No começo do mês de maio fui convidado e participei do Campeonato Brasileiro Master em Saquarema (RJ).
Inédito pra mim, pois havia me aposentado das competições no final de 2009 e também pela minha idade, 40 anos.
O evento foi muito legal, deu pra rever amigos e lendas do nosso esporte como o cearense Odalto Castro, primeiro brasileiro a figurar na capa de uma revista americana de surf.
Foi demais acompanhar disputas muito acirradas e ver que muita gente ainda está no rip.
O Brasil Master Cup 2010 contou com as categorias Master e Gran Master. A premiação foi de R$ 20 mil para cada uma delas.
Depois de três dias de baterias empolgantes, vimos o desfecho com a vitória de Carlos Kxot, na Grand Master, e Renato Coutinho na Master.
Com o objetivo de saber mais sobre o retorno do evento perante aos organizadores, apoiadores, patrocinadores e, lógico, querendo saber se um novo evento acontecerá em 2011, mandei umas perguntas para Marcelo Andrade, diretor-executivo da Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional).
Marcelo, este tem sido um ano com bastante competições no Brasil, tendo espaço até para o Master de Saquarema. Como e por que decidiram fazer a prova?
A Abrasp tem um número grande de surfistas que atingiram idade master e estão surfando muito bem. São nomes da história do surf brasileiro que estão no gás e tem apelo forte para fazer um evento.
Quando o pessoal de Saquarema procurou o Sérgio Vilar e o Pedro Falcão, ficamos empolgados. A ideia da prefeitura da cidade, por meio da prefeita Franciane Motta e do seu marido, o deputado Paulo Melo, é tornar este evento tradicional, resgatando a história do surf brasileiro e de Saquarema, um dos lugares mais tradicionais do nosso esporte.
Como foi a receptividade da prefeitura de Saquarema com o evento?
A prefeitura já nos procurou para manter o evento em 2011, o que prova que eles gostaram muito. Agora querem resgatar atletas com mais de 50 anos, que foram responsáveis pelo desenvolvimento do esporte. A ideia é trazer um Rico de Souza, um Ricardo Bocão, um Daniel Friedmann, Otávio Pacheco, Rossini Maranhão “Maraca” e muitos outros. Eles querem melhorar o evento.
Este foi o segundo evento a nível brasileiro deste tipo (em agosto de 2008 rolou um em Itamambuca com Joca Junior e David Husadel sendo os campeões Master e Grand Master, respectivamente). Na edição anterior havia mais atletas?
O número de atletas foi quase igual, mas a divulgação foi menor porque fechamos tudo um mês antes do evento. O outro teve três meses de chamada. Analisamos isso e vamos tentar melhorar.
Quais as dificuldades pra se trazer um maior número de participantes, incluindo os ídolos do passado, para um evento destes?
A dificuldade é achar uma data boa para todos. Julho seria melhor porque é um mês de férias, mas temos que nos ajustar ao calendário de outros eventos.
Nessa edição de “Saquá”, o numero foi satisfatório?
O número foi satisfatório e, mais importante, tivemos nomes de peso que justificaram o evento. Tivemos alguns campeões brasileiros e um nível muito alto.
O que mais te impressionou no evento em geral em relação aos participantes das duas categorias?
O que mais impressionou foi o nível técnico dos atletas. Foi tão bom que nossa ideia é tentar realizar um circuito em 2011.
Qual a importância de se fazer um evento destes?
Temos que resgatar a história do surf brasileiro. Um evento destes é a melhor forma de trazer à tona o que cada um foi para a história do nosso esporte.
Como está a posição da Abrasp em relação aos eventos masters, algo pro futuro?
A Abrasp pensa em fazer um circuito com três etapas. Isso é um sonho, mas alguns atletas querem nos ajudar. Vamos tentar com Saquarema, Ubatuba (SP), Imbituba (SC) e uma etapa no Nordeste. Se conseguirmos três será show.
Confira na próxima página o texto postado por Fábio Gouveia em seu blog no site da Hang Loose que relata suas impressões sobre o Brasil Master Cup em Saquarema (RJ) na ocasião do evento, no último mês de maio.
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Rapaz, não é que o tempo passou rápido mesmo! Do alto / baixo (1,61m) dos meus 40 anos, disputei meu primeiro evento Master.
Com tentativas de viagens programadas para Califórnia ou Paraná na semana passada, acabei indo mesmo a Saquarema para disputar o Master Cup 2010.
Quando Guilherme Herdy me ligou botando uma pilha há alguns dias, não tinha certeza se o evento realmente iria se realizar, pois não vi divulgação, porém logo recebi outro telefonema, desta vez do Marcelo Andrade (da Abrasp). “Fia, tu num vem pro Master, não? Vai ser irado! Vem a maior galera!”, disse Marcelo.
Isso era em uma quarta-feira e, no dia seguinte, já estava dentro do avião junto com Guga Arruda e Teco Padaratz. Êita revival da gota! Hehehehehe.
Descemos no Galeão e pegamos uma carona na van que levava tudo quanto é tipo de tralha para o campeonato. Computador, camisetas de competições – até uma motoneta elétrica tinha -, pense! Maior comédia!
Aliás, comédia mesmo era eu e o Teco passando rumo a van com as caixas cheias de camisetas na cabeça em uma das ruas de Bom Sucesso, bairro no Rio de Janeiro, onde foram produzidas.
Duas horas depois já estávamos em Saquá, porém sem fim de tarde. Já estava escurecendo e o mar estava semi-colado. Ao fazermos o check-in na pousada, quem eu vejo? Odalto Castro.
