Já se foi o tempo da brilhantina, quando todos só queriam agito em locais fechados, dança e música. O mundo depois dos anos 70 caiu na real e, a partir do Festival de Woodstock, criamos a consciência de um mundo “mais perfeito” a perseguir. Esta necessidade, aliada ao crescimento exponencial de alguns destinos turísticos, como a Praia do Rosa, exigem maior organização política e gestão pública mais eficiente, o que infelizmente não acontece em Santa Catarina.
O primeiro revés à exuberante natureza da Praia do Rosa veio ainda no milênio passado, quando “brotaram” no canto norte da praia, da noite para o dia, ruas e calçadas – num lugar até então intocado. Antes ali, uma bucólica pastagem de bovinos era cortada por uma trilha que levava ao pico onde ondas perfeitas quebravam com vento nordeste.
A velocidade do crescimento da praia entrou em choque com a falta de visão dos governantes, que não acompanharam esta evolução. Da praia para o interior, o Rosa cresceu sem qualquer planejamento. As ruas continuaram estreitas e as calçadas e passeios públicos foram esquecidos. Saneamento básico então, nem pensar.
Este crescimento desordenado multiplicou moradias, casas de aluguel, pousadas, bares, restaurantes e casas noturnas, sem a devida fiscalização dos órgãos responsáveis. A criminalidade cresceu, tornou-se cotidiana, e a falta de um policiamento efetivo virou uma grave preocupação para os moradores e turistas.
Logo ao lado, as Dunas da Ribanceira eram, pode-se assim dizer, “saqueadas”, para atender ao mercado da construção civil e obras públicas, como a duplicação da BR-101. Somente em 2014, depois de décadas de luta, o Movimento SOS Dunas da Ribanceira conseguiu barrar a destruição daquele importante patrimônio natural, uma vitória que parece ter marcado o início de uma nova consciência na população local.
A partir daí, moradores e entidades locais se uniram com o objetivo de ajudar o Poder Público na solução dos problemas que afetam a comunidade e colocam em risco seu futuro. Construções irregulares, aterros sem autorização na Lagoa de Ibiraquera e nos banhados no Rosa, bares com som alto e sem condições acústicas e de segurança passaram a cair na “malha fina” dos moradores que exigem respeito, menos agito e mais cuidado com a natureza. O gatilho desta união espontânea aconteceu quando jovens aproveitadores foram expulsos pela comunidade de casas de veraneio que haviam invadido sumariamente, para “curtir” o início do verão.
A construção de uma enorme casa em meio à vegetação nativa, próximo ao costão do Rosa Norte, foi outro motivo de protestos e de união da comunidade, que passou a questionar a utilização dos espaços à beira-mar. O movimento SOS Rosa Norte se uniu ao Conselho Comunitário de Ibiraquera e, juntos, promoveram uma manifestação histórica que agitou a praia e a Câmara de Vereadores, comprovando que a comunidade havia se engajado na busca de soluções para os problemas gerados pelo progresso.
Sob o fantasma da famigerada ICC (Indústria Carboquímica Catarinense), outro exemplo é o movimento “Fora Cattalini”, que mobilizou a comunidade imbitubense, agitou e lotou também a Câmara de Vereadores com a manifestação de mais de 200 pessoas. Também foi promovida uma peladalada contra a instalação de uma empresa de graneis líquidos – combustíveis e produtos químicos – junto ao Porto de Imbituba.
Sua instalação ameaçava repetir de forma ainda pior em toda a orla marítima, desastres ambientais como os que aconteceram em Santos, quando tanques de combustíveis queimaram por nove dias seguidos -, e também em Paranaguá – em que o vazamento de produtos no canal destruiu a vida marinha e condenou a pesca e o meio de trabalho de milhares de pescadores na região.
Os erros e omissões do passado não podem ser apagados, e a ideia não é culpar, mas resolver e adequar. Em nome do futuro, os moradores exigem mais segurança, mais atenção e maior fiscalização por parte do Poder Público, na tentativa de recuperar o tempo perdido e preparar um futuro melhor para todos.