Torcedor Fanático

Filipe tornado

Filipe Toledo , Quiksilver Pro Gold Coast 2015, Snapper Rocks, Austrália.

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Filipe Toledo faz a festa da galera em Snapper Rocks, palco do Quiksilver Pro Gold Coast 2015. Foto: Bruno Sergole
 

Esperei o sangue esfriar um pouco, afinal eu poderia ser acusado de nepotismo, já que temos o mesmo sobrenome. Mas, acho que não funcionou. Filipe, você debulhou as ondas, foi o speed racer do século XXI! Assim como no QS em Maresias, do ano passado, esteve sempre um nível acima de seus adversários.

Só tenho que fazer uma ressalva aqui: exceto no round 1! Ali você notoriamente esteve aquém de Adriano e Dusty. Talvez um pouco nervoso por ser a estreia no ano, talvez ainda sem conexão com a prancha, ou mesmo sentindo a pressão da parede da onda com um tamanhozinho acima do limiar do qual se sobressai dos demais.
Fato de que o espancamento nos rounds subsequentes foi, sem sombra de dúvida, uma vitória incontestável, onde a cada golpe desferido na onda nocauteava o público, os juízes e os adversários.
O “medo” continua a ser esse Julian, eita garoto queridinho esse, como é que pode? Julgaram as suas ondas na bateria contra Miguel como se fosse uma Expression Session. Pode isso, produção? Sim, surfa muito, ninguém está questionando esse ponto, mas vira e mexe o erguem de fase, o que acaba complicando por muitas vezes alguns dos nossos guerreiros.
Enfim, bola pra frente porque temos muito mais a enaltecer desta vez.
Bom, imagine estrear na elite e já derrubar de cara o mito Slater? Sim, quem fez isso foi Ítalo Ferreira, “Ítalo what?”. Pois é, amigos, esse cara de Baía Formosa (RN) ainda deve chocar muitos, já que apresentou um estilo de surf diferente, ousado e veloz. Tenho certeza de que muito se falou nos bastidores sobre as finalizações de suas ondas, onde a rabeta costumou estar onde raramente está. Se conseguir imprimir um ritmo desse naipe em ondas mais volumosas, vai quebrar paradigmas e o livro de regras.
Guigui, maduro, sorriu na hora certa, espancou de backside com precisão, radicalidade e linha. Suas temporadas havaianas mostraram que seu surf não será somente nas esquerdas ocas, como muitos esperavam. Provavelmente seja o surfista brasileiro mais havaiano que já vimos surfar no Tour. Fez Parko amargar uma lavada na pontuação no quintal de sua casa, o que não é para qualquer um.
Sim, é só a primeira etapa, tanto para Ítalo, como para Wiggolly. Começaram como azarões, só para quem não conhece bem o surf dos rapazes, se não derraparem no ego, nervosismo ou seja lá o que for, se firmam no circuito.

O que falar de Medina? Curto e grosso: subestimou e tentou o jogo tático. Gabriel já fez isso ao sair da água antes da hora, já forçou interferência, já pegou muita onda debaixo do pico sem prioridade, etc. Sim, o campeão do mundo é um competidor, um estrategista, muitas vezes criticado como quem tem falta de fair play, mas, se não tiver controle do risco, vai perder pra si mesmo, como aconteceu em Snapper.

É a bola da vez, está sob todos os holofotes, tem que tomar mais cuidado na hora das entrevistas. Referência para muitas crianças e até para adultos, pode pegar mal o estilo “boca solta”. Particularmente gosto de quem vai pra frente dos veículos e fala o que quer, doa a quem doer, mas essa já é uma opinião minha, mas que profissionalmente pode atrapalhar bastante a imagem do atleta e até da “equipe” Brazilian Storm, pois ainda temos alguns muros para derrubar e muitos precisam muito mais de jeito do que força.

Falando em cartas, e pegando o trocadilho do excelente colega, Túlio Brandão, Adriano de Souza é realmente um coringa, permeia entre o carving e o revolucionário como poucos, se encaixa bem em todos os estilos, mesmo que seu estilo não seja lá seu grande trunfo. Sua velocidade e pressão das bordas, aliados à sua verticalidade e exposição de quilhas pra fora do lip, o tornam sempre um dos mais perigosos competidores do tour, só entra pra ganhar.

Miguel, de verdade, achei que no começo seria mais um daqueles campeonatos do “a volta dos que não foram”, mas me enganei, cresceu bateria após bateria, saltou do round 4 direto para as quartas-de-final e poderia muito bem ter feito a decisão contra Filipe. Mostrou sintonia e fez seu “balé” de backside estiloso do jeito que tem que ser.

 
Uma das vitimas de Miguel foi Jadson. Agora, galera, com esse nível e com essa quantidade de brasileiros, já não podemos mais dizer que foi “uma pena” dois brasileiros terem se enfrentado. Somos potência máxima no surf, iremos nos cruzar em fases iniciais, intermediárias e decisivas, isso é fato e não é de hoje. Vou até me policiar para não escrever esse tipo de “desculpa” e que vença o melhor.
Mas, que foco foi esse do Filipe, alguém me explica? Será que quando ele “viu” que as ondas não iam vingar ele pensou “daqui eu não saio, daqui ninguém me tira”? O cara esteve numa pegada tão over dos demais, que depois que deram um 8.40 para o Bede Durbidge nas quartas, dei até risada pensando “nossa, estão dando prêmio de consolação para pré-aposentados e acham que isso vai adiantar alguma coisa?”. 
Fala sério, né? Um freio de mão puxado daqueles do Bede, contra o espancamento ninja? Bate, rasga, inverte, voa, acelera, cacetada pra todo lado, será possível que essa juizada não surfa mais? E não estamos falando de onda que não é da série, ou quebra de linha, ou falta de estilo, etc e tal, como sei que muitos defendem o estilo dos mais estilosos. Filipe fez tudo isso com graça, sem tamanco na barata, linkou manobra e ainda tirou onda de club sanduich maker. Acho que aquele skate que fizeram o model pra ele (Holy Toledo), deu uma desenferrujada em sua cintura, seus carvings estão mais alinhados, seu bottom turn mais power e preciso. Bom, as manobras aéreas, essas ele já tinha brevê faz tempo.
Silvana também merece menção mais do que honrosa. Limou as adversárias e mostrou que pode dar muito trabalho novamente. As ondas pequenas e médias também favoreceram suas performances e agora será o tira-teima se merece se firmar no topo da elite.
Integrantes Brazilian Storm, vocês passaram como um tornado na cabeça da rapazeada em Gold Coast. Que agora, em Bells, mostremos (mais uma vez) que não somos somente os reis da marolagem. Pra cima deles, Brasil!
 
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