocação do oponente. Outro vitima de Medina foi o australiano Joel Parkinson. No início do ano, na Gold Coast, ele rabeou uma onda do garoto no free surf e ainda deu uma dura depois de quase chocar-se com Medina em Snapper Rocks. Aquilo ficou guardado na memória de Medina e ele esperou por meses até dar uma lição no aussie. 

No Rip Curl Pro Search em San Francisco, Califórnia (EUA), o cenário foi perfeito para o brasileiro mostrar que não havia esquecido a rabeada. Depois de confirmar a supremacia contra Slater nas quartas e Knox na semi, assim como aconteceu na França, ele mais uma vez encontrou um australiano na final, desta vez Joel Parkinson. A maior quantidade de direitas e a escassez de esquerdas na final em Ocean Beach pareciam favorecer o aussie. Mas Medina nem se abalou. Com fortes pancadas de backside, ele aplicou um duro golpe em Parko e não deu chance alguma ao adversário rabeador.

“Não gosto de onda grande” Apesar das vitórias e de toda badalação da mídia internacional, Medina sabe que tem muito o que aprender. Ainda não está acostumado a surfar com pranchas grandes e considera a etapa de Bell’s Beach, onde competiu como convidado no início do ano, a mais complicada do Tour. “É uma onda muito estranha. Às vezes você dá uma manobra pra dentro e ela corre. Também acontece de você mandar uma pra frente e ela engordar. Tem de estar bem acostumado e com a prancha certa”, avalia Medina.

Ele sentiu muita dificuldade ao enfrentar Owen Wright na repescagem, na vizinha bancada de Winkipop. “Era a minha primeira vez em Winkipop. A direita estava grande e rápida. Havia surfado com uma prancha grande em Bells e me dei mal, então resolvi pegar uma pequena, mas a direção de prova resolveu colocar as baterias em Winkipop. Não me achei no outside e o Owen estava mais acostumado, tinha a prancha certa. Eu me arrasei”, confessa. As ondas pesadas também são obstáculo para o jovem brasileiro. “Eu não gosto de onda grande. Quando estou com uma prancha maior, não consigo manobrar do jeito que quero. Eu até estava conversando com Owen sobre isso e ele falou a mesma coisa, que também não gosta de onda grande e prefere um mar com até 2 metros. Mas, se tiver de cair em um mar pesado, eu vou, principalmente quando é campeonato. Sei que posso pegar um mar gigante e, no WT, todo mundo tem de estar preparado para isso”, garante o prodígio.

A onda de Pipeline, que encerra o Tour, ainda é um desafio para ele. “Nem lembro direito como é a onda. O que lembro é do crowd e que conseguia pegar uma ou duas ondas em duas horas de surf. Este ano acho que vou pegar mais, né? Só eu e outro cara na água… Estou esperando muito por esse momento. Tomara que esteja terral, com altos tubos!” A juventude, as vitórias e a supremacia contra Kelly Slater têm despertado a curiosidade de muitos jornalistas. Mas Gabriel ainda tem dificuldade para lidar com todo esse assédio. No dia seguinte ao título do Rip Curl Pro Search, dezenas de jornalistas o procuravam pela internet. Seu email e sua página no Facebook estavam repletos de mensagens e perguntas. Pouquíssimos tiveram sucesso. “Não é que não goste de responder, mas é chato ficar repetindo as mesmas coisas. Ainda mais depois de um campeonato cansativo, com tantas baterias. No outro dia já tem um monte de email com 50 perguntas e você tem de responder tudo. Ainda não aprendi a lidar com isso”, admite o garoto.

Infância e família Gabriel tinha apenas 8 anos quando seus pais se separaram definitivamente. A relação entre Simone Medina e o ex-marido era marcada por altos e baixos, inclusive estavam separados quando Gabriel nasceu. Seu pai biológico ainda vive em São Sebastião, mas raramente eles se veem. Quem o acompanha e não desgruda do seu pé é Charles Serrano, um paulista que conheceu Simone em Maresias e assumiu o papel de pai. Charlão, como é conhecido, é um companheiro inseparável de Gabriel nos campeonatos. Uma mistura de pai, amigo, irmão, cozinheiro, videomaker, técnico e empresário. “Ele me ajuda muito. Sem falar que cozinha muito bem, é um cardápio humano!”, brinca Medina. “Ele me treina, dá uns toques antes da bateria. Sinto-me bem confortável viajando com ele, parece que estou em casa.” A família sempre teve forte ligação com o surf. Simone é praticante de bodyboarding, enquanto Charles pega onda de pranchinha. Gabriel tem dois irmãos: Felipe, 15, e Sofia, 6, esta última fruto da união de Charles e Simone. Assim que passou a viver com a família Medina, Charles acompanhou os primeiros movimentos do garoto sobre a prancha. “Sabe quando você percebe que a pessoa nasceu com um dom? Assim que ele começou a ficar de pé, notei que ele tinha uma pegada diferente dos outros”, afirma Charles.

Com apenas um ano de prática, Gabriel estreou nas competições disputando o Circuito Sebastianense. Meses depois, foi ao Santinho (SC) disputar o Rip Curl Grom Search e ficou em segundo lugar na categoria Grommet. Na etapa seguinte, em Búzios (RJ), Medina subiu outro degrau e chegou ao topo do pódio, desbancando seus principais rivais na época – Jessé Mendes e Sidney Guimarães. Era uma rápida evolução para uma criança de 11 anos que não tinha patrocínio, mas surfava com uma logomarca da Quiksilver no bico da prancha para divulgar a loja de Charles em Maresias – hoje padronizada pela Rip Curl. O primeiro patrocínio de Gabriel veio dois anos depois, com as marcas Echo e Vans.

Depois ele entrou para a equipe da Volcom, que perdeu o fenômeno em 2009, justamente quando ele começou a ganhar projeção no cenário internacional. “Naquela época, eles até tentaram segurar o Gabriel, mas optamos pela Rip Curl, pela estrutura que tem em termos mundiais. A marca sabia do talento dele e até onde poderia chegar. É a empresa certa para um cara que quer vencer, que não quer ficar acomodado”, diz Charles. Quando Medina causou os primeiros impactos, propostas começaram a chegar ao atleta, mas ele renovou seu contrato até 2016. Desde a sua entrada na Rip Curl, é nítida a atenção que a marca dispensa a Gabriel. Nas etapas do Circuito Mundial, os chefes de equipe Gary Dunne e Ryan Fletcher estão sempre de olho, acompanhando cada passo da nova sensação do World Tour. Nos dois últimos anos, Medina foi convidado pela marca para disputar a tradicional etapa em Bells Beach. Também foi chamado para o Rip Curl Pro 2010 em Portugal, mas não pôde participar devido aos estudos.

Com a campanha “Super Medina”, a Rip Curl trabalha cada vez mais forte a imagem do garoto brasileiro, que completa 18 anos em 22 de dezembro deste ano. Não há como negar que ele precisa evoluir em alguns aspectos, mas não é exagero afirmar que tem enorme potencial para trazer o inédito e sonhado título mundial ao Brasil. Medina já provou que, para ele, o céu é o limite.

*Texto publicado pela FLUIR em dezembro de 2011.

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