Surfista das “antas”, “almost” cinquentão. Pra quem não sabe ou não se lembra, este expoente do surf nordestino e cearense, foi o primeiro brasileiro a estampar na capa de uma revista americana, com uma foto em Pipeline no começo dos anos 80. Ou foi 70?
Vish, já faz tempo, e nem lembro se foi na Surfing ou Surfer. No momento em que vi o Odalto, pensei, esse encontro master vai ser demais! No dia seguinte, baterias na água às 10 horas da manhã, pois Saquá teve de esperar os dinossauros na maré baixa. Aliás, entraram primeiro os “Babyssauros” da Master, entre 35 e 45 anos. Os “Dinossauros” da Gran Masters entraram mais à tarde.
Quando o evento começou, olho de longe e digo: “peraí, aquele estilo eu conheço muito bem!”. Era o “passo” Piu Pereira quebrando a bordo de uma fish Joca “secozin”. Depois foi a vez de ver Sergio Noronha, Ricardo Tatuí!
Ih rapá, olha o “rato”, tá soltinho na marola! Hehehehehe. Depois já veio o Ricardinho Toledo rabiscando as marolas devidamente trajando sua inseparável sunga. Aliás, Sergio Noronha (aquele que era chamado de Fedelho, lembram?) também usava a sua.
Surfei minha primeira bateria e avancei junto com Carlos Santos, estiloso goofy footer de Imbituba (SC). Quando saio, encontro Jojó de Olivença, (Guilherme) Herdy, Junior Maciel (pra esse o tempo não passa), David Husadel (pra esse também não) e até Marco Aurélio, o Leléu, lá do Rio Grande do Norte. Tive boas disputas com ele em meados dos anos 80 quando participávamos juntos do Peformance Surf Clube, em Natal (RN).
Joca Junior também era desse clube e notamos sua falta no evento. Aliás, tinha a maior galera, mas muitos não vieram. Quissá no próximo ano? Por coincidir com o domingo do Dia das Mães e o fato de muitos não poderem faltar ao trabalho, muita gente de peso não compareceu. Não tinha um surfista de Pernambuco!
Quencas, Radiola, Porrete, Zezito e cia não apareceram. Mas e Burle e Eraldo, moradores do Rio, do lado! Onde estavam eles? Bom, deviam ter seus compromissos. De São Paulo veio o ‘doc from Maresias’, Alfredo Bahia, mas também não vieram os legends Gran Master, como por exemplo Paulo Rabello, Tiguinha.
Só sei que Picuruta estava na Costa Rica, como disse alguém na área dos competidores. Área essa que estava Paulo Zulu, Marcelo Boscoli, Rodolfo Lima, Kronig e tantos outros. Mas faltou Bocão, Rico de Souza, Pedro Cezar, Daniel Friedman, Ferrugem Baltazar, Cauli! Cadê Cauli, rapá?
Enfim, a vontade era ver todo mundo. Voltando para a água, o surf rolava solto. Pedro Muller afiado, Jojó, Teco, Alexandre Moliterno, Salvador Lamas. Aliás, fui barrado nas quartas-de-final pelo Lamas. Levei uma escovada, rapá! Rsrsrsrsrsrs. Salvador é juiz de surf na Abrasp, mas nesse voltou ao lado que ele fazia (e ainda faz muito bem), surfar. Sem dúvida foi um dos destaques na Master. À noite, encontro surpresa com os apoiadores do evento, a prefeita da cidade Franciane e o Deputado Paulo Melo.
Atletas reunidos na aconchegante pousada Maasai, conversas aqui, uma gelada ali e, muitas, muitas fotos para posteridade. Hehehehehehe.
O engraçado é que em um evento destes, fala-se muito de surf, lógico. Mas fala-se muito também em contusões. Hehehehehe. Era um tal de nego mostrar a cicatriz de uma cirurgia de hérnia, de joelho, de câncer de pele. ‘Minino’, olhe, nunca vi tanta reclamação de carcaças! Kkkkkkkk.
No sábado o mar colou, sol da gota com água clara, foi bom pra nego torrar na praia com as famílias e botar os papos em dia. No café da manhã boas histórias contadas por Odalto, Picolé, Pavão e Raul da “Sem Serebro”(serebro com “s” mesmo), todos cearenses. Todo mundo esperava um Saquá clássico, porém quando o swell entrou no domingo, foi uma ventania só, intercalando com alguns momentos de pequenas tréguas.
Mar difícil, mas muito show de surf. Fiquei surpreso com a vitória do capixaba Renato Coutinho. Na real, não lembro de tê-lo visto surfar anteriormente e nem o conhecia. Quer dizer, se eu conhecia não me lembro, sorry. Mas, agora!
Não esqueço mais hehehehe. O cara fez fila e mandou todo mundo pra casa. Léo Trigo também estava andando muito bem, tal como Moliterno e Jojó, que tirou até um 10 na semifinal. Na categoria dinossauro venceu Carlos Caixote. Esse aí tem experiência de sobra e bateu Sergio Pena, que vinha acelerado e eletrizante como também David Husadel e Paulo Coutinho, respectivos terceiro e quarto lugares.
Nego festejou a bastante e a galera da organização está de parabéns por valorizar nossa turma. Valeu Marcelo Andrade, seu “Pêdão” Falcão, Pascoal da motinha baterizada, Gula, Sergio e toda a galera envolvida. Foi muito bom ter participado e esperamos que possamos ter um evento ainda melhor no próximo ano. Melhor no sentido de mais presenças dos antepassados vivos do nosso esporte que tanto amamos e praticamos.
Valeu galera, viva os masters!
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