Fiji além de Tavarua

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Nas ilhas Fiji a palavra de ordem é curtição, tanto fora como dentro da água. Foto: Silas Hansen / Primophotos.com.

Quando se fala em Fiji, logo vêm à mente de qualquer surfista as linhas perfeitas de Cloudbreak ou Restaurants.

 

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Aquela ilhazinha cheia de coqueiros, cercada pela bancada rasa de água cristalina. Tudo perfeito e paradisíaco. Porém, caro e muitas vezes crowd.

 

Existem vários outros picos alucinantes em Fiji. Alguns estão catalogados nos sites globais dedicados aos surfistas e são fáceis de encontrar. Outros não possuem nem nome e estão escondidos a sete chaves por seus descobridores, normalmente australianos ou americanos.

 

Recepção típica do povo nativo: a hospitalidade é uma das principais características do local. Foto: Arquivo pessoal Alexandre T. Piza.

Um desses picos ficou escondido durante muito tempo nas décadas de 70 e 80. Frigates Passage é uma onda oceânica, no meio do nada, esquina com lugar nenhum. O pedaço de terra mais próximo fica a 45 minutos de barco ? e tem que ser um bem veloz.

 

Passa-se por dois reefs gigantes, excelentes para mergulho e snorkelling, até chegar ao terceiro reef. Na ponta Norte a bancada estende-se uns 200 metros embaixo da água para segurar as ondulações de Sul e Sudeste.

 

São três seções de onda, parecem três ondas diferentes, fáceis de conectar uma seção com a outra. Porém, sobreviver no inside requer uma dose de coragem ou a melhor alternativa é sair por cima.

 

Mas não é impossível de passar todas as seções somente acelerando. Aos poucos arriscar nos canudos vai tornando-se indispensável e uma hora ou outra com certeza você será cuspido com a baforada – ou será esmagado no reef.

 

No outside a profundidade da bancada tem um nível relativamente seguro e dá pra se jogar sem medo de se machucar no reef. O caldo pode ser pesado e, se a corrente estiver jogando para dentro da zona de impacto, é bom estar com o preparo em dia.

 

Não queira dar uma de ?muito macho? e não usar botinhas, elas serão o seu freio na hora da vaca (ou quando a onda fecha) e o risco de ser jogado para alguma parte mais rasa diminui bastante. O pico merece ser comparado a Cloudbreak, realmente a bancada é bem parecida e a onda é bem longa.

 

Surfei dois dias sem ninguém no lineup. Surfei quatro dias somente com mais quatro pacatos italianos e um cara de Nova Iorque que aparecia de vez em quando. Surfei somente um dia com mais de 10 cabeças no pico, e mesmo assim foi bem tranqüilo.

 

Tentei fazer o esquema de “filinha” no reef, onde cada um espera a sua e vai na ordem, mas advinha… Não, não foram os brasileiros que furaram o esquema. Australianos e americanos bem pregos com pranchas bem grandes passavam remando na maior cara de pau e posicionavam-se na maldade.


Até tentei falar com um australiano cabeludo com cara de paisagem que toda hora passava rindo remando, mas ele falou bem assim: ?Broder, aqui não tem nativo na água, não é Bali nem Hawaii, ninguém vai apanhar se fizer isso (…)?.

 

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O autor da matéria satisfeito com a fartura na mesa. Foto: Valéria Stefani.

Dei a colher de chá umas três vezes, mas depois disso meu espírito de ?motoboy na 23 de Maio? veio à tona e fizemos com que eles se arrependessem amargamente em lidar com a brasileirada com mais surf e mais manha de surf em picos crowd.

 

Sei que é até chato falar isso com essa ênfase, mas se eles se acham malandros, a gente é muito mais.

 

Fiquei com cara de bobo diante dos brasileiros que fiz amizade, porque fiquei falando isso com eles antes de cairmos na água, tipo ?vamos respeitar o esquema no reef, brasileiro tem fama de fominha, que não sabe surfar em bancada perfeita e tal?.

 

Fim de tarde paradisíaco em Fiji. Foto: Arquivo pessoal Alexandre T. Piza.

Acabei engolindo minhas palavras e jogamos o livrinho de regras pra cima em nome do surf. Bom, mas isso foi somente um dia de 6 pés, nada que o dia seguinte já não nos fizesse esquecer.

 

Para surfar em Fiji, duas a três pranchas são suficientes, de 6’2 a 7 pés. Cordinhas extras, parafinas, botinhas, repelente, protetor solar potente e perna, muita perna para surfar ondas bem extensas.

 

A ilha mais perto do pico se chama Yanuca e é paradisíaca. Tem dois surf camps pequenos e muito acolhedores. O Batiluva Resort é famoso pelo rango que não acaba mais e por ser sempre o primeiro barco a chegar no pico – esse é a minha dica pessoal.

 

Os donos são havaianos e sabem muito bem o que a galera do surf quer encontrar. Se você está planejando uma surf trip nos próximos meses, com certeza deve incluir esse pico nas possibilidades.

 

Apesar da crise política que instalou-se no país desde o fim de 2006 ? e que culminou com o cancelamento da etapa do WCT, Fiji é um lugar relativamente seguro. Viajei com minha namorada tranqüilamente, peguei ônibus de linha, andei pelas ruas das cidades e tudo mais.

 

Contudo, não vale dar mole em lugar nenhum do mundo, principalmente em lugar pobre. Ostentação e cara de “inimizade” não vão ajudar em nada, pelo contrário.

 

Visitar as outras ilhas sem onda vale muito a pena pelo mergulho e pela beleza da floresta que me fez lembrar da Mata Atlântica do nosso Brasil. A fauna em terra também é intensa, muitos insetos, répteis, aranhas, escorpiões, aves esquisitas estão entre as belezas no pico.

 

Tome cuidado, mas sem exageros. Numa surf trip na selva não existe mobilete passando na porta do seu bangalô com uma pizza sabor de isopor. Ali é peixe, reef, coqueiro, coragem e diversão, muita diversão.

 

Bula!