Espêice Fia

Estilo

Tom Curren, Reef Hawaiian Pro 2010, Haleiwa, North Shore de Oahu, Hawaii

 

 

Tom Curren durante o Reef Hawaiian Pro 2010 em Haleiwa, Hawaii. Bicampeão mundial é o rei do estilo, influência direta na formação do colunista. Foto: © ASP / Kirstin.

“Pô bicho, o cara que não tem estilo é um merda!”. Pegou pesado? Essa famosa frase, que há tempos surgiu no meio do surf brasileiro através de um polêmico e renomado fotógrafo carioca, sempre circula em algumas rodas de conversas, ora por ser verdadeira, dependendo da situação, ora por não ser.

 

Ou seja, não existem regras, cada um fala oque quer e analisa do jeito que quer. E a frase sempre traz risadas por nos lembrar a figura do fotógrafo, como também discurssões.

 

Vim de uma época em que se cultuava muito o estilo, em parte por causa de caras como Tom Curren & Occy, pois eram o “must”. Um, a beira da perfeição do clássico e o outro, inovador e futurístico para a época.

 

No Brasil havia muitos surfistas estilosos e vem em mente aqui a classe de Picuruta Salazar, arrojo do Tinguinha Lima e a excentricidade de Dadá Figueiredo. Claro que eram muitas formas diferentes de surfar, tanto na gringa quanto em nosso país.

 

E cada surfista tinha uma combinação, um encaixe de corpo apropriado ao seu biotipo, molejo, características em geral. Nessa época eu ainda era amador e dentre meus adverssários Joca Junior surfava rápido, levando uma linha nordestina.

 

O garoto de “niquite”, Ricardo Tatuí, tambem surfava ligeiro, mas o cabo-friense  Victor Ribas tinha a linha mais bela, principalmemte em seu backside. Eram manobras redondas, sempre com pisada mais na rabeta. No miolo, dois caras que eu admirava eram Daniel Miranda e Rogério Alemão.

 

Talvez por terem vindo da escola Picuruta, surfavam com linhas clássicas, principalmente o Alemão. Em meio a isso tudo, Teco Padaratz, recém-chegado de temporada na Califórnia, surfava como estrangeiro. Muito bonito de ver.

 

As linhas iam fazendo escola, Tom Currem foi e é o mais lembrado deles. Esse sempre foi minha maior fonte de inspiração, embora tenha admirado e ter trazido para meu surfe, características de caras com estilos totalmente diferentes.

 

E a era Slater veio pra bagunçar tudo. Surgia ali uma mistura de Tom com Martin Potter. Esse arrojado, veloz e inovador, conseguiu seu primeiro título quando a turma passou a valorizar manobras de impacto no ano de 89.

 

Melhor dizendo, nego abraçou o futuro jogando pra cima a nota da primeira manobra executada. Pottz era o show-man e Slater, melhor do que ninguém, abordou este quesito. A forma de surfar era natural, mas o moleque na época entrou extrapolando. Toda bateria era arraso em no mínimo duas ondas.

 

Assim o surf ia mudando para outro patamar, julgamento ia encabeçando a era Slater. Pranchas finas e estreitas fizeram muitas vítimas da famosa sindrome “pranchófobia”. Nego mais pesado e com outra linha de surf, queria tal equipamento e não dava, aquilo só funcionava com o floridiano.

 

A linha de Kelly era impecável, clássico aceleradasso. No meio disso, destoava com o surf do tahitiano Vetea David, este um touro e que surfava com os famosos “caiaques”, modelo de prancha que ele mesmo fizera questão de batizar.

 

Pesado, Poto como era conhecido entre os íntimos, buscava em sua prancha a soltura que necessitava para andar principalmente nas marolas. Largas e bem grossas, os caiaques davam boa sustentação e, aliado ao seu jogo de corpo, o bicho fluia inacreditavelmente.

 

O estilo não era bonito, mas o conjunto da obra se encaixava. Exemplo disso foi o brasileiro Sérgio Noronha, que com uma base bastante aberta para a época, mas com muita gás e determinação, teve a melhor colocação até então de um surfista amador em evento internacional no Brasil: quinto lugar no Hang Loose Pro Contest International em 86.

 

Já em tempos de WCT, Peterson Rosa foi um exemplo de, entre áspas, estilo feio. Mas isso não quer dizer que o cara era desalinhado. Muito pelo contrário. Seu estilo encaixava com sua personalidade, que não à toa veio acoplada com o apelido de Bronco. Pau pra toda obra em qualquer mar, seus floaters animalescos venceram muitas disputas e foi um dos caras mais respeitados por todos.

 

Na mudança dos critérios de julgamento, duas melhores notas apenas somadas em cada bateria, surf acima da crista da onda sendo o carro-chefe das notas na faixa do exelente. Muitas baterias com resultados duvidosos, pois transformações muitas vezes vêm carregadas de incertezas.

 

Sabendo disso e com armas aerialistas nas mangas, alguns passaram a focar em uma única manobra. Passado o período de transformação, a análise chegou. Os que desperdiçavam bons momentos para um único vôo, foram perdendo espaço.

 

Kirk Klintoff, pra mim foi um exemplo disso. O cara voava muito. Só o via voando e realmente acabou voando pra fora do tour. E na era aerialista, alinhar postura clássica ficou quase impossível. Como executar um aéreo com giro 360 graus completos com joelhinhos juntinhos?

 

Kelly mudou seu estilo. É so ver imagens de Black and White por exemplo. Mesmo sendo aquele aéreo em Bells Beach último muito bem executado e com estilo, muitos outros saem estranho. O grau de dificuldade é altíssimo, a base abre um compasso enorme.

 

É só analisar a maioria dos aéreos do Medina que, diga-se de passagem, nunca vi nego completar tantos. A margem de acerto é elevada. Não acompanho direto, mas tenho a impressão que poucos caras como o Josh Kerr e o Thiago Camarão, por exemplo, acertam tantos quanto Medina. Hoje não dá pra ficar só nos aéreos.

 

Nego que vem fazendo só isso como arma já está se prejudicando. Variação geral é o carro-chefe, sempre com grau de dificuldade elevado. Tem nego mestre nisso, e os mestres estão nas cabeças.

 

Estilo? Estilo agora é compasso aberto pra continuar a corrida por manobras nunca vistas, ou seja, é o custo-beneficio. Sendo assim, é o que que dita o surf atualmente, tendo ou não estilo, todos são magníficos. Porém, alguns excêntricos. 

 

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