Passar uma temporada inteira hospedado em um pico com ondas de verdade é o sonho para qualquer surfista. Mesmo sem muito dinheiro, patrocinador ou pai rico, é possível se aventurar em um lugar especial, apenas com coragem e a força de vontade que o surf proporciona.
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Em maio deste ano parti para minha segunda trip internacional. Resolvi que ficaria quatro meses viajando, já que em minha primeira trip havia ficado um pouco frustrado com apenas 15 dias de surf no Peru e voltaria ao meu trabalho poucos dias depois.
Resultado desta primeira experiência: abandonei meu emprego e fui tentar a sorte em Zicatela, Puerto Escondido, praia que sempre esteve em meus pensamentos e desejos mais desafiadores.
Reúni alguns trocados, arrumei pranchas, fiz contatos, tive coragem, otimismo e parti sozinho. Poucos dias antes de viajar ainda vi meu pai curar-se de um câncer. Não tinha como dar errado.
Sabia que a grana não daria nem para a metade dos quatro meses, três deles no México e um no Peru. Abandonei os cálculos da trip depois do décimo quinto dia de viagem.
Para falar a verdade, cheguei a Zicatela com US$ 500 no bolso, além de cinco pranchas, acessórios de surf e uma mala cheia de roupas e outros objetos para troca, o “câmbio”.
Câmbio que rendeu praticamente todas as minhas fotos de ação, mais sete pranchas ao longo da trip, muitos tubos, amizades e histórias para contar. Algumas coisas eu vendia, outras trocava, algumas ajudas mínimas da família ou apoiadores e assim eu fui até o fim. Sempre gastando o mínimo, mas vivendo ao máximo.
Dentro da água pude pela primeira vez na vida ter a noção do que é uma onda de verdade. Zicatela é um lugar especial e eu acredito que premia seus visitantes de bem. Eu jamais havia surfado um tubo de backside na vida, nem imaginava como era, mas lá peguei alguns maneiros.
Jamais havia surfado uma onda de 3 metros, pois lá peguei 4 metros e ainda fui destaque no boletim de Puerto do site norte-americano Surfline em um dos maiores dias do ano. Fui capa e destaque em matérias de sites como o próprio Waves e Ondas do Sul. Peguei o melhor tubo da minha vida em frente ao mestre Rusty Long, uma dádiva.
A vaca da vida foi vista por toda praia, inclusive por Felipe “Gordo” Cesarano, que tive o prazer de conhecer lá! Com certeza superei qualquer expectativa pessoal em relação à minha performance nas ondas mexicanas.
Enfim, peguei as ondas da minha vida, na maioria das vezes com uma prancha partida duas vezes ao meio, tomei muitas vacas, fiz amizades eternas e vivi experiências alucinantes. Quase sempre sem nenhum dinheiro no bolso, mas com muito amor à vida, valores e coragem de viver meus sonhos.
No último mês da trip fui ao Peru. No aeroporto do México, estava apenas com US$ 80 no bolso e quase minhas pranchas ficaram por lá, pois a taxa havia dobrado de US$ 50 para US$ 100. Sem cartão de crédito, estava na roubada. Tentei vender meu último par de tênis e relógio na fila do check-in, mas ninguém quis. Quando não sabia mais o que fazer, uma senhora mexicana se aproximou e perguntou o que estava acontecendo. Resumo, ela pagou os US$ 100 e não quis meus únicos US$ 80.
Cheguei ao Peru, peguei altas ondas, vi o Carlos Burle vencer o mundial de Pico Alto de camarote, fiz grandes amigos e ainda venci um campeonato amador em Punta Rocas no penúltimo dia de trip. Deixei minha premiação e últimas pranchas para pagar a pousada e voltei pra casa rico!
Como se não bastasse, no México, comecei a reunir uma imagem perdida aqui, outra ali e preparei um vídeo. Coisa que eu nem sonhava em produzir. Espero que gostem.
Para o ano que vem pretendo fechar um patrocínio e conhecer a Indonésia, voltar ao México e conhecer o Hawaii. Se não fechar patrocínio, que estou atrás, farei ao menos a metade deste plano. Pesado, mas vou tentar. Mas desta vez viajo com um videomaker junto e irei lançar meu filme em 2014. Sem falar no livro que estou escrevendo e um dia será publicado. Alguém dúvida?