Falta de visão do mercado embaça carreira de Tita

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Tita Tavares foi campeã do WQS e do SuperSurf em 99. Foto: Ellis/ASP.
A atleta cearense Tita Tavares, 27, vive há mais de um ano o drama de estar sem um patrocinador principal. Seu “inferno astral” começou quando foi dispensada de seu antigo patrocinador no início de 2002.

 

“É fogo porque penso que o Circuito Mundial já está rolando e não pude participar. Para não ficar muito mal, procuro esquecer e ir para água surfar”, conta ela.

 

Segundo Tita, que não conseguiu se manter na elite do surf mundial no ano passado, ainda há esperanças de que ela possa disputar o WCT 2003: “A ASP me convidou para disputar o Tour, pois a Neridah Falconer pensa em parar. Agora, só falta isso ser formalizado”, explica a surfista.

 

O fotógrafo Levy Paiva e a atleta no Hawaii. Foto: Levy Paiva.
“Agora, mais do que nunca, preciso de um patrocínio para não perder mais essa oportunidade”, diz a atleta, terceira colocada no WCT e campeã do WQS em 99, campeã do SuperSurf no mesmo ano e vencedora do Mundial ISA Games em 2000.

 

Quando Tita perdeu o patrocínio recebia um salário mensal de R$ 5 mil e passou por um tremendo sufoco sem o dinheiro. “Precisava desse dinheiro, chorei muito quando perdi o patrocínio, pois os melhores momentos da minha carreira passei contratada pela Maresia. Foi uma fase muito difícil, chegaram a cortar até a luz e o telefone da minha casa. Eu não tinha grana nem para viajar no Brasil e correr o SuperSurf, por exemplo. Relmente foi

O surfe da baixinha não deixa nada a desejar para muito marmanjo. Foto: Ricardo Macario.
um sufoco!”.

 

Desde que foi dispensada, quando a marca optou por investir nas categorias de base,  eventos e atletas amadores, após voltar da temporada havaiana em 2001, a atleta batalha há mais de um ano um contrato com as surfwears brasileiras e não entende porquê ninguém tem interesse em investir nela. “Não sei se é porque moro no Ceará e estou longe de São Paulo e Rio de Janeiro. Ou se é porque não sou loira de olhos azuis”, questiona.

 

“Acho que as empresas não deveriam pensar somente nas minhas características físicas, e sim no que procuro mostrar dentro d’água”.

 

De acordo com ela, a surfista sempre procurou ter uma postura correta para representar seus patrocinadores. “Quando viajava, estava sempre ligando para dizer o que estava acontecendo, contar os resultados”, explica.

Tita durante entrevista ao programa SuperSurf. Foto: Ricardo Macario.

Tita chegou a ser acusada de vacilar numa etapa do WCT, realizada na França em que perdeu por WO.

 

“Foi um fato isolado na minha carreira. A ASP me passou um cronograma, mas no dia entrou outro em vigor e eu nem fui avisada. Inicialmente, minha bateria estava marcada para às 8 horas, mas acabou rolando às 6:40 horas. Como eu não tinha grana para alugar um carro, fiquei na dependência de uma carona e não consegui chegar a tempo”, explica.

 

O fato serviu para que Tita não acreditasse mais em cronogramas e agora costuma chegar na praia antes do evento começar. “Vou para a praia bem cedinho e não acredito mais em ninguém. Naquele campeonato estava na semi-final contra Layne Beachley e o campeonato era

A atleta pretende disputar o WCT ainda este ano. Foto: Pierre Tostee/ASP World Tour.
do patrocinador dela. Lógico que eles não fizeram muita questão de me avisar”.

 

Para ela, suas principais adversárias no Tour são Layne Beachley, Rochelle Ballard e sua companheira de viagens, Jacqueline Silva. “Quando tinha condições, viajava direto com a Jacque e o Bira Schauffert. Era bem legal, pois costumavamos nos revezar nos pódios, além de uma fazer companhia para a outra nas viagens”.

 

“As marcas têm que pensar que estão jogando fora um talento, que sempre levou o nome do Brasil e do Ceará com muito orgulho mundo afora. Ter um patrocínio é fundamental para

 

disputar o Tour de igual para igual com as atletas gringas, que contam com total apoio e infra-estrutura”, conta ela, que chegou a viajar no ano passado apenas com a grana da passagem.

 

É triste ver um talento como o da Tita desperdiçado por falta de apoio. Foto: Pierre Tostee/ASP World Tour.

A surfista andou sumida, pois precisava de um tempo para colocar a cabeça em ordem e assimilar todos os acontecimentos. “Também precisava reconhecer onde errei. Agora, vou ter que encarar essa responsabilidade e dar a volta por cima”.

 

“Tive que buscar forças no surf para superar esse momento difícil. Com isso, agora estou surfando o dobro e ninguém me segura. Tive que adquirir forças para levantar a cabeça e seguir em frente”, completa ela.

 

Agora é esperar que algum empresário tenha sensibilidade e visão e aproveite este grande talento brasileiro, que no momento está sendo desperdiçado.