Ele pega onda e tira onda. Humilde e brincalhão mesmo sob um telhado de 10 pés, seja em Pipeline ou Teahupoo, o bodyboarder Paulo Barcellos, 30 anos, é considerado um dos brasileiros com maior quilometragem nos tubos ao redor do mundo.
Campeão mundial em 2000, ?Saquinho?, como Barcellos é chamado pelos amigos, revela que o segredo de seu sucesso é passar o maior tempo possível no ?habitat? dos grandes tubos e lugares que oferecem ondas de qualidade.
Segundo ele, isso explica o excelente desempenho dos bodyboarders brazucas no circuito mundial, ao contrário do que acontece com nossos representantes no circuito mundial de surf.
Barcellos desce a ladeira na sua onda favorita, Pipeline, Hawaii. Foto: Luis Claudio Duda. |
Acostumado a ouvir piadas sobre o esporte que pratica, ele aproveita a deixa para soltar mais uma alfinetada contra a surfistada.
?Nosso esporte ajuda a esculpir o corpo de algumas das mais bonitas mulheres do mundo, enquanto as mulheres surfistas ficam com os ombros largos?, brinca o carioca.
Entre brincadeiras e análises importantes, ele bateu um papo com o big rider Sylvio Mancusi durante recente viagem para o Chile, onde acumulou mais algumas milhas dentro dos pesados tubos da região.
Além de competir, você também é um verdadeiro free-surfer em busca das melhores ondas. Como é sua rotina?
Além de disputar o circuito mundial, desde 89 eu me dedico a viajar para os quatro cantos do mundo atrás das ondas. Viajar é a melhor coisa do mundo. Depois que terminei a faculdade fico pouco no Brasil. Antes tinha que voltar para estudar, agora não tenho mais esse compromisso.
Quais picos você freqüenta anualmente?
Hawaii, Tahiti, Chile, Europa, Ilhas Canárias e Indonésia. Faço esse roteiro há muitos anos. Hoje tenho o patrocínio da American Airlanes, mas já viajo muito há uns oito anos.
Nas etapas do mundial rolam ondas tão boas como no WCT do surf?
Sou amarradão em competir, mas faço quatro a cinco viagens por ano para free-surf e fico cerca de sete meses fora de casa. Nas viagens você melhora seu surf. Nos campeonatos não há essa evolução, então é preciso mesclar. Nosso país é famoso pelas ondas pequenas, infelizmente. Se não viajamos não evoluímos para encarar os gringos nas baterias em ondas de verdade. Eles já nasceram em picos de ondas boas e continuam viajando para aprimorar, já o brasileiro nasce na marola e não viaja, mas agora isso está mudando um pouco. Pelo menos no bodyboard o Guilherme Tâmega já fez a mala em Pipe e Teahupoo com essas proporções e se tornou campeão mundial.
Onde são disputadas as etapas do circuito mundial de bodyboard?
O Guilherme ganhou duas vezes em fundos de pedra. O bacana é que em nossos
eventos temos janela de 14 dias para esperar pelas melhores condições. Fica mais fácil pegar os dias bombásticos em Teahupoo, Pipe, Filipinas e Indonésia, locais das
etapas.
Como você explica essa superação do bodyboard brasileiro em ondas de peso?
O circuito mundial de bodyboard tem um intervalo que nos possibilita ficar de quatro a
cinco meses no Hawaii treinando. O que falta na galera do surf é que quando acaba o Pipe Master todo mundo quer voltar para o Brasil. É difícil julgar, mas se eles tivessem o surf em primeiro plano, teriam que levar o Brasil para o Hawaii – namorada, família, etc. Os que não surfam bem no Hawaii nunca serão campeões.
Como você avalia e lida com o localismo?
Eu nunca tive problema em lugar nenhum. Eu sempre viajo sozinho, e desse modo
você é bem recebido. E eu também sei quem é quem.
O povo brasileiro é muito hospitaleiro com estrangeiros, mas nem sempre a recíproca é verdadeira.
O Mike Stewart, por exemplo, nunca deu moleza para brasileiro no Hawaii. Lá ele é super marrento, mas quando ele vai ao Brasil todo mundo fica babando ovo. Ele nunca
tratou o Guilherme como ele trata os australianos.
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Qual a vantagem de surfar de bodyboard na sua opinião?
O bodyboard foi feito para onda buraco. Eu nem gosto de ver bodyboard em onda gorda. Temos mais facilidade de ficar fundo no tubo, mas tem uma galera do surf que extrapola os limites. Certas ondas realmente ficamos mais fundo justamente por não termos que ficar de pé.
Como se sentiu sendo considerado por muitos o melhor bodyboarder brasileiro em Pipe
este ano?
Foi uma temporada que bombaram muitas ondulações de Oeste, perfeita para a bancada de Pipe. Eu surfo somente em Pipeline, um dia fiquei seis horas na água sem sair.
Nos campeonatos, Barcellos mostra que também sabe atacar a onda e voar alto. Foto: Tomate Peralta. |
Quais são os seus patrocinadores?
Genesis, Redley fins, American Airlanes e Backdoor.
Depois de tantas viagens, onde estão as melhores mulheres?
As brasileiras são as mais cheirosas e bem cuidadas. As gringas infelizmente não se
produzem e não usam um perfuminho.
E sobre as inúmeras piadas com bodyboard?
Bodyboard é ruim em onda ruim, mas a real é a seguinte: podemos ficar mais
fundo nos tubos, as bodyboarders são lindas e competimos juntos nas etapas, assim estamos sempre bem acompanhados. A mulherada que surfa fica com o ombro bem largo (risos).
Você não cansa de ficar deitado?
Não, principalmente agora. Compramos um jet-ski e vamos nos aventurar no tow-in
também.
Qual o foco do tow-in para vocês?
Tubo. Descobrir lajes no Brasil e pegar um Tahiti animal. Ali não dá para entrar na remada acima dos 15 pés. O tow-out (ser lançado pelo jet contra a onda para malabarismos) também é interessante, realizar manobras contra a onda.
Com tantos títulos mundiais, por que o bodyboard perdeu exposição na mídia no Brasil?
Falta investimento em todos os lados da moeda; fotógrafos, mídia, o circuito profissional carioca acabou. Quando estamos no Hawaii as imagens de tubos saem em todas as mídias – Globo, Sportv, etc. Hoje a causa principal dessa queda é falha na administração. O surf está sempre na mídia pelo profissionalismo. Poucos ganham dinheiro com bodyboard. Agora lançaram uma revista especializada, a 720. Já é um novo passo adiante.
Qual sua próxima trip?
Não sei ainda. Tem um campeonato em agosto no Chile, talvez eu vá para o Tahiti ou Indonésia nesse meio tempo.