Espêice Fia

Festa no apê

Fábio Gouveia, Florianópolis (SC)

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Depois de Huntington Beach e o episódio do Fogo no quarto 226, agora o “circo” da ASP encontrava-se na Europa, mais precisamente em Lacanau e Hossegor, França, e posteriormente em Zarautz, País Basco.

As imagens começam em Lacanau, na bateria entre eu e o tahitiano Vetea David. No surf, biotipos de surfistas se ajustam a determinadas condições. Mas também, aqueles que mesmo sem ter o favorecimento pra tal condição, de uma forma ou de outra compensam e fazem seu trabalho.

Um exemplo disso era o peso-pesado Vetea, que buscava no equipamento certo seu deslanche nas marolas. Todos sabiam que o cara era big rider, mas o fato de surfar bem nas marolas chamava atenção. Tudo bem que seu estilo era feioso, mas encaixava-se ao seu biotipo.

Os caiaques do “Poto” (apelido do taitiano) andavam em cima da água e o ajudava juntamente ao seu jogo de corpo. Mesmo pesado, o cara conseguia linkar as manobras na maioria das vezes. Nunca subestimei adversário, mas por ser na marola, aparentemente minhas chances eram boas.

Poto virou a bateria no final com seu caiaque (ele mesmo apelidou), que era oco e bem leve. Não lembro a colocação que finalizei esta prova, pois era a única bateria que tinha filmada em meus arquivos. Mas o grande campeão do evento foi Victor Ribas.

Aliás, o evento foi marcado pela revanche do Vitinho em cima de Todd Holland. Quem assistiu a disputa do Sea Club Final Heat em Maresias (SP) dois anos antes, sabe por que estou falando em revanche. Explico: a marola corria forte naquela etapa. Vitinho era o surfista que mais estava andando naquelas condições e com certeza iria ter um excelente resultado.

Ao cair em uma bateria com mais três gringos nas quartas-de-final, foi severamente marcado por Todd Holland quando este havia feito duas interferências e não tinha mais chances de classificação. Holland simplesmente deixou de surfar e marcou Victor para que o australiano Ross Clark-Jones, que precisava do resultado para permanecer no WCT, passasse a bateria.

Victor perdeu e havia ficado entalado com a situação. A ocasião havia sido cômica, pois de certa forma, inflamada pelo locutor, a turma na praia ensaiou um “travesseiro” no norte-americano. Por sorte, o bode (Todd tinha um barbicha que lembrava o animal) escapou apenas com apenas algumas “bolachas” e chuva de areia.

Voltando à vitória histórica de Vitinho, que não deu chances desta vez ao bode, apenas aparece no vídeo uma sonora. Buscava ali um relato sobre a bateria para arquivos pessoais. Encabulado que era, Vitinho só fez zoar. E zuando também estava o Tijolo, brasileiro fera no surf e na bike e que nos acompanhava em todas as pernas europeias naquela época. O cara simplesmente passeava em pé na bike por onde quer que fosse, para delírio e apreensão de todos que viam a cena.

Naquela etapa de Lacanau estávamos dividindo a casa também com o potiguar Hemerson Marinho (terceiro colocado no Mundial Amador do Japão em 1990). Hemerson não participava do WCT, mas entre o evento WQS da Inglaterra (anterior ao de Lacanau) e o WQS de Zarautz, ficou conosco rachando também o carro, um Peugeot 106 Junior, carinhosamente apelidado de “Juninho”.

Ao partirmos de Lacanau rumo a Hossegor, o combustível parecia ser favorável até nossa chegada. No entanto, no percurso de duas horas até o destino, o ponteiro já estava colando na reserva quando ainda faltava meia hora. Hemerson era o co-piloto e se mostrava apreensivo com minha tática de Fórmula 1, onde com o tanque vazio, o carro leve economizaria mais combustível e chegaríamos ao nosso destino.

A brincadeira era real, mas eu confiava no Piu Pereira que vinha alguns minutos atrás de nós. No entanto, próximo a Hossegor, ele e Teco Padaratz entraram em um atalho. Nesta altura nossa espera já passava de meia hora e nada do Piu. Mas quem acabou passando depois de uma hora foi a barca com Peterson Rosa e seu shaper na  época, Rubens Canfild, além de Neco Padaratz e Guilherme Herdy.

Peguei carona com a turma e fizemos um bate-volta para comprar combustível ao mesmo tempo que rezava para que a polícia rodoviária não passasse e nos visse parados pois a multa seria certa já que na Europa vacilos como esse não são aceitos. No momento em que despejava o diesel no tanque, o visual da turma se mostrava exótico.

Cada um a sua forma com destaque para Neco moicano, Peterson com sua cabeleira de “bruxo” e Guilherme com suas lupas à la “Seixas”. A galera estava descontraída, uma bagunça só e discutindo a tal tática da Fórmula 1. Até que em fração de segundos um caminhoneiro passou e disparou a potente buzina de sua Scânia.

O susto foi engraçado e até hoje rimos da situação. Partindo dali, não gravamos nada no evento de Hossegor e Biarritz, ou então, pelo menos não achei as fitas. Aliás, tem uma pequena cena no apê que alugamos em Hossegor em que o renomado shaper Ricardo Martins dá um grau na louça enquanto a turma zoa e joga conversa fora. Piu Pereira, Renan Rocha, Ricardo Tatuí, Hemerson Marinho, Andrea Lopes e a australiana Neridah Falconer eram os presentes.

Na sequência, outra turma maior ainda reuniu-se em um prédio em Zarautz, País Basco. Alugamos três apês, pois a brasileirada era volumosa, já que esta era etapa do WQS. E brasileiro junto é sempre aquela alegria que inevitavelmente muitas vezes vira bagunça. Venci esse evento, mas a única imagem de bateria que tenho foi da primeira, onde surfei contra os australianos Tony Ray e Mark Banister e o local da Ilha Reunião, Boris Le Texier.

Ao final daquele dia estávamos no corredor entre o apês e a conversa rolava solta. Uns tirando onda da cara dos outros, meu irmão Gustavo e o shaper Josafá Fernandes, ambos radicados em Portugal, imitavam cachorros. No meio da bagunça surgiu a história de que Dunga Neto e Sávio Carneiro estavam marcando as comidas, escondendo chocolates e fomos averiguar. Comédia, “nêgo” zoou muito.

Nos apês estavam Renan, Tatuí, Tony Vaz, Otavio Lima, Armando Daltro, Ricardo Martins e nosso eterno amigo Gustavo Aguiar, falecido em 96. Gugu era só alegria e uma das comédias era que havia criado o grupo “Êtxa”. Mas nada a ver com terrorismo, só mesmo bagunça sadia. Na real o nome do grupo era o Êtxa, de “êtxa porra”!

Cada um que zoasse mais que o outro até que em determinado momento surge um vizinho pedindo encarecidamente para não fazermos barulho, pois haviam crianças pequenas ao lado. Eu, que estava filmando, não tive tempo de me esconder e acabei sendo o único a levar a bronca. Pedimos desculpas e ao adentrarmos o apê, as risadas semi-contidas foram muitas.

Assim, aguardem outros episódios no futuro.

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